Embora afete, principalmente, pessoas acima dos 50 anos, o câncer colorretal – também conhecido como câncer de cólon e reto – tem aumentado a sua incidência entre os mais jovens tem aumentado de forma significativa em todo o mundo. Hoje, é responsável por cerca de 10% de todos os diagnósticos de câncer no mundo. A média é de 1,9 milhão de novos casos e 935 mil mortes por ano, segundo o levantamento Globocan, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil são 20 novos casos a cada 100 mil habitantes.  Dados recentes apontam que, a cada ano, cerca de 10% dos novos casos diagnosticados são em pessoas abaixo dos 50 anos. Essa tendência tem alertado os profissionais de saúde para a importância da prevenção e detecção precoce em todas as idades, incluindo os jovens.

“Embora tenhamos observado nos últimos anos uma queda no número de casos novos e na mortalidade na população geral, a situação é diferente entre os mais jovens: está havendo um aumento no número de casos novos e na mortalidade nessa população. E estamos falamos de um tipo de câncer que pode ser diagnosticado precocemente, por meio de exames de rastreamento como a colonoscopia, e que é curável na imensa maioria das vezes”, alerta Ricardo Carvalho, oncologista clínico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Ainda não foi descrita a causa dessa tendência, mas sabe-se que alguns hábitos de vida são considerados fatores de risco, como alcoolismo, tabagismo, sedentarismo, obesidade, consumo exagerado de carnes vermelhas, embutidos e alimentos processados e dieta pobre em alimentos ricos em fibras, frutas, vegetais e cálcio.

“Esses fatores aumentam o risco do paciente desenvolver a doença, é necessário focar no diagnóstico precoce e nas mudanças de hábitos e estilo de vida para que haja diminuição no surgimento de novos casos e uma taxa de cura cada vez maior. A boa notícia é que é possível optar por uma alimentação balanceada e pela prática regular de atividades físicas”, ressalta.

Taxa de obesidade e maior consumo de álcool

Um artigo recém-publicado na Science sugere algumas razões possíveis, incluindo fatores ambientais e genéticos. Um estudo de 2022, publicado na Gastroenterology Journal, apontou os principais riscos: o aumento da taxa de obesidade em crianças e adultos, principalmente entre 20 e 30 anos, podendo dobrar as chances do câncer colorretal de início precoce, e o consumo excessivo de álcool – que tem aumentado principalmente entre adultos com 30 anos ou menos.

A pesquisa ainda indica que não é possível afirmar se ter nascido por cesariana, uso de antibióticos e certas exposições ambientais podem estar relacionadas ao risco de desenvolver câncer colorretal precocemente. Além disso, apesar da associação do consumo de bebidas açucaradas à doença, são necessários mais estudos que possam comprovar alterações.

Outros fatores não-relacionados aos hábitos de vida são idade acima dos 50 anos, histórico familiar ou pessoal de pólipos ou câncer de intestino e presença de algumas doenças, como diabetes tipo 2 e doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e retocolite ulcerativa). “Há também fatores hereditários, mas esses são responsáveis pela minoria dos cânceres de cólon e reto”, afirma Ricardo Carvalho.

Doença cada vez mais incidente no Brasil

Os cânceres de próstata e de mama são muito lembrados pela população por serem frequentes, mas pouco se fala sobre o terceiro tipo mais comum: ocâncer colorretal. Essa doença engloba os tumores malignos que originam-se no intestino grosso, também chamado de cólon, e no reto, região final do trato digestivo e anterior ao ânus.

No Brasil, o cenário é preocupante, na avaliação de diversos especialistas. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer colorretal, mais conhecido por aqui como ‘câncer de intestino’, é o terceiro tipo mais comum no Brasil, com estimativa de 45.630 novos casos identificados a cada ano, entre 2023 e 2025.

A doença ocupa o segundo lugar em volume de incidência, excluindo ocâncer de pele não melanoma, ficando atrás apenas das neoplasias de próstata e mama, respectivamente, em homens e mulheres. Esse alerta para a sociedade ganha um reforço neste mês, com a campanha Março Azul, voltada à promoção do cuidado e à prevenção da condição.

O principal tipo é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, o tumor se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, podendo se tornar cancerígenos. Os pólipos são geralmente benignos mas, se não removidos, podem se tornar malignos. Daí a importância da colonoscopia, exame no qual esses pólipos podem ser retirados.

Sintomas e diagnóstico do câncer colorretal

Os sintomas variam muito e dependerão do estágio em que a doença se encontra, mas é importante ficar atento em relação ao aparecimento de sangue nas fezes ou alteração persistente na consistência habitual.

