Há alguns anos já era comum se falar sobre as populações futuras e o aumento do número de idosos no Brasil. Segundo a Projeção da População, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%.
Mas falando em atualidade, hoje já existem no mundo mais idosos do que crianças. A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou em 2019, que o número de pessoas acima de 65 anos estava em 705 milhões habitantes para 680 milhões com idade entre zero e quatro anos.
Mas essa independência pode custar um preço alto à qualidade de vida desses idosos. Um terço dos atendimentos por lesões traumáticas nos hospitais ocorrem com pessoas idosas e desse índice, 75% das lesões ocorrem dentro de casa – possivelmente muitas das vítimas vivendo sozinhas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma que os idosos são as pessoas mais propensas a sofrer acidentes domésticos: de 28% a 35% das pessoas com mais de 65 anos de idade sofrem algum episódio de queda a cada ano, e esta proporção se eleva para valores que oscilam de 32% a 42% para os idosos com mais de 70 anos. As quedas representam 62% das lesões não fatais entre idosos de 65 ou mais, sendo também a quinta causa de morte entre os idosos.
De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), um terço dos atendimentos por lesões traumáticas em hospitais de todo o país ocorrem com pessoas com mais de 60 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, idosos acima de 65 anos sofrem acidente pelo menos uma vez por ano, que podem ocasionar danos leves, moderados ou graves.
No final de fevereiro, o aposentado Mário da Penha, 84 anos, fazia compras em um mercado. Por um desequilíbrio pequeno, caiu e fraturou o fêmur. “Fui pegar um produto na prateleira e quando me virei o carrinho estava um pouco para frente. Como eu já tenho um problema no joelho, perdi o equilíbrio e caí. Precisei de cirurgia e foram quatro meses acamado”, conta.
Seu Mário, como gosta de ser chamado, ficou ainda mais assustado com o que veio a seguir. “Logo depois que eu me acidentei, a sogra da minha filha também caiu e quebrou o fêmur. Em agosto, foi a vez da minha irmã e da mãe de uma conhecida da minha família”, relata.
Isolamento gera falta de mobilidade e perda de massa muscular
O cenário de pandemia aumenta esses riscos por conta da quarentena, quando a população passou a ficar mais tempo em casa. Por se tratar de um grupo de risco para contrair o coronavírus, a maioria dos idosos está em casa desde meados de março.
Além de serem considerados grupo de risco por causa da Covid-19, o isolamento social fez com que os idosos passassem a exercer atividades que podem gerar alguma situação de risco, já que estão sozinhos em casa e sem contato com os familiares.
A falta de atividade física, como uma caminhada até a farmácia ou padaria, pode acelerar a perda muscular, chamada de sarcopenia. Outro ponto é que a falta de sol impacta muito nos níveis de vitamina D, essencial para a saúde óssea.
Esses dois fatores podem explicar um aparente aumento das quedas e fraturas nos idosos durante a quarentena. Com o isolamento e o aumento de atividades dentro de casa, somados à instabilidade emocional causada pelas notícias calamitosas e o alto nível de ansiedade e falta de atenção que elas trazem, esse número tende a crescer em 30%.
De acordo com o médico ortopedista Ademir Antonio Schuroff, do Hospital Marcelino Champagnat, as pequenas ações cotidianas, como subir em um banco para arrumar a prateleira, podem ser perigosas para pessoas com mais de 65 anos.
A maioria das fraturas ocorre por trauma de baixa energia, ocasionadas frequentemente por quedas dentro de casa. Um dos fatores que os tornam mais vulneráveis é a perda de massa óssea (osteoporose). Para evitar possíveis complicações, é importante agirmos na prevenção”, afirma Schuroff.
Pessoas que convivem com idosos identificaram a necessidade de tornar o ambiente domiciliar mais seguro. Para evitar acidentes, a recomendação é que a casa seja adaptada para as necessidades do idoso, como corrimão nas escadas, suporte de apoio nos banheiros e tapetes antiderrapantes.
O médico ortopedista Antônio Krieger, do Hospital Marcelino Champagnat, também reforça a importância de os idosos praticarem atividades físicas mesmo isolados em casa.
É importante que eles preservem a mobilidade física do seu corpo. Já que não estão saindo nas ruas, uma boa dica é fazer um plano de exercícios domiciliar com a orientação de um profissional que pode passar exercícios adaptados usando a cadeira da casa ou um saco de arroz, por exemplo. Outra dica é fazer uma avaliação com fisioterapeuta para possíveis alongamentos, movimentos de yoga ou pilates”, afirma Krieger.
Alerta para risco de fratura do fêmur
Maria Suzana Muller Branco, de 74 anos, sofreu uma queda acidental logo no início da pandemia, já em isolamento social. “O cachorro tinha feito muito xixi no chão da minha cozinha e eu não vi. Pisei sem querer e acabei escorregando. Cai com tudo e quebrei o fêmur”, conta Maria.
A idosa teve fratura do colo femoral e precisou ser operada para colocar uma prótese total no quadril. O processo de recuperação foi longo e dolorido, mas ela conta que conseguiu voltar a caminhar normalmente apesar do susto. “No começo eu sentia muita dor, mas com o apoio dos médicos a recuperação foi ficando mais fácil. Posso falar com orgulho que nem precisei usar bengala para andar”, diz Maria.
No caso de queda, a principal orientação dos médicos é chamar a ambulância o quanto antes e levar a vítima para receber atendimento especializado no hospital. O ortopedista Josiano Valério, do Hospital Marcelino Champagnat, conta que muitos pacientes, com medo da Covid-19, acabam prorrogando a ida ao médico.
Já operei uma fratura de fêmur de semanas de evolução e também outra paciente com seis dias de fratura. Após a queda, alguns pacientes ficam em casa com medo de ir ao hospital o que agrava a situação”, diz Josiano.
Campanha sobre acidentes domésticos
Acidentes domésticos com idosos podem e devem ser evitados. Em comemoração ao Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade, celebrados em 1º de outubro, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) lançou a série Quarentena Segura. O objetivo é reunir diversas recomendações e explicações para o momento atípico em que vivemos, considerando que a casa é o local em que os idosos mais permanecem, precisa ser o lugar mais seguro.
Por meio do Dr. SBOT, a sociedade fornece um vídeo didático ao público geral sobre cuidados e recomendações para uma casa e vida segura. Este projeto visa estabelecer uma relação de informação e cooperação entre o ortopedista e a sociedade.
Agora, em tempos de quarentena, voltamos nossos olhos para um momento que mudou nossa rotina e que causará transformações futuras. Poder contribuir com orientações à população é o nosso dever”, afirma o presidente da SBOT, Glaydson Gomes Godinho.
Confira o vídeo nas redes sociais da SBOT
No curta da SBOT, são expostos alguns cuidados para que traumas sejam evitados, como:
· Eliminar o uso de tapetes soltos;
· Ter corrimão em escadas e corredores;
· Usar sapatos fechados com solados antiderrapantes;
· Colocar um telefone em fácil acesso e mais algumas recomendações.
Com Assessorias