Lipedema é uma condição associada à inflamação crônica, principalmente nas áreas afetadas pelo acúmulo de gordura, como as pernas e os braços, que causa dor, inchaço e sensibilidade na área afetada. Ganha mais evidência à medida que mais mulheres compartilham suas histórias nas redes, como recentemente aconteceu com a modelo Yasmin Brunet.

Além de crônico, o lipedema é uma doença progressiva, isto quer dizer que vai aumentando com o passar dos anos. Quem tem Lipedema estágio 1 pode passar para o nível 2, 3 e assim por diante, se não se cuidar. Por isso, é fundamental e necessário que as 10 milhões de mulheres (estimativa de casos no Brasil) cuidem da saúde do corpo de dentro para fora.

Yasmin Brunet, modelo e influenciadora digital, compartilhou no Programa Fantástico os detalhes de sua jornada de combate ao lipedema, uma condição crônica que afeta um número significativo de mulheres ao redor do mundo. Com uma abordagem focada em tratamentos, alimentação anti-inflamatória e prática de exercícios físicos, Yasmin tem trabalhado para aliviar os sintomas e melhorar sua qualidade de vida.

O tratamento para o lipedema é multidisciplinar e pode envolver profissionais de diferentes áreas da saúde, como cirurgião vascular, dermatologista, nutricionista, fisioterapeuta e até psicólogo. A nutricionista Amanda Figueiredo e a dermatologista Maria Paula Del Nero explicam como uma abordagem focada em tratamentos dermatológicos e uma alimentação anti-inflamatória atuam no alívio dos sintomas e na melhora da qualidade de vida.

O lipedema é uma condição caracterizada pela distribuição desigual de gordura no corpo, que se acumula, principalmente, nas pernas, coxas e quadris”, explica Amanda Figueiredo, nutricionista clínica pela USP e pós-graduada em saúde da mulher e reprodução humana pela PUC.

De acordo com Maria Paula Del Nero, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), os primeiros sinais do lipedema podem ser confundidos com celulite, mas incluem:

  1. Acúmulo de gordura desproporcional nas pernas;
  2. Sensação de peso nas pernas;
  3. Presença frequente de hematomas;
  4. Edema que não melhora com a elevação das pernas;
  5. Dor nas pernas ao toque.

Embora o lipedema seja uma condição crônica frequentemente ignorada, a combinação de tratamentos dermatológicos, atividades físicas e uma dieta anti-inflamatória pode proporcionar alívio significativo para quem sofre dessa doença. Falando da alimentação ideal, Amanda Figueiredo explica que seguir uma dieta anti-inflamatória, focada na eliminação de alimentos que provocam inflamação, como açúcares refinados, gorduras trans e alimentos processados, é essencial.

Ao tratar pacientes com lipedema, vejo excelentes resultados com uma abordagem baseada na dieta mediterrânea, rica em gorduras saudáveis, carnes magras, frutas, legumes, azeite e cereais integrais. Além disso, chás anti-inflamatórios como cavalinha, hibisco e gengibre, assim como a ingestão de colágeno, vitaminas C e A e prebióticos, também fazem parte da rotina da modelo”, afirma a nutricionista. “A hidratação adequada e o uso de especiarias anti-inflamatórias, como a cúrcuma, também são componentes chave dessa dieta. A restrição ao consumo de bebidas alcoólicas e produtos industrializados é fundamental para otimizar os resultados”.

A dermatologista Maria Paula Del Nero complementa que, hoje existem vários tratamentos voltados à melhora do lipedema. “Lembrando que é uma condição crônica e o tratamento exige manutenção”, reforça. Assim, de acordo com a médica, diversos tratamentos e tecnologias podem aliviar os sintomas e melhorar a aparência da pele. Como:

  • Fotona protocolo exclusivo LIPEDEMA XTREME: protocolo de tratamentos que utiliza o laser Fotona para reduzir o acúmulo de gordura e melhorar o contorno corporal. Cada ponteira e cada modo de entrega penetra na pele trazendo resultados já na primeira sessão.
  • Unique Pro: Tecnologia de criofrequência com radiofrequência e drenagem mecânica.
  • Endolaser: Laser de fibra óptica que trata gordura e flacidez.
  • Morpheus: Radiofrequência microagulhada para melhorar o aspecto da casca de laranja.
  • Drenagem Linfática: Técnica específica de massagem que auxilia na redução do inchaço e da dor. Um dos tratamentos mais eficazes para aliviar os sintomas do lipedema, proporcionando alívio da dor e da sensação de peso nas pernas.
  • Intradermoterapia: Aplicação de ativos drenantes na pele.

