O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma e o quarto com maior incidência no mundo, com mais de 1,4 milhão de novos diagnósticos e 375 mil mortes anuais, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC).

No Brasil, este é o câncer mais comum nos homens no Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma. Até o final de 2025, segundo projeção do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são previstos mais de 71,7 mil novos casos no país — um aumento de 8,5% em comparação ao ano de 2022.

Segundo os dados do Ministério da Saúde e do DataSUS, analisados pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT),  75% desses pacientes dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento, ou seja, mais de 53 mil pacientes com diagnóstico de tumor maligno na próstata procuram a rede pública.

A radioterapia costuma ser indicada em 60% dos casos, o que significa que mais de 32 mil pessoas deveriam estar em tratamento no SUS, mas não é o que acontece, pois apenas 22.541 realizaram radioterapia para câncer de próstata em 2023 no SUS.

Entretanto, dados do DataSUS, levantados pela SBRT há dois anos, mostram que apenas 22.541 pacientes realizaram radioterapia para câncer de próstata em 2023 pelo SUS. O déficit, de cerca de 10 mil homens sem tratamento anual, revela um dos maiores gargalos do sistema público de saúde.

Diante deste cenário, a SBRT aproveita o Novembro Azul para lançar luz sobre a necessidade de democratizar o acesso à radioterapia de alta precisão, um procedimento indicado para aumentar as chances de sobrevivência e melhor qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, onde milhares de homens enfrentam filas ou não chegam a receber o tratamento, o desafio é transformar avanços tecnológicos em políticas públicas efetivas. Ampliar o acesso à radioterapia é uma questão de saúde pública. É garantir não apenas mais tempo de vida, mas vida com qualidade”, disse o ex-presidente da SBRT, Gustavo Nader Marta.

A radioterapia IMRT e o desafio da equidade no SUS

No Brasil, embora técnicas avançadas como a IMRT já estejam no rol da ANS, o acesso pelo SUS ainda é limitado, o que compromete o tratamento de milhares de pacientes. Especialistas da Sociedade Brasileira de Radioterapia reforçam a urgência em ampliar essa cobertura

Os principais tipos de radioterapia utilizados para pacientes diagnosticados com câncer de próstata são a radioterapia de feixe externo e a braquiterapia (radioterapia interna com sementes de iodo ou cateteres com irídio).

Dentre as técnicas que usam feixe externo, destaque para a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), no qual se modula a intensidade das doses de radiação com maior precisão na próstata, poupando bexiga e reto de doses mais altas de radiação.

A IMRT permite ajustar com precisão a intensidade dos feixes de radiação, poupando órgãos vizinhos como bexiga e reto e oferecendo melhores resultados clínicos com menos efeitos adversos”, explica Elton Trigo Teixeira Leite, médico radio-oncologista e diretor científico da SBRT.

Outros métodos complementares vêm aprimorando o tratamento, como a radioterapia guiada por imagem (IGRT), que realiza imagens da próstata antes de cada aplicação para garantir o direcionamento exato, e a arcoterapia volumétrica modulada (VMAT), que permite aplicar a dose em menor tempo, com conforto e segurança.

A braquiterapia, por sua vez, é indicada em casos iniciais e de baixo risco, podendo ser usada isoladamente ou combinada à radioterapia externa. Nesse método, as sementes radioativas emitem radiação diretamente sobre o tumor, com mínimo dano aos tecidos ao redor.

Os resultados que alcançamos com a radioterapia moderna são expressivos. Ela é segura, eficaz e deve estar disponível para todos, independentemente de onde o paciente seja tratado”, reforça o presidente da SBRT, Gustavo Nader Marta.

Essas abordagens, além de manterem o controle oncológico, melhoram a qualidade de vida, reduzem o custo global do tratamento e ampliam a capacidade de atendimento dos serviços, uma solução especialmente relevante para o SUS.

