No dia 13 de setembro, o mundo volta os olhos para uma realidade assustadora: a sepse, condição em que o organismo reage de maneira adversa a uma infecção, causando danos graves que podem levar à morte. Antigamente conhecida como “infecção generalizada”, esta é a maior causa de morte evitável do mundo e uma das que mais matam globalmente: são 11 milhões de vítimas por ano, uma a cada cinco mortes em todo o mundo, segundo  dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, a situação é alarmante. A sepse afeta cerca de 670 mil pessoas por ano no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. O país apresenta uma das maiores taxas de mortalidade por sepse no mundo, sendo aproximadamente 240 mil pessoas anualmente. O Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) enfatiza que a sepse, além de ser a principal causa de mortes hospitalares tardias, supera o infarto do miocárdio e o câncer, em termos de mortalidade.

A mortalidade atinge 65% dos casos no Brasil, enquanto a média global varia entre 30% e 40%. A taxa de letalidade atinge 24,4% em casos de sepse e 55,7% em caso de choque séptico, quando a sepse é acompanhada por uma queda muito intensa da pressão arterial do paciente e outras anormalidades celulares e metabólicas. Os dados referem-se ao ano de 2022 e foram fornecidos por hospitais brasileiros. Além de liderar as estatísticas de óbitos e readmissões hospitalares,  a sepse gera altos custos para o sistema de saúde.

80% da população desconhecem doença que mais mata nas UTIs brasileiras

A sepse é a principal causadora de mortes dentro das unidades de tratamento intensivo (UTIs), em pacientes com doenças não fatais. Um processo infeccioso pode apresentar desfechos graves, assumindo o triste posto de principal causa de mortes nas unidades de tratamento intensivo (UTIs). A pandemia de Covid-19 agravou ainda mais essa problemática dentro dos hospitais.  Mas a sepse não discrimina, atingindo tanto pacientes internados quanto aqueles atendidos em serviços de urgência e emergência.

Apesar dos efeitos devastadores, a sepse é desconhecida por mais de 80% da população brasileira. Por isso, este Dia Mundial da Sepse tem uma mensagem central clara: conscientizar que esta é uma ameaça que pode afetar qualquer um, mas a conscientização, prevenção e ação rápida podem salvar vidas. A data tem como missão sensibilizar, tanto profissionais de saúde quanto o público leigo, sobre a urgência do reconhecimento e tratamento dessa condição que, a cada hora, pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

Estabelecido pela Aliança Global da Sepse, o Dia Mundial de Combate à Sepse foi instituído para que o assunto seja tratado com a seriedade e o cuidado que a condição exige. A data busca conscientizar a população sobre essa síndrome e as medidas para o diagnóstico precoce e tratamento.  Um dos principais alertas é para que os profissionais de saúde estejam atentos e possam fazer o diagnóstico o mais breve possível. Isso aumenta consideravelmente as chances de cura, pois quanto antes forem administrados medicamentos, menor será o risco para o paciente.

No Hospital Regional de Marabá o Protocolo de Sepse reforça a segurança do paciente (Fotos: Divulgação)

Qualquer tipo de infecção pode causar sepse

A sepse é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. A enfermidade é uma emergência médica em que o corpo reage de maneira exacerbada a uma infecção, desencadeando uma série de eventos que podem resultar na morte do paciente se não for tratada de forma rápida.

Pode ser considerada sepse qualquer tipo de infecção que cause algum mau funcionamento de um órgão ou sistema do corpo humano. Ela ocorre quando o sistema de defesa – para se proteger de uma infecção – acaba espalhando a infecção por diferentes partes do corpo, contaminando todo o organismo.

A grande dificuldade é que a essa condição normalmente é silenciosa. Ela ocorre em pacientes que estão internados com alguma enfermidade, mas também pode afetar pessoas que estão com infecções e ainda não foram avaliadas por profissionais da saúde.

De acordo com Danilo Duarte, infectologista e superintendente médico do Hospital Regional de Jundiaí, qualquer tipo de infecção pode causar sepse. “As mais comuns são aquelas infecções cujo agente causal são as bactérias, como pneumonia e infecção urinária, mas qualquer outro agente infeccioso pode causar sepse”, diz.

No Hospital Regional de Marabá o Protocolo de Sepse reforça a segurança do paciente (Fotos: Divulgação)

Idosos e crianças são  os mais vulneráveis

Franciny Gastaldi, infectologista da Rede Mater Dei Uberlândia, destaca a necessidade urgente de conscientização: “A sepse afeta qualquer pessoa com infecção, mas os grupos de risco incluem aqueles em extremos de idade ou com condições que comprometem sua resposta imunológica. O acompanhamento regular de problemas de saúde, especialmente os crônicos, é fundamental para a prevenção”, explica.

