Por Jorge Jaber*
Todo ano, cerca de 12 mil pessoas cometem suicídio no Brasil, e pelo menos 120 mil tentam o mesmo. O problema está mais perto do que se imagina. Em 100 brasileiros, 17 já pensaram em tirar a própria vida, cinco planejaram, três executaram o plano e um foi salvo numa emergência hospitalar. Ao contrário da tendência mundial, a taxa no país subiu: em 2010, era de 5,7 casos por 100 mil habitantes, contra 6,1 em 2016.
A boa notícia é que, segundo a Organização Mundial da Saúde, nove em cada 10 casos podem ser evitados. Esse é o objetivo da campanha Setembro Amarelo, criada em 2015 para jogar luz sobre o assunto, normalmente tratado como tabu pela sociedade em geral.
O primeiro passo é identificar os grupos de risco. Quase 100% dos suicidas têm algum problema psiquiátrico, como transtornos de humor e personalidade, depressão e esquizofrenia, além dos provocados pelo uso de substâncias psicoativas. Essas pessoas, mesmo sem demonstrar qualquer tendência a um ato extremo, precisam de atenção e ajuda profissional permanentes.
O suicida em potencial emite sinais. O mais claro é o verbal. Pessoas sob risco costumam falar mais do que o normal sobre morte, ou se mostram sem esperança e com baixa autoestima. Frases como “quero sumir” e “vou deixar vocês em paz”, entre outras, são comuns. Mesmo em silêncio, elas deixam pistas: alterações no humor e no comportamento, uso abusivo de álcool ou drogas, tendência ao isolamento e perda de sono ou apetite.
Detectado o risco, é hora de agir. Uma boa conversa ajuda muito. Mais do que falar, é preciso escutar. A pessoa em crise não quer necessariamente se matar, mas resolver um problema que parece insolúvel. Demonstre interesse, não discorde. Acolha, mostre que há organizações de apoio, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende gratuitamente, com sigilo total, pelo telefone 188 ou pelo próprio site: www.cvv.org.br, 24 horas por dia.
O suicídio é uma tragédia cotidiana e muitas vezes silenciosa, mas com informação e prevenção reduziremos seu impacto. O combate está ao alcance de todos.
Jorge Jaber é psiquiatra, formado pela UERJ com especialização em Harvard, e membro da Academia Nacional de Medicina.