Em 14 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Diabetes, uma das doenças crônicas que mais crescem no mundo segundo pesquisa realizada em 41 países pela Federação Internacional do Diabetes (IDF, em inglês), que vem ao longo dos anos estimulando debates e a mobilização de todos em torno desse problema. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 11 pessoas no mundo convive com diabetes. No Brasil, em um intervalo de 10 anos, houve aumento de 60% no diagnóstico da doença.
O atlas do IDF estima que hoje a prevalência global do diabetes na população de 20 a 79 anos seja de 537 milhões, e prevê que em 2030 passe para 643 milhões. Dados do Ministério da Saúde divulgados este ano mostram que a partir dos 18 anos na população feminina o diabetes é mais frequente e 9% dos brasileiros com 18 anos ou mais são diabéticos. A pesquisa também revela que entre um terço e metade dos diabéticos só descobrem a doença em estágio avançado e ficam um bom tempo sem tratamento.
O olho é um dos órgãos mais ameaçados pelo descontrole dos índices de glicemia no sangue. A retinopatia diabética é uma doença vinculada ao diabetes considerada uma das principais causas de cegueira evitável no mundo. O problema afeta os pequenos vasos da retina, região do olho que atua na formação das imagens que são transmitidas ao cérebro. Dessa forma, o problema se torna uma ameaça direta à condição de visão do paciente, podendo levar à cegueira se não tratado a tempo com o médico oftalmologista.
Retinopatia diabética: 25 vezes mais risco de perder a visão
O surgimento ou agravamento da doença pode ser prevenido por meio do controle contínuo dos níveis de glicose no sangue. No entanto, é essencial que sejam feitos exames oftalmológicos regulares, uma vez que as fases iniciais da doença não apresentam sintomas sensíveis ao paciente.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, devem redobrar a atenção pessoas com idade acima dos 50 anos, quem tem casos na família, colesterol alto, sobrepeso e tem vida sedentária. Os sinais da doença mais frequentes são micção frequente e sede excessiva.
Queiroz Neto explica que 10% dos casos de diabetes são do tipo 1, uma hiperglicemia de causa autoimune que diminui a produção de insulina pelo pâncreas. Em 90% dos casos, explica, o diabetes é do tipo 2, caracterizado pela resistência das células à insulina que leva ao acúmulo de glicemia na corrente sanguínea. Com o tempo esta resistência afeta as células do pâncreas e a produção de insulina cai.
O oftalmologista afirma que manter o diabetes controlado não é suficiente para proteger a saúde dos olhos. Isso porque, o sangue do diabético é mais viscoso, dificulta a circulação no globo ocular. Com o tempo pode causar retinopatia diabética e edema macular, duas causas de perda permanente da visão. O problema é que a pesquisa do IDF indica que 31% dos diabéticos desconhecem estas doenças causadas pela má circulação na retina.
Mutirão contra a retinopatia diabética
No mês dedicado à prevenção e conscientização sobre o diabetes, os brasileiros poderão se beneficiar de uma série de mutirões de atendimento gratuito com objetivo de estimular o diagnóstico e o tratamento precoces da retinopatia diabética. Todo o trabalho conta com a coordenação em nível nacional do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em parceria com outras sociedades médicas.
Ações já foram confirmadas em 12 estados do País (Bahia; Espírito Santo; Ceará; Goiás; Maranhão; Mato Grosso; Mato Grosso do Sul; Minas Gerais; Pernambuco; Rio de Janeiro; Santa Catarina e São Paulo), seguindo calendários definidos localmente. Os interessados devem estar atentos aos critérios e fluxos definidos pelas equipes de trabalho em cada município participante.
Os médicos oftalmologistas voluntários, inclusive os alunos de programas de residência, terão o apoio de lideranças regionais. As ações presenciais de atendimento ocorrerão de forma descentralizada, onde grupos organizados em diversos municípios assumem esquemas próprios, levando em conta as particularidades de cada região. Na maioria das ações, os interessados terão acesso gratuito a exames para diagnosticar de forma precoce a retinopatia diabética.
