Curas milagrosas, teorias da conspiração sobre a origem da doença, falsas recomendações dos governos. A pandemia do coronavírus tem sido um dos alvos favoritos de um fenômeno típico dos tempos atuais: as fake news em larga escala. Conforme o assunto assume protagonismo de praticamente todas as esferas de discussão da sociedade, também se multiplicam notícias e informações falsas que, muitas vezes, prejudicam a prevenção e o combate contra a disseminação do vírus.

Para o professor Juliano Costa, vice-presidente de Produtos Latam da Pearson, maior empresa de aprendizagem do mundo, o momento é propício para professores debaterem o tema fake news com seus alunos.

Para evitar que o distanciamento da sala de aula e a preocupação com a pandemia impactem o engajamento de crianças e adolescentes com a aprendizagem, o professor pode usar recursos digitais simples de forma a manter a proximidade com os estudantes e associar a temática atual a assuntos estudados na escola”, afirma Juliano. “Preparar os alunos para identificar notícias falsas neste momento, além de desenvolver sua capacidade de análise crítica, pode torná-los multiplicadores de conhecimento, contribuindo para que seus familiares e amigos não disseminem esse tipo de informação prejudicial”.

Veja algumas dicas de Juliano Costa para abordar o tema das fake news com seus alunos durante a pandemia do coronavírus:

1 – Crie grupos de mensagens

Com as aulas suspensas, grupos em aplicativos de mensagens podem ser uma boa forma de manter a proximidade com seus alunos. Proponha a eles a criação de um grupo dedicado a “desmascarar” fake news sobre o coronavírus. Estimule-os a compartilhar no grupo as notícias falsas que encontrarem e ajude-os a mostrar aos demais membros do grupo por que aquilo não procede. Convidar também outros professores de matérias variadas para participar do grupo é uma boa forma de proporcionar uma abordagem multidisciplinar para a análise desses conteúdos.

2 – Compare notícias verdadeiras e falsas

Compartilhe também notícias verdadeiras nos grupos, e estimule os alunos a identificar características que as diferenciam das fake news: citação das fontes onde as informações foram obtidas, nível de detalhe dos fatos narrados, correção gramatical, se o site que dá a notícia pertence a um veículo de imprensa conhecido, entre outros pontos.

3 – Incentive uma atitude questionadora

É possível aproveitar uma característica típica de alunos jovens para fazer com que eles sempre olhem de forma crítica para todas as informações que recebem e as questionem antes de aceitá-las como verdadeiras. “Em geral, os jovens, principalmente no ensino médio, estão na fase da heteronomia, ou seja, aquela fase da vida em que o sujeito tem por hábito se posicionar contra o que é comumente estabelecido”, afirma Juliano. “Por isso, o professor deve trabalhar o ato de tomar uma atitude e questionar, para que isso possa ser aplicado também em contextos e ambientes diversos – inclusive o virtual, onde é maior a incidência de fake news“.

4 – Use o que foi aprendido em sala de aula

Nada melhor que estimular o aluno aplicar na vida real aquilo que ele estudou – especialmente quando é para ajudá-lo a diferenciar informações falsas de verdadeiras! Um professor de Biologia, por exemplo, pode relembrar as aulas sobre características e comportamento dos vírus para refutar uma mentira sobre métodos para curar a doença. Em Matemática, aulas de progressão geométrica ajudarão a prever o avanço da disseminação, de forma a desmentir conteúdos que questionem a necessidade de enfrentamento sério da pandemia. Em Português, erros básicos de gramática podem indicar que a fonte da notícia não é um veículo de comunicação de credibilidade.

5 – Estimule o debate

Evite simplesmente “jogar” a notícia no grupo e explicar por que ela é falsa ou verdadeira. Quando um conteúdo for compartilhado no grupo, pergunte aos alunos se aquilo procede e conduza um processo em que eles debatam e argumentem para chegar à conclusão correta. “É papel da educação fazer com que, desde a infância, os seres humanos adquiram informações para questionar boatos provenientes de fontes sem credibilidade e conseguir construir uma linha argumentativa para agir diretamente no combate à disseminação dessas notícias”, diz Juliano.

