A primeira infância é uma fase crucial no desenvolvimento humano, sendo reconhecida por especialistas como o período mais significativo para a formação de habilidades cognitivas, emocionais e sociais. Essa etapa compreende desde o nascimento até os seis anos de idade, em que o cérebro da criança passa por um processo extraordinário de crescimento e aprendizado. Justamente pela importância desse período, agosto foi escolhido como o Mês da Primeira Infância.
A lei 14.617, que foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União em 11 de julho, institui a data e reforça a importância de ações voltadas para essa parte da população. De acordo com o Ministério da Saúde existem mais de 20,6 milhões crianças que estão na primeira infância no Brasil, ou seja, com idades que vão de 0 aos 6 anos.
O Agosto Verde, Mês da Primeira Infância, é dedicado às ações de conscientização sobre a importância da atenção integral às gestantes e às crianças de até 6 anos de idade e suas famílias. Com isso, agosto passará a ser um mês de maior ênfase em iniciativas e políticas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e da sociedade civil para destacar a importância da imunização, da nutrição saudável e do direito de brincar, de promover vínculos afetivos, de receber atendimento integral e multiprofissional e de prevenir acidentes e doenças.
Essa conquista representa uma vitória para as crianças brasileiras. Isso porque as experiências, as interações e os estímulos vivenciados na fase da primeira infância, que vai do nascimento aos seis anos, são fundamentais para o desenvolvimento humano e geram impactos que irão refletir em toda a vida. Para especialistas, é durante essa fase da vida que as bases para a saúde física, emocional, cognitiva e social são estabelecidas. Por isso, a instituição tem um olhar ampliado para esse público, com diferentes iniciativas, e reforça a importância do cuidado integral para um crescimento saudável e pleno.
“As crianças precisam de segurança física e emocional, de afeto e estímulos, de reforço no cuidado de saúde. A primeira infância é a fase mais intensa e acelerada do desenvolvimento cerebral, motor, da linguagem e da identidade humana. Por isso, os bebês e as crianças precisam do olhar atento de seus cuidadores e de serviços de qualidade e acolhedores para crescer de forma saudável”, enfatiza Ety Cristina Forte Carneiro, diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe. Somente em 2022, a unidade atendeu 83% dos pacientes nessa faixa etária.
Cuidados nos primeiros anos de vida
Gestação – Desde o momento da gestação, a atenção à saúde da mãe e do feto é essencial. Um ambiente saudável e acolhedor para a gestante, que inclui um pré-natal adequado, monitoramento médico regular, informações sobre nutrição e cuidados e apoio emocional de uma rede de apoio são pilares fundamentais.
Vínculo afetivo – O suporte emocional oferecido pelos pais e cuidadores cria um ambiente amoroso para o bebê. O vínculo afetivo estabelecido nos primeiros anos de vida promove uma base segura, na qual a criança pode confiar e sentir-se confortável, aceita e protegida. Isso impacta também na capacidade futura para desenvolver relacionamentos saudáveis.
Amamentação – A amamentação é um dos pilares da saúde na primeira infância. O leite materno fornece nutrientes essenciais e anticorpos. Além disso, fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de doenças. O ato de amamentar é um dos melhores caminhos para construir o vínculo entre mãe e filho, com muito amor e cuidado.
Estímulos – As experiências sensoriais, brincadeiras e interações com o ambiente e as pessoas ao redor desencadeiam conexões cerebrais importantes para a criança. Portanto, a criação de um ambiente rico em estímulos, com afeto e com a oferta de oportunidades para explorar, aprender e interagir são fundamentais para o desenvolvimento físico, mental e social.
Sono – Um sono adequado e de qualidade é essencial para o desenvolvimento cerebral, consolidação da memória e regulação emocional. Pais e cuidadores devem estabelecer rotinas de sono consistentes e garantir um ambiente tranquilo e propício para o descanso da criança.