Ambas as profissionais concordam que os tratamentos para lipedema exigem uma abordagem contínua, com a combinação de medicação, fisioterapia, dieta e atividades físicas. A prática de exercícios de baixo impacto, como hidroginástica, é altamente recomendada, assim como o uso de meias compressivas, que proporcionam alívio e maior conforto ao paciente.

A fisioterapia também é fundamental, com a drenagem linfática e a compressão elástica ajudando a aliviar os sintomas. A alimentação deve ser cuidadosamente planejada, com foco em dietas anti-inflamatórias e de baixo índice glicêmico, para evitar a resistência à insulina e melhorar a retenção hídrica.

Os benefícios de alguns suplementos

O que consumir para evitar isto? Suplementação ajuda ou atrapalha? Para quem tem esta doença, não existe qualidade de vida sem uma alimentação controlada para evitar a inflamação no corpo

Nos últimos 20 anos, houve um aumento nas vendas e no consumo de suplementos em todo o mundo. O uso indiscriminado, a automedicação, os efeitos colaterais e os resultados negativos são algumas das consequências do mal uso.
Menos é mais na suplementação. E, antes de tudo, é importante entender que suplemento é complemento. Isto significa que ele não substitui o alimento e sim o potencializa”, comenta a especialista do Instituto Lipedema Brasil, Thais Guisso.
Não há cura para o lipedema, mas os suplementos podem desempenhar papéis importantes para quem tem a condição como: aliviar os sinais, sintomas e aspectos, reduzir a inflamação e dor, melhorar a circulação, promover saúde vascular e apoiar o metabolismo lipídico.
Ainda não existe na literatura específica um suplemento que atue de maneira direta na gordura lipedêmica, mas eles agem indiretamente”, finaliza Guisso
Segundo estudo recente da Acta Scientific Nutrional Health, de novembro de 2020, existe uma relação entre nutrição e lipedema, que pode ser bastante positiva através de alguns suplementos como: Ômega 3, Vitamina C, aminoácido N-acetil L-cisteína (NAC), Polifenóis e Diosmin.

Cada mulher com lipedema apresenta características únicas, incluindo o grau da condição, o histórico de saúde e os objetivos individuais. Portanto, a abordagem da suplementação deve ser personalizada, considerando as necessidades e as particularidades de cada paciente”, diz a nutricionista da Prime Care Medical Complex, Lauren Nassur. “É importante ressaltar que a suplementação deve ser orientada de forma responsável e criteriosa para garantir sua segurança e eficácia”.

A dermatologista Elisete Crocco, coordenadora do setor de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Cosmiatria, conta que o tratamento é baseado, a princípio em dieta, prática de esportes de baixo impacto como natação, por exemplo, que amenizam as dores causadas pela doença, melhorar a vascularização do local e em casos mais graves fazer lipoaspiração para tirar excesso de tecido. No entanto, muitas pacientes acabam optando, por falta de conhecimento, apenas pelo método cirúrgico, por meio de lipoaspiração.

A dermatologista Elisete Crocco explica que o lipedema tem vários níveis e alguns necessitam de cirurgia. “São células de gorduras doentes. Uma das grandes preocupações da doença é a dor que muitas vezes são insuportáveis e atrapalham na rotina da mulher. Dor para caminhar, correr, atrapalha na rotina”, explica dra. Elisete.

Segundo ela, o lipedema é uma doença que geralmente surge na adolescência, mas que pode aparecer em qualquer idade. Essa condição pode levar a dor e desconfortos físicos e estéticos e não existe ainda uma causa definida para o lipedema: “É uma deficiência genética, ninguém sabe como acontece. É um grande desafio para o paciente e para o dermatologista”.

É uma distribuição de gordura diferente, com processos inflamatórios, em geral que tem pouca vascularização, falta oxigenação nesse tecido gorduroso e com isso cria uma certa distribuição exagerada nas regiões dos glúteos, pernas, quadril, bumbum. O mal é menos comum nos braços. Costuma ser muito doloroso. Ate mulheres magras podem ter”, explica.