A IMRT está incorporada ao Rol de Procedimentos da ANS para diferentes tipos de câncer, incluindo o de próstata, sendo assim conquista importante para os pacientes da saúde suplementar. Entretanto, o mesmo avanço ainda não chegou integralmente ao SUS. A principal barreira é o modelo de pagamento por pacotes, implantado em 2019, que não diferencia o reembolso conforme a tecnologia empregada.

A modalidade de IMRT já está disponível no Brasil. Foi incorporada na saúde suplementar (privada) para o tratamento de cânceres de cabeça e pescoço, próstata, pulmão, esôfago e mediastino e está incluída desde janeiro de 2023 no ROL de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já no Sistema Único de Saúde (SUS), ela esbarra na falta gerada por um modelo engessado de reembolso.

Se os pacientes do SUS tivessem acesso à alta tecnologia, como a IMRT, estaríamos investindo em tratamentos potencialmente mais eficazes, com menos complicações e maior custo-efetividade para o sistema”, afirma o radio-oncologista Elton Teixeira Leite, da SBRT.

Um levantamento do Projeto RT2030, da SBRT, aponta que apenas 51% dos serviços públicos de radioterapia no país dispõem de equipamentos capazes de realizar IMRT. O cenário é agravado pela defasagem de aceleradores lineares e pela carência de profissionais qualificados. Essas limitações estruturais resultam em longas filas e atrasos no início dos tratamentos, uma espera que, em oncologia, pode reduzir significativamente as chances de controle da doença.

O modelo de pagamentos é por pacotes, que foi implementado no Brasil em fevereiro de 2019. Apesar de ter simplificado o faturamento dos tratamentos, otimizando a auditoria dos serviços e coletado informações estatísticas, ele ainda está muito distante de cobrir os custos com a radioterapia na perspectiva do Estado.

Hoje, o SUS remunera os tratamentos oncológicos com base apenas no tipo de tumor, sem considerar a complexidade ou a tecnologia. Isso desestimula o uso de técnicas mais modernas, como a radioterapia IMRT, que oferecem maior precisão, menos efeitos colaterais e melhores resultados clínicos. Ampliar o acesso a essas tecnologias é investir em tratamentos mais custo-efetivos e sustentáveis a longo prazo para o sistema público de saúde”, finaliza.

O SUS remunera os tratamentos oncológicos com base apenas no tipo de tumor, sem considerar a complexidade ou a tecnologia empregada. Isso desestimula o uso de técnicas modernas como a radioterapia IMRT, que são mais precisas e geram menos efeitos colaterais”, observa.

Indicações de radioterapia em tumores urológicos vão além do câncer de próstata

A radioterapia é um dos pilares do tratamento dos tumores urológicos e tem passado por avanços que ampliam suas indicações. No câncer de próstata, o mais incidente entre os homens, novas modalidades, como o hipofracionamento e a radioterapia ablativa, permitem tratamentos mais curtos e precisos, com resultados comparáveis à cirurgia. A mesma tecnologia vem sendo aplicada também em tumores de rim, bexiga e testículo, oferecendo controle local elevado e melhor qualidade de vida aos pacientes

A radioterapia consolidou-se como um dos principais tratamentos para o câncer de próstata, ao lado da cirurgia. Segundo o estudo clínico PACE-A, publicado na European Urology, a radioterapia ultrahipofracionada, capaz de tratar o tumor em apenas cinco frações, apresentou resultados semelhantes aos da prostatectomia radical, com ganhos em qualidade de vida e menor impacto na rotina.

Essa técnica tem se mostrado uma das principais inovações no tratamento do câncer de próstata, permitindo manter a eficácia terapêutica com menos idas ao hospital e excelente tolerância”, afirma o radio-oncologista Wilson José de Almeida Jr., novo presidente eleito da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).

Os resultados de cinco anos do estudo PACE-B, apresentados na ASTRO 2024, reforçam essa evidência mostrando que em 874 pacientes com câncer de próstata localizado a radioterapia estereotáxica corporal (SBRT) foi não inferior à radioterapia convencional, com taxas de controle bioquímico superiores a 95% e os efeitos colaterais urinários e intestinais foram raros e leves. Na prática clínica, o método com apenas cinco frações já é considerado um novo padrão de tratamento para tumores de risco baixo e intermediário, por unir eficácia, conveniência e preservação funcional.