Saúde – Manter as visitas regulares a um pediatra de confiança é muito importante. Isso oferece mais oportunidades de fazer intervenções preventivas e de detectar problemas precocemente. Além de tratar da doença, o pediatra acompanha o crescimento e o desenvolvimento da criança.
‘Investir na primeira infância é investir no futuro’, diz terapeuta materno-infantil
Olívia Tani (foto) é mãe de duas crianças, terapeuta holística materno infantil e ajuda mães que não encontraram nos tratamentos “convencionais” as melhorias que buscavam para as dificuldades dos filhos. Enfrentou muitas dificuldades no puerpério do primeiro filho. E, após o nascimento do segundo, o primogênito teve uma mudança brusca de comportamento. Para enfrentar as dificuldades com a maternidade, ela foi em busca de estudos e terapias. E foi fora do Brasil que encontrou a solução que mais fez sentido, de olhar para os filhos desde a sua origem.
O conhecimento que ela divulga hoje tem embasamento científico, porém, ainda é pouco conhecido no Brasil. Por ter obtido os resultados que buscava de forma rápida e surpreendente, Olívia sentiu que sua missão no mundo era propagar esse conhecimento para outras mães que enfrentam tantos obstáculos na maternidade. Já são mais de 7 mil mães ajudadas desde 2016 e hoje conduz uma comunidade de centenas de mães que aprendem várias terapias para utilizarem no cuidado das diversas dificuldades dos filhos atuando desde as memórias intra-uterinas.
De acordo com a terapeuta materno-infantil, é primordial que os governos e a sociedade olhem com atenção para essa fase. “Investir na primeira infância é investir no futuro. E proteger um novo ser humano desde a gestação é proteger o tesouro da humanidade. Todos os esforços direcionados ao início da vida deixarão frutos para toda a vida adulta e para uma sociedade mais pacífica e equilibrada”, explica.
Desde a concepção até os seis anos, o cérebro das crianças é altamente maleável e sensível ao ambiente, o que significa que as experiências vivenciadas nesse período têm um impacto profundo nas habilidades emocionais e intelectuais. Olívia explica que estudos científicos internacionais têm comprovado já há décadas que os primeiros anos de vida, contando desde a gestação, são o período que forma toda a base da estrutura de vida de um indivíduo nos aspectos físico, mental e emocional.
“Por isso é essencial que pais e profissionais estejam preparados para cuidar dessa fase como um tesouro. Uma rejeição na gravidez ou um trauma vivido na primeira infância podem gerar prejuízos para o resto da vida da criança, se não tratados adequadamente” completa Olívia.
Depois de ter ajudado mais de 7 mil famílias com os diversos desafios da maternidade, Olívia vê como sendo urgente a expansão de consciência dos pais e da sociedade acerca dos efeitos negativos que uma infância emocionalmente negligenciada deixa para toda a vida. Segundo a especialista, a família desempenha um papel crucial na primeira infância, e para que ela consiga ser o porto seguro dos filhos desde bebês, os pais precisariam receber suporte emocional durante e após a gestação, em primeiro lugar.
“Não há como exigir dos pais que eles proporcionem educação e cuidado que eles mesmos nunca receberam enquanto filhos. Mesmo que haja orientação sobre a forma mais adequada de se acolher os filhos, as memórias inconscientes são muito mais fortes do que o entendimento racional do que é mais adequado, por isso muitos pais não conseguem mudar suas atitudes mesmo sabendo que estão prejudicando as crianças”, afirma.
Segundo a especialista, agora pode ser a oportunidade para que pais e profissionais se unam em prol do bem maior da humanidade, pois protegendo uma vida desde que foi concebida e esta tendo a chance de ser gestada em um ambiente emocionalmente tranquilo e equilibrado resultará, ao final, em uma sociedade mais tranquila e equilibrada em todos os aspectos. “A sociedade mais pacífica que todos desejam começa em cuidar de sua semente. Alguns países já acordaram para isso e agora o Brasil poderá começar a plantar novas sementes de esperança”, finaliza a terapeuta.