Relação com os hormônios

A endocrinologista Juliana Bicca, que esteve no Simpósio Internacional de Cirurgia Endovascular – Science 2025, acrescentou que o tratamento do lipedema deve levar em consideração a metabolização hormonal distinta do tecido adiposo. “O tecido adiposo no lipedema não apenas armazena gordura, mas também funciona como uma unidade de produção hormonal, o que impacta a metabolização hormonal local”, explica.

Ela destacou que as mulheres com lipedema frequentemente enfrentam irregularidades menstruais e condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), tornando o tratamento hormonal uma abordagem eficaz para aliviar sintomas como dor e inchaço.

O 2º Fórum Brasileiro de Lipedema para Pacientes, promovido pela ONG Movimento Lipedema, reuniu dezenas de mulheres de diferentes regiões do país. Pela primeira vez, o evento foi realizado dentro do Simpósio Science.

Desde 2019, venho trabalhando para que o Lipedema seja reconhecido e tratado com seriedade. Mas nada disso teria sentido sem a decisão delas de aderirem ao tratamento. A adesão é o que transforma conhecimento em resultado real”, comenta a farmacêutica e presidente da ONG Movimento Lipedema, Gabriela Pereira, que também é portadora da condição.

Leaky gut e disbiose – o que tem a ver com lipedema?

A inflamação sistêmica, a disbiose intestinal e o leaky gut (intestino permeável) parecem desempenhar papéis importantes na progressão e no manejo do lipedema, segundo estudos preliminares. Abordagens que envolvem a melhoria da saúde intestinal, como dietas anti-inflamatórias e tratamentos para restaurar a microbiota intestinal, por exemplo, podem ser úteis no lipedema.

O tratamento do lipedema pode ser clínico ou cirúrgico, mas sempre envolve uma abordagem multidisciplinar, focada em aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir a progressão da doença. E isto só é possível com a junção de diversas especialidades como fisioterapeuta, nutricionista, vascular, endocrinologista, ginecologista, até cirurgião plástico.

Para o cirurgião vascular e um dos principais especialistas no tratamento clínico da doença no país, Vitor Cervantes Gornati, “a escolha do tratamento ideal depende do grau de comprometimento da condição e das necessidades individuais de cada paciente, mas hoje já temos à disposição diversas frentes, inclusive terapêuticas, para tratar a doença”, comenta.

O tema foi tratado durante o Lipedema International Symposium, realizado em abril em São Paulo dentro da nona edição do ScIENCE, que reuniu alguns dos principais especialistas nacionais e internacionais para discutir descobertas científicas em cirurgia vascular.

Durante o evento, especialistas discutiram uma nova abordagem integrada e multidisciplinar para o tratamento do lipedema. O evento, que reuniu profissionais de saúde nacionais e internacionais de diferentes áreas, trouxe à tona a complexidade dessa condição, muitas vezes mal compreendida, e destacou a importância de um tratamento que aborde todos os aspectos sistêmicos que afetam a saúde da paciente.

Entre os temas discutidos estavam Disfunção linfática no lipedema; Como preparar o paciente para a cirurgia, do ponto de vista nutricional?; Intestino permeável e inflamação sistêmica: o papel dos metabólitos microbianos; Restaurando o Equilíbrio Intestinal: estratégias para tratar a Disbiose e o Intestino Permeável; Fibrose no Lipedema: Detecção, Prevenção e Reversão; Biomecânica e Lipedema: Os Impactos Ortopédicos da Distribuição Alterada de Peso, e Alterações na pele no lipedema – como lidar?.

Lipedema tem quatro estágios

O diretor do Instituto Lipedema Brasil,  Fábio Kamamoto, um dos pioneiros e um dos poucos especialistas no tratamento cirúrgico da doença no país, esclarece que o Lipedema é uma doença atinge mulheres no mundo inteiro, causada pelo acúmulo de gordura nos braços, quadris e, principalmente, nas pernas.

As principais características do Lipedema, que possui quatro estágios são: dores frequentes nas regiões das pernas, quadril, braços e antebraços, que ficam mais grossos e desproporcionais em comparação com o restante do corpo, no tornozelo parece que há um “garrote” e os joelhos perdem o contorno.
A mulher pode apresentar hematomas (ficar roxa) por qualquer movimento mais brusco. Isto acontece porque a doença provoca reação inflamatória em células de gordura nestas regiões.
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