Nos tumores renais, a radioterapia ablativa (SBRT) tem mostrado alta eficácia no controle local em pacientes inoperáveis ou com rim único. Além de tratar tumores primários, essa abordagem vem sendo usada em metástases de origem renal, retardando ou até evitando o início de terapias sistêmicas mais agressivas.

A SBRT oferece uma alternativa segura e altamente eficaz à cirurgia, sobretudo para pacientes com limitações clínicas”, explica Almeida Jr. Em alguns casos, acrescenta o especialista, o uso de técnicas avançadas como a protonterapia permite liberar energia diretamente no tumor, poupando tecidos renais sadios e preservando a função do órgão.

O tratamento conservador da bexiga, que combina radioterapia e quimioterapia, também tem se mostrado uma opção eficaz à cistectomia radical em casos selecionados de câncer músculo-invasivo, preservando o órgão e a qualidade de vida. Já nos tumores de testículo, especialmente os seminomas, a radioterapia adjuvante continua sendo um componente essencial do cuidado oncológico.

A radiação, administrada em doses altamente direcionadas, destrói células malignas residuais após a cirurgia e reduz significativamente o risco de recidiva. Embora a técnica possa causar fadiga ou queda temporária na contagem de espermatozoides, os efeitos são transitórios e bem manejáveis.

Nos últimos anos, a radioterapia tornou-se mais precisa e acessível graças à incorporação de sistemas de imagem guiada (IGRT), planejamento tridimensional e modulação de intensidade (IMRT e VMAT), que permitem ajustar as doses com exatidão milimétrica e reduzir a exposição de tecidos vizinhos. Essa revolução tecnológica é resultado do trabalho conjunto entre físicos médicos, enfermeiros e radio-oncologistas, que atuam de forma integrada para garantir segurança e resultados duradouros.

Além da próstata: olhar integral para a saúde urológica

Embora o Novembro Azul seja tradicionalmente voltado à conscientização sobre o câncer de próstata, o movimento ganha novo significado ao incluir outros tumores urológicos. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), 71.730 brasileiros devem receber o diagnóstico de câncer de próstata em 2025, representando cerca de 30% de todos os tumores masculinos.

câncer de bexiga deve atingir 11.370 brasileiros, sendo 7.870 homens, enquanto o câncer renal apresenta incidência de 7 a 10 casos por 100 mil habitantes e o de testículo é mais comum entre jovens de 15 a 35 anos, com altas taxas de cura quando diagnosticado precocemente.

Os principais fatores de risco para os cânceres urológicos envolvem idade, genética, hábitos de vida e condições clínicas associadas. No câncer de próstata, o risco cresce a partir dos 50 anos e é mais alto entre homens negros e aqueles com histórico familiar da doença ou mutações hereditárias nos genes BRCA1 e BRCA2.

Obesidade e tabagismo podem aumentar a agressividade e a chance de recidiva. Já o câncer de testículo afeta principalmente homens jovens entre 15 e 45 anos e pode estar relacionado à criptorquidia (testículo não descendido) e a antecedentes familiares. No câncer de rim, o risco aumenta com a idade avançada, tabagismo, obesidade e hipertensão arterial, além de síndromes genéticas raras como a von Hippel-Lindau e outras formas hereditárias de câncer renal.

câncer de bexiga é fortemente associado ao tabagismo, responsável pela liberação de substâncias tóxicas na urina que danificam o revestimento do órgão. Outros fatores incluem exposição ocupacional a produtos químicos (usados em tintas, borracha, couro e têxteis), tratamentos prévios com quimioterapia ou radioterapia pélvica e infecções urinárias crônicas que provocam inflamação persistente.

A idade superior a 55 anos e o sexo masculino também elevam o risco, assim como histórico pessoal ou familiar de tumores no trato urinário ou síndrome de Lynch, que aumenta a predisposição a diversos tipos de câncer, incluindo os de bexiga e rim.

Com Assessorias

 

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