“Qualquer pessoa tem risco de adquirir sepse, mas os perfis mais vulneráveis são os idosos acima de 65 anos, as crianças, principalmente menores de um ano, e os pacientes que têm algum grau de deficiência imunitária (imunossupressão), que os transplantados, em quimioterapia ou aqueles com infecção pelo HIV, que possuem a imunidade mais comprometida”, completa o Dr. Duarte.

A enfermeira Thaynnah Leal, que atua no Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), em Marabá, explica que a sepse é uma condição que pode atingir qualquer indivíduo, independentemente de sua idade ou histórico de saúde. “Os sintomas iniciais podem ser sutis, como febre, frequência cardíaca elevada e dificuldade respiratória, o que torna a identificação precoce ainda mais crucial”, destacou.

Principais sintomas da sepse: como diagnosticar

Os sintomas variam com a gravidade do quadro, mas podem se manifestar como febre, coração acelerado, pressão baixa, confusão mental e fraqueza extrema, entre outros. Tudo depende do grau de comprometimento do corpo. Um dos principais desafios para profissionais de saúde é a identificação precoce da sepse, uma vez que seus sintomas podem ser sutis no início e evoluir rapidamente, sem tratamento adequado. Caso a doença não seja diagnosticada e tratada rapidamente, a infecção pode se espalhar pelo organismo e até levar à morte.

“O paciente pode apresentar febre, diminuição da frequência respiratória, perda da consciência e pressão sanguínea um pouco mais baixa. Esses sintomas nem sempre são percebidos pelo paciente. Portanto, é essencial que o profissional de saúde esteja atento e solicite exames completos para uma análise eficaz”, explica a infectologista Viviane Hessel, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar dos Hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru.

Dentro dos hospitais, a orientação para médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e toda a equipe que têm contato com pacientes é avaliar constantemente os sinais vitais, como pressão arterial, frequência respiratória, frequência cardíaca e temperatura. Também é necessário observar a alteração da consciência.

Desospitalização é recomendada pela OMS

Retirar o paciente do ambiente hospitalar diminui os riscos de infecção e promove uma melhor qualidade de vida. Portanto, a desospitalização e a continuidade do tratamento diretamente em casa são recomendadas pela OMS.

Quanto menor for o tempo de internamento, melhor. Esta é a regra que orienta o trabalho dos profissionais de saúde ao desospitalizarem pacientes que já estão em condições de alta, mas permanecem internados para a administração de antibióticos.  Essa recomendação não depende apenas da vontade do paciente, mas, sim, de uma indicação médica, especialmente quando se trata de pacientes crônicos.

“Quando o paciente é liberado para voltar para casa mais cedo, há menos risco de complicações e ele fica mais próximo da família”, explica o médico infectologista do Hospital Universitário Cajuru, Felipe Tuon.

Como prevenir e combater a sepse nos hospitais

Quando se trata de salvar vidas, cada segundo é inestimável. Em todo o país, hospitais enfrentam diariamente o desafio de prevenir e combater a sepse e evitar o agravamento de casos que podem levar a mortes. Para isso, adotam protocolos rigorosos que incluem desde avaliação cuidados dos sinais dos pacientes, realização de exames laboratoriais e administração de antibióticos.

A Dra. Gastaldi enfatizou a importância de protocolos e treinamentos contínuos para garantir a detecção eficaz da sepse entre os pacientes internados na Rede Mater Dei Uberlândia. Além disso, estratégias para reduzir infecções hospitalares desempenham um papel crucial na prevenção da sepse, já que, muitas vezes, ela se origina de infecções adquiridas durante a hospitalização.

“A higiene das mãos, limpeza do ambiente, uso adequado de antibióticos e checklist para dispositivos médicos são algumas das medidas implementadas pela Rede Mater Dei Uberlândia para combater infecções hospitalares e, consequentemente, reduzir o risco de sepse”, explica a infectologista.

Para prevenir, identificar precocemente e tratar a doença, todas as quatro unidades hospitalares geridas pelo Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês possuem um protocolo de sepse bem estruturado para garantir maior rapidez na identificação e atendimento aos pacientes. São eles, o Hospital Regional de Jundiaí, Hospital Geral do Grajaú, Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (HMIMJ) e Hospital Regional de Registro (HRR).

Os protocolos são gerenciados pela equipe da qualidade e controle de infecção (SCIH) para fazer com que os profissionais possam identificar de forma precoce os casos de sepse e assim realizar o tratamento adequado.

Entre as ações, estão o tratamento de antibioticoterapia o mais precoce possível, a coleta de amostras de cultura para identificação do agente que está causando a infecção, a hidratação vigorosa por forma parenteral, ou seja, administrada por via intravenosa, para poder ajudar o organismo a combater a infecção, além da monitorização e a transferência do paciente para uma unidade adequada, geralmente uma unidade de terapia intensiva.