Olívia Tani (@olivia_tani no Instagram) hoje é terapeuta holística com especialização em Psicologia Pré e Peri Natal, única brasileira a integrar a turma de 2018 do curso Pre Natal, Birth and Attachment Psychology (Psicologia Pré-Natal, do Nascimento e Vínculo) com Myrna Martin, Elsa Asher e Chanti Smith, nos Estados Unidos. E associou este conhecimento à constelação familiar, terapia floral e Thetahealing ®
Escolas de educação infantil
E é justamente por esse período ser tão relevante que é também essencial destacar a importância da Educação nessa fase de formação. Por muito tempo as escolas de Educação Infantil foram tidas somente como espaços destinados a receber as crianças para passar o dia enquanto suas famílias trabalhavam. Felizmente esse conceito tem mudado e este primeiro contato com o ensino formal, obrigatório no Brasil a partir dos quatro anos de idade, passou a ser visto com mais atenção.
“A Educação Infantil é um marco na vida da criança e os anos iniciais na escola são essenciais para a formação de valiosos aspectos físico, psicológico, intelectual e social. É neste momento que ela expande o seu círculo de relacionamento para além do núcleo familiar e passa a ter uma nova rotina, em que interage com seus pares, vivencia novas situações, conhece e explora o mundo”, explica Camila Karino, pesquisadora na área de processos de ensino-aprendizagem e de avaliação e CEO da Geekie.
A especialista – que é psicóloga, Mestre e Doutora em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), com estágio na Universidade de New Brunswick (Canadá), onde estudou “Igualdade, equidade e eficácia do sistema educacional brasileiro” – reforça que são desenvolvidas importantes habilidades cognitivas, motoras e sociais neste início da vida escolar. E que, portanto, é uma oportunidade de aprendizado que não pode ser desperdiçada.
“Como a criança depende de apoio e orientação para realizar as diversas tarefas básicas de autocuidado, este primeiro momento do ensino formal entrelaça o cuidar e o educar. E é por meio das experiências de ensino, vivências e ferramentas lúdicas que ela conhece o mundo, adquire diversas habilidades, tem contato com suas potencialidades e amplia aspectos básicos do desenvolvimento de forma organizada e direcionada, sem uma cobrança de aprendizado formal”, destaca.
Ao longo dessa jornada na Educação Infantil, Camila ainda reforça que os pequenos ganham inúmeros benefícios que ajudam a prepará-los para as próximas fases de suas vidas.
“Entre elas, destaco o contato com a sociedade e seus colegas da mesma idade, o desenvolvimento de habilidades motoras essenciais, o acompanhamento pedagógico direcionado, a identificação de dificuldades e melhor aprendizado para cada aluno e a preparação para o letramento e a alfabetização”, elenca a pesquisadora.
Coleção Rios – E é justamente por entender a importância desses anos iniciais na educação e formação dos estudantes que a Geekie acaba de lançar a Coleção Rios. O novo material didático faz parte do Geekie One e traz uma proposta pedagógica inovadora para a Educação Infantil, visando valorizar essa fase de desenvolvimento, inspirar novas possibilidades de vivências dentro da rotina escolar e trabalhar aprendizagem ativa e significativa. Sempre respeitando a singularidade de cada um, ajudando a criança a conhecer a si e ao mundo ao seu redor e estimulando a imaginação, curiosidade e descoberta.
“O nome já diz tudo: assim como as águas fluviais estão sempre em movimento, carregadas de vida e de possibilidades, a proposta do nosso novo material da Coleção Rios é apoiar as escolas e profissionais da educação no direcionamento dos estudantes para que eles possam trilhar seus próprios caminhos rumo ao conhecimento e, assim, se prepararem para o futuro”, finaliza Camila Karino.
