Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um bilhão de pessoas apresentam algum problema ocular que poderia ser evitado ou tratado. Cerca de 1,4 milhão de crianças no mundo apresentam problemas de visão em algum grau. Por isso, é tão importante a atenção aos cuidados com a saúde ocular dos pequenos. Afinal, uma visão infantil de qualidade é fundamental para o desenvolvimento físico, cognitivo e social da criança.

Mas devo levar meu bebê ao oftalmologista? A resposta é sim, a visita ao médico especializado em olhos deve ser incluída na agenda de consultas anuais dos pequenos, assim como as vacinas e outros cuidados com a saúde. O motivo é simples: condições visuais como miopia, estrabismo, cataratas congênitas e até doenças como câncer nos olhos, o temido retinoblastoma, podem ser detectadas desde cedo, o que facilita o tratamento.

Márcia Ferrari, especialista e chefe do setor de oftalmopediatria do H.Olhos, explica que a partir dos seis meses os pais já devem levar a criança para uma avaliação no consultório, que deve ser repetida com um ano de vida. O grande objetivo dessas consultas é tentar detectar possíveis problemas que não estão visíveis e aparente aos olhos dos pais e de quem convive com a criança. Dessa forma, a importância do exame é para detectar aquilo que possa estar escondido no olho da criança, como o retinoblastoma, mas que se diagnosticada e tratada a tempo pode ser revertida e levando a saúde ocular.

“Durante o primeiro ano é muito importante o rastreio das doenças congênitas de aparecimento tardio. Quando a criança apresenta sintomas visíveis, os pais normalmente já procuram atendimento. A grande questão são as doenças que não estão aparentes, mas que durante o exame a gente consegue identificar e estabelecer um tratamento para preservar a visão e a saúde da criança”, explica Ferrari.

Segundo ela, no H.Olhinhos, por exemplo, um andar especial só para as consultas infantis, a consulta é realizada de maneira lúdica e não depende da informação direta da criança, diferente da que é feita com os adultos. Esses exames são importantes para identificar se o desenvolvimento ocular está acontecendo da maneira adequada.

“A consulta da criança pode ser realizada sem grandes traumas para a criança. É um momento em que a gente interage com a mãe e com a criança, no qual todos os dados são obtidos de uma forma mais objetiva e gente acaba não dependendo necessariamente da informação direta da criança. Então, aquela preocupação das mães de que a criança não vai colaborar ou informar nada, a gente consegue contornar durante o exame”, explica a Dra.

Não precisa esperar o início da vida escolar

Um oftalmologista especializado em bebês é o profissional mais indicado para adotar os melhores parâmetros para avaliar a visão e os olhos dos pequenos. “É muito comum que os pais esperem iniciar a vida escolar para levar seus filhos ao oftalmologista ou quando há algum sinal atípico. Mas esse cuidado deve começar muito antes, como prevenção, o que contribui para evitar o diagnóstico tardio de doenças”, afirma a oftalmopediatra Adriana Fecarotta.

A especialista ressalta que os olhos dos bebês já são analisados desde as primeiras horas do nascimento, com testes para conferir se a visão está saudável. Um deles é o Teste do Olhinho, feito para avaliar se a luz está passando corretamente pela retina e enviando informações para o cérebro.

“O primeiro ano de vida do bebê precisa ter um acompanhamento oftalmológico mais cuidadoso, pois os olhos têm um desenvolvimento mais intenso nos primeiros meses após o nascimento. Nos primeiros seis meses, o médico consegue identificar se há má formação ou dificuldades no desenvolvimento da visão”, conta.

Os oftalmologistas buscam identificar nos recém-nascidos e bebês nos primeiros meses de vida se os olhos acompanham movimentos, objetos e luzes, se há reflexo branco nos olhos quando se tira foto com flash, se ocorrem movimentos irregulares dos olhos, além de sinais de estrabismo a partir dos 3 meses de idade.

A médica destaca que a importância de levar o bebê ao oftalmologista está no fato de que eles ainda não sabem se comunicar e dizer se tem algo acontecendo.

“Os exames realizados pelos médicos oftalmologistas devem ser completos, incluindo motilidade ocular, acuidade visual, biomicroscopia, refração sob cicloplegia (grau feito com dilatação das pupilas), além de fundoscopia, no qual se observa a retina e as estruturas internas do olho”.

Óculos para bebês

As consultas feitas com regularidade permitem detectar doenças na visão ou até mesmo se o bebê tem a necessidade de usar óculos. Na internet, vídeos que mostram a reação deles ao enxergar claramente após colocar os óculos deixam o coração quentinho por mostrar os benefícios que as lentes corretivas trazem desde cedo.

Segundo a Dra Adriana, se suspeitar que o bebê tem miopia, hipermetropia ou astigmatismo, é preciso observar se ele tem dificuldade em reconhecer rostos ou em pegar objetos próximos.

“São sinais que podem ser percebidos rapidamente pelos adultos. Se o grau não for corrigido precocemente, o risco de os olhos não desenvolverem uma visão saudável é grande. Quando o problema é apenas em um deles, precisa ser estimulado para voltar a enxergar normalmente, senão acaba também gerando dificuldades lá na frente”.

