De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a umidade do ar ideal compreende a faixa entre 50% e 80%. Entretanto, em algumas épocas do ano, como no inverno, ela tende a cair, inclusive, abaixo de 30%. O inverno é um período marcado por temperaturas mais baixas, além da baixa umidade do ar, que fica mais seco. Geralmente, pessoas que têm doenças respiratórias sofrem com as vias aéreas ressecadas e têm maior dificuldade para respirar.

Nessa época, as pessoas ficam mais propensas a ter gripes e resfriados, porque costumam ficar em ambientes fechados e sem ventilação por muito tempo, devido ao frio. As regiões Centro-Oeste e Sudeste são, geralmente, as mais prejudicadas. Nestes estados, há um significativo aumento de buscas por atendimento médico, principalmente por pessoas alérgicas. Isso acontece porque as mucosas costumam ressecar e inflamar nestes períodos.

Em outras regiões, a baixa umidade também causa desconforto, mas algumas atitudes podem ajudar a diminuir os problemas causados pela falta de chuva. Segundo o Ministério da Saúde, a baixa umidade requer cuidados, principalmente com as pessoas que já têm ou tiveram sintomas de doenças do aparelho respiratório.

O ar seco que atinge várias cidades merece atenção, afinal, essa condição eleva a concentração de poluentes, e pode aumentar em 50% o risco cardíaco de pessoas com alguma vulnerabilidade, como comprometimento coronário. O risco aumenta porque para manter a pressão arterial com esses vasos dilatados, o coração precisa trabalhar e bater mais forte. Além do coração fazer mais esforço, os poluentes do ar promovem uma irritação no pulmão.

Para o cardiologista e clínico geral do HCor (Hospital do Coração), Dr. Abrão Cury, essa irritação é ruim, pois os brônquios ficam mais fechados. Quando isso acontece, os vasos também se fecham mais e o coração vai bombear contra um pulmão mais fechado, além de aumentar a resistência dos vasos. “A desidratação pelo ar seco também preocupa, pois quando a umidade do ar está baixa, o pulmão continua necessitando de um ar com 100% de saturação. É importante saber que a desidratação traz, também, outras consequências graves, como maior risco de trombose e sobrecarga ao coração. Com isso, o coração se vê obrigado a trabalhar mais depressa”, diz ele.

Tempo seco e atividade física: cuidado redobrado

De acordo com o pneumologista do HCor João Marcos Salge, os cuidados com a saúde começam sempre com uma boa hidratação e alimentação saudável. “Neste período é sempre importante a pessoa assumir uma alimentação saudável e se hidratar bastante. Outra dica é quando estiver em casa deixar o ambiente livre para a circulação de ar, bem limpo e sem a presença de objetos que acumulem poeira como cortinas, carpetes e bichos de pelúcia”, orienta Dr. Salge.

Com a queda da umidade, além do ar poluído, as vias aéreas ficam mais ressecadas, o que favorece a intensificação de problemas respiratórios. “Tanto ressecamento pode causar até sangramentos no nariz, mas uma boa dica para quem tem problemas respiratórios como rinite e sinusite é a utilização de soro fisiológico para hidratar as narinas. Além disso, algumas atitudes em casa ajudam a diminuir os transtornos como o uso de cortinas leves e que possam ser lavadas mais facilmente, a utilização de panos úmidos para a limpeza, evitando as vassouras, e a colocação de bacias com água em ambientes da casa”, explica o pneumologista do HCor.

Dr. Abrão Cury recomenda cautela ao praticar atividade física ao ar livre durante os dias com ar seco e grande concentração de poluição. “É preciso se hidratar mais do que o normal. O ideal é só praticar atividade ao ar livre antes das 8h e depois das 19h. Sem vento e chuva, as partículas de poluentes ficam de dois a cinco dias voando sem se depositar, e vão sendo transformadas pela radiação solar, gerando radicais livres. Outra dica é não correr e se exercitar próximo aos carros, pois os níveis de poluentes são muito mais altos nos corredores de tráfego, do que no meio das árvores de um parque”, esclarece.