Por se tratar de uma doença multifatorial, alguns grupos oferecerão, além de exames oftalmológicos, outras aferições relacionadas às condições de saúde da pessoa diabética, como avaliações cardiológicas, nutricionais e testes laboratoriais. Confira abaixo o mapa dos estados participantes.
Confira abaixo as ações já confirmadas na sua região (lista em ordem alfabética)
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Conscientização
Para o oftalmologista Jorge Rocha, coordenador da campanha em 2022, as ações de novembro cumprem um importante papel na conscientização da população acerca dos cuidados precoces contra a retinopatia diabética. “Já é de conhecimento de todos que a diabetes pode causar cegueira, no entanto, a grande população diabética ainda precisa entender os riscos e a importância do cuidado precoce junto ao profissional oftalmologista”, declara.
O diabetes é uma doença grave e silenciosa, que exige a vigilância contínua dos pacientes e dos profissionais da saúde. Com as ações de novembro também queremos revelar deficiências no atendimento da pessoa com diabetes, assim como também ressaltar a importância do autocuidado, como forma prevenir, diagnosticar e tratar a doença”, afirma Cristiano Caixeta Umbelino, presidente do CBO.
Segundo ele, fazer um acompanhamento periódico com o profissional oftalmologista vai garantir que, se necessário, tratamentos adequados sejam iniciados o mais cedo possível, aumentando as chances de reversão e controle sobre a doença.
24 horas pelo Diabetes
Além dos atendimentos efetivos a milhares de brasileiros promovidos nos mutirões em diversos municípios do país, o CBO realizará também uma maratona de atividades on-line no dia 26 de novembro (sábado). O projeto 24h pelo Diabetes faz parte dos esforços de conscientização sobre a doença e será transmitido no canal oficial do CBO no YouTube e em outras plataformas digitais.
Por meio dessa ação, o CBO oferecerá à população, de forma gratuita, uma série de conteúdos educativos sobre a retinopatia diabética. Serão entrevistas, debates, palestras e reportagens que apresentarão cuidados com a doença, ajudarão a identificar sinais e sintomas e orientarão os interessados sobre o que fazer em caso de suspeita. Confira mais detalhes da programação no site oficial da campanha (link abaixo) e nas redes sociais do CBO.
Catarata mais cedo
Não é só a retina que sofre com o diabetes. “A hiperglicemia dobra o risco de contrair catarata segundo um estudo realizado no Reino Unido com mais de 50 mil pessoas”, afirma. O oftalmologista explica que isso acontece porque os depósitos de glicemia nas paredes do olho somados às constantes oscilações dos níveis glicêmicos aumentam a formação de radicais livres e aceleram o processo de envelhecimento do cristalino, lente interna do olho.
O especialista afirma o adiamento da cirurgia é contraindicado porque torna o procedimento mais perigoso e porque a catarata avançada impede o bom acompanhamento de alterações na retina causadas pelo diabetes. Por isso, pode levar à perda irreparável da visão. A hiperglicemia, observa, também pode causar complicações cardiovasculares, insuficiência renal, amputação e danos nos nervos decorrentes da má circulação.
Tratamento
O oftalmologista afirma que no mundo todo o edema macular e retinopatia diabética são tratados com duas terapias combinadas: aplicação de laser e de injeções anti-VEGF. A boa notícia é que os planos de saúde cobrem estes tratamentos há alguns anos.
O único tratamento para catarata é o implante de uma lente intraocular que substitui o cristalino, lente interna do olho. Rápida e indolor a cirurgia e feita com anestesia tópica e tem bons resultados em 90 dos casos.
Prevenção
Queiroz Neto ressalta que para prevenir danos aos olhos e aos rins é importante praticar atividades físicas regular e prolongadamente. Isso porque, quando movimentamos nosso corpo melhoramos nossa circulação, o funcionamento dos órgãos abdominais e liberamos a irisina, um hormônio que tem o poder de proteger nossos rins. “É possível ter qualidade de vida sendo diabético, depende de como você se cuida”, conclui.
Mais informações neste link.
Com Assessorias