Novas tecnologias também vêm surgindo e contribuindo para que o problema seja minimizado. Um deles é uma lente voltada para a desaceleração da progressão da miopia em crianças, que atua na correção da miopia e impede que os olhos se alonguem mais rápido do que deveriam. “Esse alongamento, que acontece em crianças míopes, é o responsável pela piora da condição”, explica a médica.

“A preocupação é grande, pois essas crianças estão iniciando cada vez mais cedo a miopia e isso está acontecendo pelo excesso de exposição às telas e falta de atividades ao ar livre, numa idade tão precoce, quando os olhos ainda estão em desenvolvimento. Muito importante essa consulta ainda bebê para alertar os pais e orientar um melhor controle ambiental, a fim de prevenir complicações futuras da alta miopia”, alerta a Dra Adriana Fecarotta.

As lentes dos óculos para bebês são feitas com um material especial, assim como a própria armação, adaptada para que não caia do rosto. “É importante que tanto a armação quanto a lente sejam de qualidade para não causar incômodos, alergias e nem impedir o bebê de brincar”, conclui.

O momento ideal de levar as crianças ao oftalmologista

Para Juliana Rosa, médica oftalmologista e consultora da Hoya Brasil, é fundamental investir nos cuidados com a saúde ocular das crianças.

“Visitar regularmente um médico oftalmologista para a realização de exames preventivos, adotar alguns hábitos diários, além de proteger os olhos da exposição à luz solar são algumas das recomendações. Os pais também devem manter a atenção aos comportamentos e reclamações dos pequenos”, afirma.

Confira a seguir, dicas importantes sobre o momento ideal para levar as crianças ao oftalmologista.

1. A importância de visitas regulares ao oftalmologista

De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP) em sua última recomendação (2021), “se factível, um exame oftalmológico completo pode ser feito pelo oftalmologista entre 6 a 12 meses de vida. Além disso, pelo menos um exame oftalmológico completo deve ser realizado entre 3 e 5 anos de idade, preferencialmente aos 3 anos”.

O que se quer dizer com essa recomendação é que sempre que possível, já devemos realizar o exame da criança até os 12 meses, mas quando não for possível, obrigatoriamente, o exame de 3 a 5 anos tem que ser feito.

Essas recomendações possuem o objetivo de evitar que haja alguma falha no desenvolvimento neurológico da visão, já que ocorre nos primeiros anos de vida. “O diagnóstico precoce de graus muito altos, desvios oculares, diferenças de grau entre os olhos e outras questões possibilita o tratamento em tempo hábil para evitar que o olho não se desenvolva da melhor forma”, destaca a especialista.

2. Cuidados com a saúde ocular dos bebês

As doenças infecciosas contraídas ainda na gestação são as principais causas de alterações oculares no nascimento. É preciso ter atenção ao pré-natal, com acompanhamento contínuo de um especialista para identificar qualquer problema com o bebê. Além disso, é importante tomar alguns cuidados durante o período de gestação, como lavar bem verduras e legumes, evitando a ingestão de alimentos crus, no caso da toxoplasmose; higiene das mãos, para se preservar contra herpes, por exemplo, entre outras medidas.

Em relação ao diagnóstico, o teste do reflexo vermelho (ou teste do olhinho) é realizado ao nascer, até 72 horas de vida e repetido pelo pediatra durante as consultas pelo menos três vezes ao ano durante os primeiros 3 anos de vida. A falha de visualização ou anormalidades do reflexo são indicações para um encaminhamento urgente para um oftalmologista. É importante dizer que esse teste é fundamental mas não detecta outras alterações oculares que só são diagnosticadas na consulta de rotina com o oftalmologista.

3. Fique atento aos sinais e sintomas nos olhos das crianças

A criança nem sempre consegue expressar o que sente, além de muitas vezes não ter a percepção do que é uma visão boa ou ruim. Por isso, a melhor maneira de identificar problemas oculares nas crianças é por meio de consulta de rotina com o oftalmologista.

É importante que essa consulta seja realizada periodicamente para avaliar se a visão da criança está se desenvolvendo normalmente. Os responsáveis devem ficar atentos a sinais e sintomas que possam estar relacionados a algum problema visual como: coçar os olhos, apertar os olhos, piscar muito, dores de cabeça, problemas de aprendizagem, episódios de agitação ou aparente desatenção, dificuldades na locomoção ou quedas frequentes.

Muitos responsáveis acabam não levando a criança pequena ao oftalmologista pois acham que o médico não conseguiria realizar o exame por causa da idade, mas isso não é verdade. É possível realizar um exame muito completo, com inspeção dos olhos e anexos, avaliação da função visual apropriada para a idade, avaliação da motilidade e alinhamento ocular, refração sob cicloplegia e avaliação do fundo de olho dilatado.