Orçamento Primeira Infância
De acordo com o consultor e especialista em Políticas de Primeira Infância, Vital Didonet, o Mês da Primeira Infância é um novo passo na atenção do governo e das organizações sociais aos direitos da criança de zero a seis anos, que está sendo comprovado na realização de eventos, manifestações e campanhas sobre assuntos pontuais do cuidado às crianças no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
“O mais importante nas programações é a atenção a problemas específicos de determinados grupos de crianças, à formação dos profissionais, à proteção da criança contra a violência, a exploração e o abuso, além das orientações sobre os riscos nos meios digitais, entre outros. Pode-se afirmar, com base na observação diária, que a Primeira Infância é, hoje, um tema prioritário na lista das grandes urgências políticas do país”, avalia.
Nessa mesma linha de pensamento, a diretora-presidente do Instituto Opy, Heloisa Oliveira, acredita que o Agosto Verde pode contribuir com a promoção de ações que estimulam a criação e o fortalecimento de vínculos afetivos saudáveis, de nutrição, de imunização, do direito de brincar e de prevenção de acidentes e doenças na primeira infância. “É importante aproveitar o Mês da Primeira Infância para fazer uma grande mobilização para que mais investimentos sejam direcionados para a garantia dos direitos das crianças de zero a seis anos”, destaca.
A diretora-presidente informa ainda que a Lei que criou o mês da Primeira Infância também orienta que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal deverão priorizar a discussão e votação de proposições legislativas que, de forma direta ou indireta, beneficiem as crianças na primeira infância. “Neste primeiro ano de vigência da Lei, a Câmara realiza uma Sessão Solene com uma mobilização para avançar algumas proposições que afetam positivamente os direitos das crianças”.
Atualmente, está em curso uma mobilização pela definição do chamado “Orçamento Primeira Infância”. A Lei 13.257/2016 determina que a União informe à sociedade a soma dos recursos aplicados anualmente no conjunto dos programas e serviços para a primeira infância e o percentual que os valores representam em relação ao respectivo orçamento, bem como colha informações sobre os valores aplicados pelos demais entes da Federação. “Esse dispositivo é uma sinalização para a importância de aplicar, nos orçamentos públicos, a prioridade à primeira infância que ela tem na lei e nas ações de atendimento às crianças, afirma Didonet.
Heloisa enfatiza que para que haja a promoção e desenvolvimento de políticas, programas, ações e atividades que garantam a efetivação dos direitos das crianças de zero a seis anos, o investimento na primeira infância deve ser prioridade nas políticas públicas. “Em um cenário de pós-pandemia, este é um desafio tanto para o Plano Plurianual de Atividades – PPA 2024/2027, quanto na tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e da Lei Orçamentária Anual – LOA, que serão apreciados pelo Congresso Nacional”.
Embora haja um longo caminho já percorrido nas decisões políticas, desde o início com o texto da Constituição Federal de 1988, e nas ações voltadas aos direitos da criança, ainda há muito o que percorrer para alcançar a prioridade absoluta.
“Entre os desafios a enfrentar estão a diversidade das infâncias, com características socioculturais próprias que devem ser respeitadas, valorizadas e promovidas; o retorno à visão global da criança como pessoa, na sua singularidade e subjetividade e na sua dimensão cidadã, superando a fragmentação do conhecimento, das políticas e das ações a elas dirigidas; a escuta e a participação das crianças, que implica na presença ativa na convivência comunitária, social e na definição do que lhe diz respeito; a qualidade das ações públicas de saúde, educação infantil, atenção familiar e comunitária; o enfrentamento das violências contra a criança; o abuso e a exploração; a proteção frente aos riscos que lhe chegam nos meios digitais; entre outros”, avalia o especialista Vital Didonet.
Além do olhar sobre as crianças, está a importância dos cuidadores. “Quem cuida delas exerce uma função com tripla dimensão: pessoal, profissional e política. “Cuidar de quem cuida” é crucial para que o cuidado que prestam seja não apenas valorizado e reconhecido pelo governo e pela sociedade, mas também tenha sempre a qualidade a que as crianças têm direito”, salienta Vital Didonet.
Com Assessorias