Nesse 1º de junho, o Dia da Imprensa passa por uma situação inimaginável: o combate contra a avalanche de fake news, por conta do novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Reforçando isso, é que em meio a pandemia o termo “desinfodemia” foi definido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como “desinformação primordial sobre a doença Covid-19”.

A ONU, em parceria com o International Center for Journalists (ICFJ), divulgou uma pesquisa cujo principal tema foi a desinfodemia relacionada à origem e à disseminação do vírus: enquanto cientistas identificaram o primeiro caso da Covid-19 ligado a um mercado de animais na cidade chinesa de Wuhan, fake news inundaram as redes sociais, acusando as redes de telefonia celular 5G e até responsabilizando os fabricantes de armas químicas.

fator determinante para que as fakes news tenham se tornado um grave problema, causando estrondosos impactos, está na desinformação ou a falta de informação, principalmente dos públicos que mais precisam se proteger contra a doença”, diz Joeval Martins, professor de Empreendedorismo, Negociação e Marketing Digital da IBE Conveniada FGV.

Durante a pandemia, inúmeras são as falsas notícias sobre sintomas, diagnósticos, números de óbitos, estatísticas sobre a cura da doença, promessas de medicamentos e tratamentos sem embasamento técnico e médico, além de alternativas milagrosas, repercussão econômica causada pela pandemia, circulando em redes como Whatsapp, Facebook, Instagram e Youtube.

“Hoje, o risco é muito grande para quem obtêm e lê esses boatos, pois o nível de instrução da pessoa que recebe a informação pode acarretar em um gravíssimo problema. As falsas notícias podem custar vidas”, alerta o professor. Na tentativa de reverter isso, o Ministério da Saúde manifesta, em entrevistas coletivas, preocupação com o fenômeno de postagens que confundem e trazem pânico à população.

O professor alerta que os impactos também podem refletir negativamente nas empresas ao produzir um conteúdo sem boas fontes, ao se posicionar ou ao compartilhar uma informação já pronta. “Essas atitudes podem ferir a reputação das empresas, mesmo que seja em algo que pareça muito pequeno, como um comentário nas redes sociais. O grande desafio é ter uma boa fonte e se certificar de conferir a informação antes de divulgá-la ao público, fornecedores ou clientes”, explica.

Com o advento das redes sociais, a situação se tornou tão grave, que a ONU considera as fake news sobre a doença “mais letais que qualquer outra desinformação”. Para o professor, a curva de evolução das redes sociais e do crescimento das fake news andam juntas, pois quanto mais pessoas consomem informações pelas mídias digitais, mais fake news são produzidas, comentadas e compartilhadas.

“Esse fator exponencial possui um cunho social muito importante, pois milhares de pessoas nunca tiveram voz. Elas consumiram a comunicação unidirecional, seja por televisão, rádio ou impresso. Elas não tinham meios de se expressar. Hoje, essas pessoas têm voz, mas muitas não sabem como fazer um bom uso desses novos recursos, ou seja, temos um outro problema”, ressalta Joeval.

Fontes confiáveis

No momento atual, de crise sanitária global causada por uma doença, é necessário ter muita cautela, comenta o professor. O especialista exemplifica, que para se certificar que uma informação é verdadeira, o primeiro passo é eleger o canal que traga o fato (não se basear apenas em comentários ou trechos), selecionando uma boa fonte jornalística (credibilidade).

“Muitas vezes, você pode estar ajudando a difundir mentiras pelas redes sociais, mesmo sem saber. Checar a fonte, a veracidade, observar o meio de comunicação de onde se está consumindo e compartilhando a informação, é cada vez mais essencial para evitar graves danos”, explica.

O Ministério da Saúde criou uma página especial para combater fake news sobre a Covid-19. É possível também checar a veracidade em outros sites, como e Boato.com, E-Farsas, Fato ou Fake, Agência Pública – Truco, Lupa, Aos Fatos, Fake Check e Comprova. No “Ministério da Saúde Responde!”, a população pode enviar fatos duvidosos publicados nas mídias, para o WhatsApp (+55 61 9938-0031).

Com Assessorias

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