4. O diagnóstico precoce é muito importante

Em casos de doenças mais graves como tumores, por exemplo, o diagnóstico precoce pode salvar a vida da criança, mas felizmente esses casos graves são raros. “Nosso maior medo em relação aos casos mais comuns do dia a dia é que a criança chegue tarde ao consultório, após a fase em que ainda é possível estimular o desenvolvimento neurológico da visão”, completa Dra. Juliana.

Podemos dar um exemplo de uma criança que tenha um grau muito maior num olho do que no outro. Essa criança pode não se queixar de nada, mas seu cérebro está desenvolvendo mais a visão do olho que já enxerga melhor (de menor grau). O olho de pior visão (maior grau) pode não se desenvolver da mesma forma, o que chamamos de ambliopia (popularmente conhecido como “olho preguiçoso”).

Quando a criança chega no consultório ainda pequena, podemos fazer a correção do grau com óculos, em alguns casos usar tampão ocular, e com esses tratamentos estimular o desenvolvimento da visão igualmente nos dois olhos. Quando a criança chega tarde, muitas vezes não é possível e ela se transforma em um adulto com visão baixa em um dos olhos.

5. Realize visitas periódicas com as crianças ao oftalmologista

É sempre indicado que a criança visite o oftalmologista regularmente. Embora a maior parte dos pequenos não reclame de problemas na visão, é fundamental realizar exames periódicos, inclusive antes do período de alfabetização. Fica o alerta aos pais, que devem aproveitar o período de férias para checar a saúde ocular desse público.

Um dos grandes problemas nessa idade é a falha de desenvolvimento da visão, conhecida popularmente como olho preguiçoso ou a ambliopia. Entre alguns dos principais exames indicados para as crianças, está o teste de olhinho, realizado ainda na maternidade e promovido posteriormente no consultório do oftalmologista entre 6 e 12 meses.

Adicionalmente, é possível realizar um exame mais completo, com teste de cores e profundidade a partir dos 3 anos. Investigar doenças também são essenciais nesse período. O retinoblastoma, por exemplo, é um tumor que pode atingir a cura na maioria dos casos, mas para isso é necessário o diagnóstico precoce.

6. Fique atento aos sinais e invista em tratamentos adequados para os pequenos

A miopia é uma preocupação alarmante em todo o mundo. Estima-se que terá impacto sobre mais da metade da população mundial até 2050. A prevalência de miopia alta (- 5,00D ou maior) deve aumentar de 3%, índice atual, para 10% da população míope até 2050. Esse tipo de miopia está associada a um risco maior de patologias que ameaçam a visão, como a degeneração macular miópica, que é uma das principais causas de baixa visão e cegueira em diferentes países, como as regiões europeias e a China.

A boa notícia é que muitos casos dessa doença podem ser tratados com a utilização de óculos e lentes adequadas para cada situação. Na fase escolar, é raro que a criança indique espontaneamente que não enxerga bem, por isso a importância de exames periódicos no oftalmologista para conferir a saúde ocular.

“A visão saudável durante a infância é essencial para o desenvolvimento do pequeno(a). Dor de cabeça ao fazer um esforço visual; queda de rendimento escolar; apertar os olhos para tentar enxergar de longe são apenas alguns dos sintomas para identificar a necessidade de uma consulta com o oftalmologista”, alerta Celso Cunha, médico oftalmologista e consultor da Hoya Brasil.

após o Teste do Olhinho, exames em todas as fases da vida

O primeiro teste ocular é feito ainda na maternidade. Chamado de Teste do Olhinho, esse exame mostra se há alguma dificuldade para que a luz passe pela retina e chegue ao cérebro. No entanto, o acompanhamento clínico deve ser realizado em todas as fases da vida:

•           Entre 3 e 6 meses: para identificar possíveis dificuldades no desenvolvimento da visão e do olho ou problemas de má-formação;

•           1 ano de idade: essa consulta servirá para avaliar todo o primeiro ano de desenvolvimento da visão do bebê;

•           Entre 2 e 3 anos de idade: também para identificar problemas de formação e desenvolvimento como estrabismo (conhecido como visão dupla, olho torto ou “vesguice”) e anisometropia (foco desigual entre os olhos);

•           Entre 5 e 7 anos de idade: nesse período, o oftalmologista avaliará a existência dos problemas mais comuns como miopia, astigmatismo, hipermetropia, que podem ser uma barreira no desempenho escolar e na alfabetização;

•           Entre 12 e 15 anos de idade: nessa idade é comum que a miopia, por exemplo, comece a dar sinais, se não houver se manifestado antes.

As principais doenças oculares entre crianças e adolescentes são os erros refracionais (miopia, astigmatismo, hipermetropia) ; ambliopia (olho preguiçoso); estrabismos (desvio ocular) e alergias oculares. Porém, o exame é importante também para exclusão de doenças mais raras como retinoblastoma e outros tumores, glaucomas e cataratas congênitos e da infância.

Os sinais que devem servir de alerta aos pais para abreviarem a ida à consulta oftalmológica são desde olhos vermelhos, prurido ocular, desvios oculares (estrabismo), fotossensibilidade ou “tiques” à luz, lacrimejamento excessivo, dificuldade para enxergar ou queixas de dores de cabeça.

Com Assessorias

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