Por Miriam Pontes de Faria*

O Setembro Amarelo é uma data para conscientização e prevenção ao suicídio, um tema ainda velado em nossa cultura. Enquanto evitamos falar sobre isso, pessoas estão morrendo e deixando nos seus familiares um sofrimento profundo de impotência e culpa, além do luto pelo ente querido.

Estatísticas mostram que a maior parte dos suicídios está entre os jovens, sendo 80% do sexo masculino. As causas são complexas, mas a depressão é uma das principais, principalmente se acompanhada de doenças mentais e/ou dependência de drogas.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que há um número crescente e preocupante de pessoas sofrendo com depressão: são 322 milhões no mundo e no Brasil já ultrapassa os 11 milhões.

Será a depressão o “mal estar da atualidade”? Certamente, quem atua na área da saúde mental sabe que a procura por tratamento com queixa de depressão vem aumentando significativamente, principalmente depois da pandemia.

São parentes desesperados que entram em contato conosco todos os dias, sem saber o que fazer com jovens que não querem sair do quarto, que passam o dia do computador e não se afastam nem para se alimentar – rapazes e moças com práticas de automutilação.

Apesar do grande preconceito, depressão não é frescura, nem preguiça. É uma doença séria e incapacitante. Se caracteriza pela incapacidade sentir prazer. Quando a pessoa está apresentando um quadro depressivo, ela perde a vontade de fazer as tarefas que antes eram prazerosas para ela, ou continua a fazer de forma mecânica, até compulsiva, sem a alegria de antes.

Na depressão é muito comum a pessoa ter pensamentos negativos, se irritar com facilidade, botar defeito em tudo e todos. Com o agravamento do quadro aparecem as ideias de morte. Começa a achar que ela própria ou outras pessoas podem morrer de acidentes ou doenças, para, em seguida, começar a pensar na própria morte, as vezes com planejamentos minuciosos, a chamada “ideação suicida”.

São pensamentos constantes e automáticos que invadem a mente da pessoa causando um sofrimento mental torturante. Nestes casos, é importante procurar ajuda psiquiátrica e psicológica, pois já existe uma alteração bioquímica e é urgente o uso de medicação psiquiátrica.

Todos somos capazes de salvar vidas. Juntos e unidos podemos ajudar no combate ao suicídio, mas é importante saber o que falar para não aumentar ainda mais a dor e angústia daquele que sofre. Não devemos julgar ou criticar a pessoa que se encontra em sofrimento, não está assim porque quer, ela está doente emocionalmente.

É antinatural tirar a própria vida, na verdade ninguém quer morrer. Para alguém chegar nesse ponto é porque está vivenciando um enorme sofrimento e, no momento de maior desespero, acaba procurando no suicídio, um alívio.

Aliados na prevenção do suicídio

Para prevenir o suicídio, temos vários aliados, são eles:

A família – Neste período de risco, a família pode ter um papel muito importante. Assim que perceber que a pessoa está muito isolada, se irrita com facilidade, negligencia seus autocuidados, como tomar banho, escovar os dentes, cuidar da aparência, ou outros comportamentos alterados, pode tentar um diálogo e deixar a pessoa falar. Ouvir sem crítica pode fazer a pessoa se sentir acolhida e, nesta conversa, propor um tratamento fica mais fácil.

Os relacionamentos afetivos – Nesses momentos é fundamental não se sentir sozinho. Os amigos, cônjuges, namorado(a)s podem ajudar ouvindo o sofrimento sem julgamento de valor e orientar a procurar ajuda profissional.

A escola – O jovem geralmente passa muitas horas na escola, por isso muitas vezes é um profissional de educação que vai conseguir observar algum comportamento diferente. Que vai fazer a primeira abordagem, a primeira conversa, e alertar a família que, ou não se deu conta da gravidade, ou ainda não percebeu os sintomas.

Um bicho de estimação – Relatos de pacientes mostram que muitas vezes, um cachorro, um gato, ou outro animal de estimação, pode ser um grande aliado no combate ao suicídio. São eles que em momentos de desespero ficam perto da pessoa. O amor é contagiante e promove uma reconexão com a vida.

Centro de Valorização da Vida – CVV – Através do telefone 188, esse serviço funciona 24 horas por dia. Os atendentes são treinados a acolher e entender o que está se passando com a pessoa sem julgamento de valor, o que promove um alívio do sofrimento e abre a possibilidade de aceitar ajuda de profissionais especializados.

Os profissionais de saúde – Buscar ajuda de especialistas como médicos psiquiatras e psicólogos, para iniciar medicação e, em paralelo, trabalhar as questões emocionais envolvidas no sofrimento.

Fiquem de olho em vocês e em pessoas a sua volta. Cada um de nós pode salvar vidas. Lembrem-se: A VIDA é o nosso BEM MAIOR. Nós, os profissionais de saúde, em especial os psicólogos, estamos abertos para acolher aqueles que sofrem e, junto com os familiares, ajudar a pessoa que sofre.

Miriam Pontes de Farias

Psicóloga (CRP 05/25815), pós-graduada em Hipnose Clínica, professora, conferencista internacional, palestrante, coordenadora e supervisora de grupos há mais de 20 anos. Foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH) e ministra cursos de Hipnose Clínica, Regressão de Memória e Auto-hipnose.

Contatos: miriam.psi.hipnose@gmail.com / facebook.com/AHipnose / Instagram: @miriam.psi.hipnose /www.miriamhipnose.com.br Tel.: (21) 99221-8462 (WhatsApp)

Miriam escreve para a seção ‘Palavra de Especialista’ uma vez por mês, aos sábados. Contatos: palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

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