Corações, flores, jantares românticos e muitas declarações nas redes sociais. O Dia dos Namorados, comemorado em 12 de junho, costuma exaltar o amor a dois, mas também pode despertar sentimentos de frustração e solidão em quem está solteiro. Para muitos solteiros, esta época pode ser um desafio emocional significativo.
Diante de uma cultura que valoriza relacionamentos como metas de realização pessoal, muitos se sentem pressionados a “encontrar alguém” ou formar uma família, como se a felicidade dependesse exclusivamente disso.
Geovani Santiago, coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, alerta que a data pode provocar sentimentos de solidão, ansiedade, estresse, baixa autoestima e depressão nas pessoas solteiras, exacerbados pela pressão social ou familiar para estar em um relacionamento.
Uma pesquisa revelou que 40% dos solteiros sentem-se pressionados a encontrar um parceiro, com um aumento significativo dessa pressão durante o período de comemorações românticas”, destaca o psicólogo.
Comparações com casais felizes podem resultar em sentimentos de inadequação e baixa autoestima. Um estudo conduzido pela American Psychological Association aponta que 27% dos solteiros experimentam uma queda na autoestima durante o Dia dos Namorados.
O Dia dos Namorados não precisa ser uma data dolorosa para os solteiros, estes podem aproveitar a data para celebrar o amor-próprio, as conexões com amigos e familiares, e encarar como um momento para focar em si mesmo e nas relações significativas que já existem pode transformar um potencial fonte de estresse em uma ocasião de crescimento pessoal”, finaliza o professor.
Para o médium especialista em relacionamentos Henri Fesa, essa pressão invisível pode afetar diretamente a autoestima e minar a confiança para viver relacionamentos saudáveis.
As pessoas começam a acreditar que estão atrasadas na vida só porque não têm um relacionamento. Mas estar solteiro não é um problema: é uma fase valiosa, de amadurecimento e autoconhecimento. A dor nasce da comparação e da expectativa de seguir um roteiro que não seja, necessariamente, para esse momento”, afirma
Como cuidar da autoestima e ressignificar a data
Especialista explica como lidar com a pressão social e transformar o 12 de junho em um momento de autocuidado e liberdade emocional
É nesse ponto que o Dia dos Namorados pode ser ressignificado: em vez de ser sobre o outro, pode ser sobre você. Um convite para olhar para si com carinho e cultivar o amor-próprio, que é a base de todos os outros amores.
Quando você fortalece o vínculo consigo, naturalmente se abre para relações mais verdadeiras, seja um novo relacionamento ou até mesmo uma reconexão com quem já fez parte da sua história”, explica Fesa.
Entre as formas de celebrar esse amor interno, o especialista recomenda práticas simples e simbólicas: sair com amigos, fazer algo prazeroso, escrever uma carta de afeto para si mesmo ou dar um presente – não como fuga, mas como celebração. “O mais importante é entender que estar só também é estar inteiro. Pressa e pressão só afastam a possibilidade de um encontro genuíno”, reforça.
O 12 de junho pode, sim, continuar sendo uma data de amor, mas não precisa ser exclusiva dos casais. Pode ser o momento ideal para rever padrões, agradecer pelas experiências que passaram e abrir espaço para vínculos mais conscientes e leves.
O amor que você oferece a si é a base dos outros amores. Quando essa base é sólida, qualquer relação que vier será fruto de uma escolha, e não de uma carência”, conclui o especialista em relacionamentos.
Dicas para driblar as emoções
Para ajudar os solteiros a enfrentarem os impactos emocionais dessa data, o professor de Psicologia Geovani Santiago elencou algumas dicas para driblar as emoções e manter o bem-estar:
– Autocuidado: Priorizar atividades que promovam o bem-estar físico e emocional, como exercícios, alimentação saudável, e práticas de relaxamento como meditação e yoga neste dia.