Dicas para amenizar os desconfortos causados pela baixa umidade relativa do ar

  • Ingerir bastante líquido
    Espalhar panos ou baldes com água em ambientes da casa, principalmente no quarto, ao dormir, ou utilizar umidificadores de ar
  • Evitar grandes aglomerações
  • Evitar carpetes ou cortinas que acumulem poeiras
  • Evitar roupas e cobertores de lã ou com pelos
  • Evitar exposição prolongada à ambientes com ar condicionado
  • Manter a casa higienizada, arejada e ensolarada
  • Lavar nariz e olhos com soro fisiológico algumas vezes ao dia
  • Trocar comidas com muito sal ou condimentos por alimentos mais saudáveis
  • Evitar exercícios físicos entre 10 e 17 horas

Mais chance de crises de DPOC

Pacientes com doenças respiratórias crônicas, como asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), têm maior chance de ter crises, caracterizadas pelo agravamento dos sintomas e maiores chances de hospitalização e impactos na qualidade de vida. O diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Dr. Mauro Gomes, explica os principais sintomas da DPOC.

Cansaço excessivo, falta de ar, tosse frequente e catarro podem ser indícios da DPOC, caracterizada por duas patologias diferentes. A bronquite, que é inflamação dos brônquios, e o enfisema pulmonar, responsável pela destruição de células do pulmão”. A condição é causada principalmente pelo tabagismo e atinge pessoas acima de 50 anos, o que faz com que a DPOC tenha um diagnóstico difícil, uma vez que os sintomas são comumente confundidos com sinais de envelhecimento. “Muitos pacientes acreditam ser normal envelhecer com falta de ar e limitações na rotina e acabam demorando para procurar um pneumologista”, comenta o Dr. Mauro. Em 2010, o número de pacientes com a doença no Brasil era de cerca de 7 milhões, segundo o Ministério da Saúdei.

Gripes e resfriados são doenças que podem representar um perigo para o estado de saúde de pessoas que sofrem com doenças respiratórias crônicas. Isso ocorre porque elas causam impactos no sistema respiratório do paciente, como maior produção de catarro e coriza, que já é mais debilitado do que o de uma pessoa saudável. No caso dos pacientes com DPOC, os sintomas são agravados, porque essas doenças oportunistas fazem com que o organismo mobilize as células do sistema imunológico para combater essas doenças, fragilizando o paciente.

Para evitar essas maiores complicações, o Dr. Mauro Gomes reforça a importância do tratamento contínuo: “o uso de medicamentos broncodilatadores é importante para manter a doença sob controle. Um dos exemplos é o tiotrópio, que reduz o risco de exacerbações moderadas a graves da DPOC. Com o tratamento, os pacientes têm 16% de redução do risco de mortalidade”. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é a quarta principal causa de morte no Brasil e estima-se que até 2020 se torne a terceira. Além disso, o pneumologista reforça alguns cuidados simples e importantes durante o inverno, como: evitar fechar todas as janelas, deixando o ambiente arejado; manter o ambiente limpo; usar umidificador nos ambientes fechados, principalmente no quarto.

Além de acompanhamento médico e tratamento contínuo, o especialista dá outras dicas importantes para evitar grandes complicações devido à gripe e ao resfriado. “É importante manter uma alimentação equilibrada e participar das campanhas de vacinação contra a gripe, que costumam ocorrer durante o período”, explica o Dr. Mauro. Em pacientes com DPOC, a vacinação reduz a mortalidade em cerca de 70%ii“Por ser uma doença que afeta principalmente pessoas idosas, que tem o sistema imunológico mais fraco, é importante prevenir gripe e pneumonia”.

A prevenção das crises da DPOC é um cuidado essencial e contínuo na vida dos pacientes. O pneumologista evidencia que muitos pacientes não seguem uma rotina de tratamento e têm impactos no dia a dia, com limitações na respiração e nas atividades básicas. “Pessoas que apresentam doenças crônicas e suas famílias devem estar atentos aos sinais de piora e precisam procurar um médico para realizar tratamento contínuo e ter mais qualidade de vida. Além disso, deve-se evitar a exposição a mudanças de temperatura e o contato com fumaça de cigarro, poluição e outros fatores agravantes”, finaliza o especialista.

De acordo com o GOLD (Iniciativa Global de DPOC) é importante que pessoas que fazem parte do grupo de risco fiquem atentos aos sintomas e, caso haja suspeita, procurem um pneumologista imediatamente para iniciar tratamento que desacelera a progressão da doença. Existem 5 perguntas básicas que ajudam a identificar pacientes que podem ter a doença:

  • Ter mais de 40 anos;
  • Fumante ou ex-fumante;
  • Tosse frequente;
  • Expectoração ou “catarro” constante;
  • Cansaço ou falta de ar ao fazer esforço, como subir escadas ou caminhar.
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