O último fim de semana de inverno no Rio de Janeiro foi marcado por sol escaldante e temperaturas que beiraram os 40 graus, lotando as praias da cidade. O calor intenso foi sentido ainda mais durante o ato público contra a PEC da Impunidade, que reuniu grandes nomes da Música Popular Brasileira e atraiu milhares de pessoas na tarde de domingo (21), na Praia de Copacabana (veja detalhes abaixo).

Na volta para casa, em dia de clássico Vasco x Flamengo, os manifestantes ainda tiveram que enfrentar uma fila imensa que se formou na entrada do Metrô Cantagalo, já que uma das entradas da estação foi fechada ao público, causando protestos e um princípio de tumulto. Despreparo da concessionária que administra o transporte metroviário ou negligência do serviço público concedido com os passageiros? Afinal, a ‘cidade maravilha’ está preparada para viver novos dias de purgatório da beleza e do caos?

Ainda é cedo para afirmar, mas o calor excessivo pode ser um sinal de que a primavera, que chega nesta segunda-feira (22), deve ser marcada por dias de calor extremo, já antecipando o que se pode esperar do próximo verão. O alerta fica ainda mais preocupante com a pesquisa divulgada na União Europeia de Geociências (EGU) alertando que o Rio de Janeiro deve se preparar para os efeitos da maior incidência de eventos extremos de calor.

A previsão é de consequências como interrupção de serviços e falta de recursos, além do crescimento dos riscos à saúde pública e à infraestrutura. Segundo os autores, para lidar com os desafios crescentes e diminuir a vulnerabilidade da população e de setores críticos em relação às mudanças climáticas, será fundamental adotar medidas de mitigação e adaptação, como um planejamento urbano adequado, ações de saúde pública e fortalecimento da resiliência urbana.

Mais de 600 mortes em mês de calor extremo

O aumento contínuo da temperatura no Brasil nas últimas décadas tem agravado os riscos à saúde, especialmente para idosos, indivíduos com doenças crônicas e grupos mais vulneráveis. O calor extremo intensifica o estresse gerado e aumenta a mortalidade por condições cardíacas e respiratórias”, alertam os pesquisadores. 

A pesquisa examinou o impacto das mudanças climáticas na onda de calor que afetou o Rio de Janeiro em novembro de 2023, quando os termômetros passaram de 40 °C e a sensação térmica chegou perto de 60 °C. Um exemplo crítico ocorreu no dia 18 de novembro daquele ano, quando a cidade do Rio de Janeiro registrou mais de 600 óbitos em um único dia, número que representa um aumento de quase 50% em relação à média diária anual.

Idosos e mulheres foram os mais impactados. Estima-se que 22,6% das mortes, aproximadamente 143 pessoas, foram diretamente relacionadas à exposição ao calor, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde.

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Medidas de adaptação mais robustas

Pesquisadores da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, concluíram que as temperaturas observadas seriam inviáveis no período pré-industrial e alertam que, em um cenário de aquecimento global de 2 °C, a chance de ondas de calor semelhantes ou ainda mais intensas triplicaria, resultando em uma nova onda de calor extrema a cada quatro anos.

O estudo indicou que as temperaturas registradas entre setembro de 2023 e março de 2024 estavam significativamente elevadas em relação à média histórica. Foi a época mais quente em 63 anos, com picos em novembro chegando a 9 °C acima da média e temperaturas alcançando 43 °C em vários bairros.

Embora o calor intenso tenha ocorrido durante o fenômeno El Niño, que modifica os padrões de circulação atmosférica e pode afetar as temperaturas, os modelos climáticos apontam que o principal motivo para a gravidade desse evento foi o aquecimento global gerado pelas ações humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis.

Embora o El Niño também influencie o calor extremo, seu papel é mais regional e secundário em comparação às mudanças climáticas”, afirma Soledad Collazo, autora principal do estudo. “Em conjunto, esses fatores apontam para um futuro em que o calor extremo será um desafio recorrente, exigindo medidas de adaptação mais robustas para proteger a saúde, a infraestrutura e os ecossistemas”.

Como foi feito o estudo

Os pesquisadores examinaram dados de 1971 a 2024 das estações meteorológicas de Alto da Boa Vista, Itaperuna, Campos, Cordeiro e Resende, definidas por sua localização estratégica e pela consistência dos registros ao longo do tempo.

Para entender como as mudanças climáticas e o fenômeno meteorológico poderiam afetar o aumento das temperaturas, eles compararam esses dados com o Índice de Aquecimento Global (GWI) e o El Niño 3.4.

A partir do cruzamento dessas informações com registros de óbitos no estado do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2024, excluindo os anos da pandemia, foi feita uma avaliação dos impactos das altas temperaturas na saúde.

A principal mensagem que o estudo deixa para formuladores de políticas e para o público é que as mudanças climáticas já não são uma ameaça distante: elas já estão intensificando o calor extremo no Brasil e custando vidas”, conclui Collazo.

Ato no RJ com Caetano, Chico e Gil repudia anistia e PEC da Blindagem

Manifestantes de diversas idades formaram multidão em Copacabana

Milhares de pessoas – de estudantes a aposentados – ocuparam neste domingo (21) a Praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, para protestar contra a PEC da Blindagem e a anistia a condenados por golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e aliados.

De acordo com os cálculos do Monitor do Debate Político no Meio Digital, vinculado à USP (Universidade de São Paulo), 41,8 mil pessoas estiveram no ato em Copacabana. Para inúmeras pessoas que estiveram no evento, entretanto, o número foi muito superior.

Aos gritos de “Sem Anistia” e “Viva a democracia”, os manifestantes se reuniram na altura do Posto Cinco da Orla de Copacabana, para escutar os discursos de lideranças políticas e assistir aos shows dos cantores Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Djavan, entre outros. 

Caetano Veloso disse, durante o ato musical, que a democracia no Brasil resiste. Segundo ele, a cultura nacional apresenta grande vitalidade. “Não podemos deixar de responder aos horrores que vêm se insinuando à nossa volta”.

Gilberto Gil lembrou que o Brasil já passou por momentos semelhantes em sua história. “Passamos por momentos parecidos sempre em busca da autonomia, o bem maior do nosso povo”, afirmou.

As manifestações ocorrem depois que a Câmara dos Deputados decidiu acelerar uma proposta de anistia, e aprovou, na última quarta-feira (17/9), a PEC da Blindagem, ou PEC das Prerrogativas, uma alteração da Constituição para proteger parlamentares de processos criminais. Na prática, a medida dificulta a abertura de processos criminais contra parlamentares, ao impor que as casas legislativas devem aprovar a abertura desses processos.

Com Assessorias e Agência Brasil

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