– Conexão social: Cultivar conexões sociais significativas com amigos e familiares pode ajudar a mitigar sentimentos de solidão. Planejar encontros neste dia ou chamadas de vídeo pode ser uma boa alternativa.
– Atividades prazerosas: Envolver-se em hobbies e atividades que tragam alegria e satisfação pode distrair a mente de pensamentos negativos e proporcionar uma sensação de realização.
– Buscar ajuda profissional: Caso os sentimentos de tristeza e solidão sejam intensos e persistentes, procurar ajuda de um profissional de saúde mental pode ser extremamente benéfico.
Palavra de Especialista
Solteira sim, e daí?*
Por Lelah Monteiro*
A inspiração para esse artigo veio de uma conversa que ouvi outro dia numa cafeteria. Na mesa ao lado, um grupo de amigas papeava animadamente. Impossível não ouvir o que falavam: maridos, namorados, crushs, paixões e desilusões. Num dado momento, entre risadas, uma delas disse:
– Nossa, será que eu nunca vou casar e ser feliz?
A frase me surpreendeu. Desde quando casamento virou passaporte para a felicidade? Há situações, inclusive, que acontece justamente o contrário. Como terapeuta de casais, vejo diariamente em meu consultório pessoas infelizes, com vínculos de fachada dos quais não conseguem se libertar.
Os relacionamentos se tornaram mais um status social do que um “relacionar-se” verdadeiro.
Chamo atenção aqui, como psicoterapeuta e psicanalista, para a importância de aprendermos a nos relacionar. O estado civil pouco importa. Mas o relacionar-se e estar bem com suas escolhas, essa sim, é uma arte. E ajudar quem ainda não consegue fazer isso é minha missão como profissional.
Vivemos numa época em que a solteirice não é mais vista como uma “tragédia” na vida de ninguém. Lembra daquelas frases de nossas avós, bisavós – que todos nós já ouvimos -, carregadas de preconceito?
– Fulano é um solteirão, fulana ficou para titia. Algum problema eles têm.
Hoje podemos falar:
– Sim, solteirão e/ou solteirona, por total escolha e muito feliz, tá?
A primeira lição para buscar a felicidade é que aprendamos a nos relacionar bem com nós mesmos. Estando “de boas” com nossos desejos, valores, sonhos, estaremos bem para dividir a vida com alguém. Ou não dividir, se for essa a nossa escolha.
Além disso, solteirice não quer dizer estar desacompanhado. Não quer dizer solidão. Hoje, muitas pessoas, depois de vários relacionamentos (sejam casamentos formais ou uniões estáveis) optam por não assumir mais nenhum compromisso. Buscam apenas ter uma boa companhia.
– Eu me basto, e tá tudo bem. Tenho amigos, tenho aquele ficante, aquele “PA” que é maravilhoso… Escolhi essa vida, desse jeito, e estou nela inteira.
A metade da laranja? Chega disso! Nós somos pessoas inteiras que podemos estar ou não com alguém.
Não espere por um casamento nem por ninguém para ser feliz. Seja feliz agora. Celebre a vida.
Quem está bem consigo mesmo nunca está sozinho.
(*) no título usei “solteira”, no feminino, porque a frase que serviu de insight para eu escrever esse texto foi de uma mulher. Mas vale pra todo mundo, viu?
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*Psicanalista, terapeuta de família e de casais, sexóloga e fisioterapeuta pélvica (www.lelahmonteiro.com.br). Atua em seu consultório em Perdizes (São Paulo, SP) Ministra palestras em empresas, escolas e outras organizações sobre relacionamento, comportamento, diversidade, assédio x segurança afetiva e sexual etc. É colunista e colaboradora de revistas, programas de rádio e TV com pautas relacionadas a comportamento, relacionamento, saúde, qualidade de vida e sexualidade. Atualmente comanda o quadro “Terapia em Família”, todas as quartas-feiras, a partir das 15h, no programa Expresso Capital, na Rádio Capital AM/FM e plataformas digitais @capitalcomvoce.