Hospital público no Pará investe em qualificação e informação

No Hospital Regional de Marabá o Protocolo de Sepse reforça a segurança do paciente (Fotos: Divulgação)

No Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), em Marabá, referência para procedimentos de média e alta complexidade para mais de 1 milhão de pessoas, em 22 municípios da região, o protocolo de sepse busca uma resposta rápida e meticulosa em situações médicas críticas.

“Possuímos um protocolo rigoroso de identificação precoce da sepse, que inclui a avaliação cuidadosa dos sinais vitais dos pacientes, a realização de exames laboratoriais específicos e a administração imediata de antibióticos apropriados quando necessário”, ressaltou médica Daiane Oliveira, diretora técnica do hospital, que é gerenciado pelo Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA) em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

Ainda de acordo com a médica, o Regional de Marabá tem consistentemente superado as médias nacionais em termos de sobrevivência de pacientes com sepse, graças ao empenho da equipe em salvar vidas, oferecendo o mais elevado padrão de cuidado aos pacientes.

“Embora estejamos orgulhosos de nossos resultados, sabemos que sempre há espaço para melhorias. Estamos constantemente revisando e atualizando nossos protocolos com base nas melhores práticas médicas e nas pesquisas mais recentes. Nosso compromisso é garantir que cada paciente que entra em nosso hospital tenha a melhor chance possível de recuperação”, ressaltou a profissional.

Alan Ferreira, diretor assistencial do hospital, enfatizou a importância da equipe multidisciplinar na implementação dos protocolos de sepse. “Essa condição exige uma abordagem coordenada e rápida. Nossa equipe médica, de enfermagem e laboratorial trabalha em estreita colaboração para garantir que cada paciente receba a atenção necessária no momento certo. Treinamos regularmente para manter nossas habilidades afiadas e atualizadas”, afirmou.

Para promover a conscientização sobre a sepse entre pacientes e colaboradores, o Núcleo de Educação Assistencial do Hospital Regional de Marabá realizou, nesta quarta-feira (13), uma série de iniciativas de esclarecimento. Essas ações ocorreram nos corredores do hospital e nas unidades de internação, abordando tópicos cruciais, como a identificação de sintomas, a importância de práticas de higiene e a necessidade de buscar tratamento imediato. O objetivo central da ação é aumentar a percepção da sepse tanto entre profissionais da saúde, quanto da população.

80% dos casos ocorrem fora do ambiente hospitalar

A sepse é uma disfunção orgânica agressivamente letal decorrente de uma resposta desregulada do hospedeiro frente a uma infecção. Mas, ao contrário do que muita gente imagina, a maior parte dos casos não é adquirida no ambiente hospitalar.

“Mais de 80% das infecções que levam a sepse são contraídas fora do hospital. Mesmo infecções comuns, como pneumonia, infecções urinárias, na pele, ou até a meningite, além de outras inúmeras doenças, pode levar a sepse”, alerta o especialista em bacteriologia e diretor técnico do Lanac – Laboratório de Análises Clínicas, Marcos Kozlowski.

“Os exames de laboratório proporcionam uma visão abrangente da saúde do paciente. É importante que a equipe avalie a função do fígado, das enzimas, da coagulação e dos rins, por exemplo. Por isso, frequentemente realizamos reforços teóricos e práticos com as equipes. É fundamental lembrar o quanto precisamos ser detalhistas em nosso dia a dia”, destaca Viviane.

Devido à gravidade, a doença é tratada ao mesmo tempo em que é feita a investigação da infecção. O Lanac, por exemplo, disponibiliza um equipamento de hematologia que realiza o teste CBC/diferencial – primeiro equipamento de Curitiba e RMC que indica infecções graves. O marcador, destinado a pacientes adultos, é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA). “O equipamento agiliza esse diagnóstico e fornece o resultado em até 15 minutos, o que garante um tratamento mais assertivo”, afirma Kozlowski.

Segundo Marcos Kozlowski, a doença acomete pessoas com o sistema imunológico fraco. Por isso, ressalta o especialista, é importante manter exames atualizados e a carteira de vacinação em dia. “Além disso, no dia a dia higienize as mãos com frequência, evite tocar nas mucosas dos olhos, nariz e boca e mantenha os ambientes ventilados, mesmo no inverno”, aconselha.

Fora do ambiente hospitalar, a sepse também pode ser prevenida, principalmente por meio de vacinas. “Grande parte dos agentes que causam sepse são preveníveis com vacina, a correta higiene das mãos, lavagem dos alimentos para evitar intoxicação alimentar, evitar tomar água contaminada e beber sempre água filtrada. Aos primeiros sinais de infecção, é preciso procurar o serviço de saúde imediatamente”, finaliza o médico.

Com Assessorias

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