“Ao notar qualquer mudança nesse sentido é necessário procurar um médico. Perda de peso, dor e aumento do volume do abdômen também são sinais que merecem atenção. Entretanto, quando a doença está na fase inicial o indivíduo pode não apresentar nenhum sintoma”, ressalta o oncologista.

Este tipo de câncer pode não causar sintomas imediatamente, mas é importante observar:

uma mudança nos hábitos intestinais, como diarreia, constipação ou estreitamento das fezes,

sensação de que você não se sente aliviado ao ter uma evacuação,

sangramento retal com sangue vermelho vivo,

sangue nas fezes, o que pode fazer com que elas pareçam marrom-escuras ou pretas,

cólicas ou dor abdominal,

fraqueza e fadiga, além de perda de peso não intencional.

Cuidados e prevenção em relação ao câncer de intestino

Diagnóstico e tratamento da doença

A principal forma de diagnóstico e prevenção é por meio de um exame endoscópico como a colonoscopia, que possibilita a visualização de todo o intestino grosso, e eventual biópsia de uma lesão suspeita. “É um exame simples, acessível e que pode ser encontrado nos serviços de saúde”, comenta o médico.

No exame, um tubinho flexível com uma câmera na ponta é introduzido no intestino e faz imagens que revelam se há presença de possíveis alterações, permitindo, inclusive, remoção de pólipos e biópsias de lesões suspeitas.

No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda iniciar o rastreio do câncer de cólon e reto da população adulta de risco habitual na faixa etária de 50 anos – mas muitos países já reduziram para 45 anos de idade, como recomendam as principais sociedades médicas do mundo. Pessoas com familiares de primeiro grau com câncer colorretal devem realizar o exame mais precocemente, geralmente 10 anos antes da idade que o familiar tinha quando ocorreu o diagnóstico.

“Por exemplo, se a mãe de uma pessoa teve câncer colorretal aos 52 anos, essa pessoa deverá realizar o primeiro exame aos 42 anos. A depender do resultado do exame, o intervalo para um novo exame pode variar entre um e três anos”, afirma.

O rastreamento por meio da colonoscopia é uma estratégia fundamental para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim, aumentar a chance de tratamento. A taxa de cura desse tipo de câncer gira em torno de 70%, ou seja, sete em cada dez pacientes que recebem diagnóstico são curados. No entanto, a chance de cura para tumores detectados em estágios iniciais pode chegar a 90 ou 95%.

“O tratamento varia dependendo do estágio da doença, podendo ser desde a retirada de um pólipo ou a realização de cirurgia para remoção de uma região do intestino comprometida pelo tumor. Em alguns casos se faz necessário a realização de quimioterapia ou radioterapia”, explica Ricardo Carvalho.

Doença em números

Aumento de casos entre os mais jovens nos EUA

Um estudo realizado pela American Cancer Society (ACS), publicado em 2023 na revista CA: A Cancer Journal of Clinicians, aponta que 13% dos pacientes diagnosticados com câncer colorretal têm menos de 50 anos, um percentual que cresceu 9% em comparação com 2020. A pesquisa avaliou a incidência da doença e a mortalidade em todas as faixas etárias de 1995 até 2020 na população dos Estados Unidos.

O estudo indica que um em cada cinco casos de câncer colorretal diagnosticados hoje ocorre em pessoas com menos de 55 anos, em comparação com um em cada 10 casos em 1995. Entre os jovens adultos, esse tipo de tumor tornou-se ainda a principal causa de morte nos homens e a segunda principal causa nas mulheres, atrás apenas do câncer de mama. No final da década de 1990, ocupava o quarto lugar entre homens e mulheres com menos de 50 anos.

A pesquisa mostrou que a taxa de mortalidade geral vem caindo. No entanto, os diagnósticos estão aumentando há décadas. Até o final de 2023, a previsão era que cerca de 153 mil pessoas seriam diagnosticadas com câncer colorretal nos Estados Unidos. As chances do surgimento de pólipos (lesões benignas que crescem na parede interna do intestino) são maiores após os 50 anos.

Estudo publicado no Journal of the National Cancer Institute e realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2014 mostrou que nas pessoas entre 20 a 39 anos de idade, o número de casos novos de câncer de intestino vem crescendo anualmente, entre 1% e 2,4%, desde a década de 1980. Já os casos de câncer de reto, nas pessoas entre 20 e 29 anos de idade, tiveram um aumento anual médio de aproximadamente 3,2%, desde 1974.

As descobertas também revelaram um aumento nos diagnósticos de doença avançada. As taxas crescentes em adultos mais jovens levaram os Serviços Preventivos dos EUA a mudar sua recomendação em maio de 2021 para iniciar os exames aos 45 anos em vez de 50, mas aqueles com fatores de risco podem precisar começar ainda mais cedo.

Com Assessorias

 

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