Nos últimos meses, o caso do lutador britânico Sean Tobin viralizou, chamando a atenção para os perigos do cigarro eletrônico. O atleta de 20 anos de idade precisou remover uma parte do pulmão que estava gravemente danificada devido ao uso do dispositivo eletrônico para fumar (DEF). O lutador de MMA, que consumia o produto desde 2018, passou pela cirurgia em julho de 2023.

O caso ilustra bem a campanha de médicos de diferentes especialidades sobre os riscos do consumo de cigarros eletrônicos. De acordo com o estudo Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática e meta-análise, conduzido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e publicado em 2022, o uso de cigarros eletrônicos aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro tradicional.

Tudo isso motivou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) – assim como a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), como vimos aqui – a fazer um alerta sobre os impactos negativos causados por tais produtos. Além de servir como uma porta de entrada para o consumo de tabaco, o coordenador do Comitê de Tumores Torácicos da SBOC e oncologista clínico, William Nassib William Junior, alerta sobre a presença de nicotina nos dispositivos, considerada uma substância altamente viciante.

“Além de não ser um método seguro para quem quer parar de fumar, os cigarros eletrônicos também causam dependência e outros problemas de saúde”, comenta. Segundo o especialista da SBOC, diversas pesquisas demonstram que o uso de tais dispositivos está associado ao risco aumentado para doenças pulmonares e cardiovasculares, exacerbação de asma, tosse, dispneia e inflamações pulmonares perigosas.

O pneumologista Ricardo Alves, e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), explica em detalhes a relação dos DEFs com a saúde pulmonar. Segundo ele, os líquidos utilizados nos cigarros eletrônicos podem conter nicotina ou não e, quando contêm, apresentam diferentes concentrações que também podem causar dependência.

“Além disso, esses líquidos têm outras substâncias que provocam danos ao endotélio – camada de células que reveste os vasos sanguíneos e linfáticos -, podendo causar inflamação e formação de coágulos na região torácica, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e lesões pulmonares”, alerta.

Estudos sobre a relação entre cigarro eletrônico e câncer

Dr. William esclarece que até o momento não existe ligação comprovada entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento de câncer porque o hábito ainda é recente, portanto, não houve tempo suficiente para os estudos detectarem esta relação.

No entanto, o fato de não haver essa comprovação não significa que ela não exista. O especialista explica que no caso do cigarro tradicional foram necessárias décadas de estudos e a morte de milhares de pessoas por câncer antes que esta associação fosse estabelecida.

Ele ainda destaca que diversas substâncias presentes nos dispositivos são conhecidas por serem cancerígenas. “Embora a quantidade dessas substâncias seja aparentemente menor em comparação com os cigarros tradicionais, isso não significa que os cigarros eletrônicos sejam seguros”, enfatiza o oncologista.

Cigarro eletrônico é tão prejudicial à saúde quanto o comum

Uso do vape também pode causar doenças pulmonares e cardiovasculares, tanto aos fumantes ativos quanto aos passivos

Existem mais semelhanças que diferenças entre os cigarros comuns e os eletrônicos. Embora a indústria que produz esses dispositivos tenda a minimizar o efeito do vape, como se fosse algo inocente e inofensivo, especialistas afirmam que ele pode ser tão perigoso quanto o cigarro comum. Isso ocorre porque o organismo inala diversas substâncias por meio do vape, algumas das quais podem ser as mesmas encontradas no cigarro.

Outro problema associado ao uso do vape é a dificuldade de quantificar o consumo do produto. “Quando alguém utiliza cigarros comuns, consegue contar quantos fumou em um dia, seja um, cinco ou dez. No entanto, no caso do cigarro eletrônico, essa quantificação se torna desafiadora. Além disso, devido à falta de odor incômodo, as pessoas muitas vezes acabam usando o vape por horas”, detalha Ricardo.

Ele explica que essa impossibilidade de contar as unidades consumidas pode levar a um consumo desenfreado. Supreendentemente, as consequências para a saúde podem ser ainda mais graves do que as causadas pelo cigarro comum.

Além disso, o especialista explica que, da mesma forma que o cigarro tradicional, o eletrônico também pode causar problemas para os fumantes passivos.

“O grande problema com o vape é que, por não produzir um cheiro desagradável, ele não incomoda tanto as pessoas, o que, por sua vez, leva muitos a fumarem mais em ambientes fechados. Isso aumenta a exposição dos fumantes passivos à inalação da fumaça”, finaliza.

Com Assessorias

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