Um estudo recente, publicado na JAMA Network Open, analisou dados de cerca de 480 mil pessoas do Reino Unido ao longo de 13 anos. O resultado? Quem utiliza a bicicleta como meio de transporte teve 19% menos chance de desenvolver demência e 22% menos de Alzheimer, em comparação com quem permanece imóvel ao se deslocar.
Além disso, exames por ressonância magnética apontam que ciclistas apresentam o hipocampo – área vital para memória e aprendizado – maior, refletindo o impacto positivo dessa atividade para o cérebro.
O interessante é que os benefícios foram ainda maiores em pessoas sem a variante genética de risco APOE E4: nesses casos, houve redução de 26% no risco de demência e 25% em Alzheimer.
Os achados reforçam uma verdade cada vez mais evidente na ciência: o estilo de vida tem um papel fundamental na saúde do cérebro. Assim como a prática regular de atividade física pode reduzir significativamente o risco de demência, há outros fatores comportamentais e de saúde que também impactam diretamente o desenvolvimento da doença.
Os 12 fatores que aumentam as chances de desenvolvimento do Alzheimer
Estilo de vida. Para Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma, controlar o peso e manter um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios físicos, sono adequado, controle do estresse, não fumar e consumir bebida de forma moderada, são fundamentais. Visto que a obesidade, o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo também são causas importantes nas chances de desenvolver a doença. “A gente vê que são fatores ligados à saúde como um todo e faz sentido: o cérebro não está alheio à saúde do resto do corpo”, comenta a especialista.
Hipertensão. Manter a pressão arterial controlada é fundamental e é considerado um dos mais importantes fatores para prevenir a doença, mas não só ela: diversas complicações cardíacas podem ser evitadas, além de casos de AVC. “O ideal é sempre ter uma pressão arterial de até 13 por 9”, explica. Quem já tem a doença, que também tem causas genéticas, deve usar medicação diária para controlar os índices.
Isolamento social. Depressão e isolamento social são outras das possíveis causas para aumento nas chances de desenvolver a doença. “A gente sabe que a pandemia fez com que esses índices aumentassem muito por conta das medidas sanitárias. Mas é importante que as pessoas retomem seus contatos sociais, mesmo que aos poucos, e busquem acompanhamento psicológico e ajuda, caso tenha dificuldade. Somos seres sociais e precisamos estar em contato contínuo com outros para vivermos bem”, afirma a endocrinologista.
Contexto socioeconômico e poluição. O nível de escolaridade é considerado o principal fator para a doença no Brasil. O estímulo ao cérebro e o aprendizado até principalmente os 12 anos de idade são ferramentas fundamentais para a saúde do órgão. Outro fator de contexto social é a poluição do ar, também apontada como de risco para o Alzheimer. “Países em desenvolvimento, como o Brasil, tem uma população mais vulnerável a esses fatores. A falta de equidade no acesso aos serviços com certeza atrapalha a saúde da população e é um fator que precisa de atenção dos governos”, ressalta.
Diabetes. Doença multifatorial das mais incidentes em todo o mundo, o diabetes também influencia o cérebro, inclusive nas chances de desenvolvimento do Alzheimer. Segundo a especialista, “aqui entra a fórmula de controle de peso, atividade física, alimentação saudável, sono e gerenciamento do estresse. Para quem já foi diagnosticado, o uso correto e controlado da medicação contribui para um melhor manejo da doença”.
Perda auditiva. Nesse caso, além de sempre ir ao otorrinolaringologista para manter a saúde auditiva em dia, vale lembrar que no Brasil, existem mais de 15 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva, isso equivale a pouco mais de 7% da população total do país. Pessoas com alguma perda mesmo que leve, sem uso de aparelhos corretivos ou reabilitação, tem risco >42% de desenvolver demência.
Outros fatores. A publicação da Lancet Commission também incluiu traumatismo craniano como fator que influencia para o desenvolvimento de Alzheimer. “O trauma normalmente acontece por conta de acidentes, por isso a proteção com capacetes e atenção nos esportes com vulnerabilidade a lesões na cabeça, é essencial”, pontua Alessandra Rascovski.
Novos fatores de risco para a doença
Do ano passado para cá, a Lancet Commission, ligada à Alzheimer’s Society, acrescentou mais dois fatores externos que podem contribuir para o desenvolvimento da enfermidade. Somam-se aos 12 fatores iniciais – hipertensão, obesidade, sedentarismo, depressão, diabetes, perda auditiva, trauma craniano, alcoolismo, tabagismo, poluição e isolamento social – aspectos como o colesterol e problemas de visão.
Alessandra explica que as doenças cardiovasculares também têm influência no desenvolvimento do Alzheimer. “O colesterol LDL (ou Lipoproteína de baixa densidade), conhecido como ‘colesterol ruim’, se estiver em excesso pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares. O LDL colesterol em adultos mais jovens do que 65 anos, seguidos por 1 ano e sem tratamento aumentou 8% todas as causas de demência”.
Em relação à visão, a médica explica que o vínculo com a doença tem a ver com a informação que chega ao cérebro. “As pessoas com perda de visão têm mais propensão para desenvolver a doença”. Vale lembrar que a prevalência de perda visual evitável e cegueira, incluindo problemas visuais comuns para os quais óculos são prescritos, em adultos acima de 50 anos, equivalem a 12,6%.
O que vamos oferecer é uma oportunidade de conhecer e de se autoavaliar com o auxílio de voluntários e especialistas e, com isso, ajudar o público a tomar ações que possam prevenir ou postergar declínios cognitivos”.
Alzheimer no mundo
Estudos como esse abrem novos horizontes de esperança para frear uma doença que vem acometendo um número cada vez maior de pessoas – e mais cedo. Segundo dados da Alzheimer’s Disease International (ADI), a estimativa é que os casos da doença no mundo atinjam quase 75 milhões de pessoas em 2030 e 131,5 milhões em 2050, cujo aumento é atribuído, entre outros fatores, ao envelhecimento da população.
Já no Brasil, a projeção é que o número de pessoas com demência chegue a 2,78 milhões no final desta década e a 5,5 milhões em 2050, conforme dados do Relatório Nacional sobre Demência, do Ministério da Saúde. Ainda de acordo com o levantamento, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais sofre da doença.
Para a diretora clínica, ainda há muita desinformação, preconceito e negligência em relação à doença de Alzheimer. De acordo com a ADI, 80% das pessoas ainda acreditam, equivocadamente, que a demência é só uma consequência natural do envelhecimento, ignorando o fato de que se trata de uma condição médica grave e associada a um estilo de vida ruim durante vários anos que precedem o diagnóstico.
No Relatório Mundial de Alzheimer 2024, da ADI, a associação também destaca alguns avanços, como o fato de que 58% das pessoas que participaram da pesquisa reconheceram que hábitos como alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos ajudam a reduzir o risco de desenvolver demência. “Controlar fatores de risco como hipertensão e diabetes pode prevenir mais de 40% dos casos”, conclui Alessandra Rascovski.
Fonte: Atma Soma