Onze de outubro é o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade, uma doença que cresce cada vez mais, sendo considerada uma epidemia mundial: 600 milhões de adultos e 100 milhões de crianças estão obesas em todo mundo e cerca de 4 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência da doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um em cada oito adultos no mundo apresentam algum grau de obesidade. A entidade prevê ainda que, em 2025, esse número chegue a 700 milhões e 2,3 milhões de pessoas ao redor do globo apresentem sobrepeso.

Já no Brasil, a proporção de obesos é de um em cada cinco pessoas. De acordo com dados divulgados pela Pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde, a taxa de obesidade dos brasileiros cresceu 10% entre 2006 e 2018, passando de 11,8% para 19,8%, de acordo com levantamento do ano passado.

Segundo Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os maus hábitos alimentares dos brasileiros contribuem muito para o crescimento da obesidade, interferindo também na prevalência de outras comorbidades como o diabetes e a hipertensão. “O consumo de bebidas adoçadas e refrigerantes, assim como outras guloseimas ricas em açúcares e gorduras, aumentou muito no país nos últimos anos. Isso pode ter contribuído para o crescimento da população com obesidade”, explica.

Apontada pela OMS como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, a obesidade é diagnosticada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo. Para o diagnóstico da obesidade em adultos, o parâmetro mais utilizado é o do IMC (Índice de Massa Corporal). Consideram-se portadoras de obesidade as pessoas com IMC superior a 30. Já as que têm IMC entre 25 e 29,9 são portadoras de sobrepeso. O IMC é calculado a partir da divisão do peso pela altura ao quadrado (IMC = Peso ÷ Altura × Altura).

“O aumento de peso em si pode causar sobrecarga das articulações com degeneração precoce das cartilagens (artrose), limitações de movimento e dores crônicas”, explica a endocrinologista. O depósito de gordura é mais perigoso na região abdominal (gordura visceral), o que é mais comum em homens, mulheres após a menopausa, e principalmente em quem tem predisposição genética.

Esta gordura é extremamente inflamatória e pode levar a doenças graves como diabetes, hipertensão arterial, esteatose hepática (gordura no fígado) e infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (derrame), responsáveis pela mortalidade precoce desta população”, explica Dra Tarissa Petry.

Obesidade e a Covid-19

Já se sabe, desde o começo da pandemia, que a obesidade é um fator de risco importante para complicações da Covid-19. Como aponta o estudo publicado em agosto deste ano, no periódico científico Obesity Reviews , ondeos quase 400 mil pacientes estudados, sendo eles pacientes com obesidade e infectados com o novo coronavírus, apresentaram o dobro de chance de precisarem de intervenções médicas, e 74% dessa fatia tiveram risco aumentado de serem admitidos em UTIs.

Especialista no tratamento da obesidade, o médico Cid Pitombo explica que a gordura prejudica o bom funcionamento de vários órgãos, como rins, fígado, pulmão, coração e pâncreas. “Esses órgãos nos obesos funcionam no limite. Eles ficam naturalmente inflamados e não têm reservas. Quando esse indivíduo pega um vírus forte, como o coronavirus, por exemplo, seus processos inflamatórios podem ser ainda mais severos e os órgãos não suportam”, explica Cid Pitombo, que coordena o Programa de Cirurgia Bariátrica do Rio de Janeiro.

Pitombo esclarece que o mais agravante é que obesos têm uma resposta imunológica muito mais lenta. Ou seja, as substâncias que poderiam atacar vírus, como anticorpos e outras, não são produzidas com a mesma velocidade e intensidade como nas pessoas mais magras.

“Normalmente eles possuem mais açúcar e gordura no sangue, mesmo não sendo diabéticos. Algumas vacinas, por exemplo, não possuem a mesma eficácia porque obesos não produzem a quantidade esperada de anticorpos. É o que acontece com a da gripe H1N1. Ainda não sabemos como será com a vacina da Covid-19. Mas temos esse temor”, afirma. Ainda segundo Pitombo, a gordura visceral, localizada na barriga, chega a prejudicar o bom funcionamento do pulmão e a má oxigenação se reflete no corpo todo.

Tratamentos para a obesidade

Existem quatro medicamentos aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratamento de obesidade. “É importante que todos saibam que obesidade é doença e, portanto, exige tratamento. A mudança do estilo de vida é fundamental no processo de perda e manutenção do peso, mas as medicações se fazem necessárias na maioria dos casos.

Quando o tratamento clínico da obesidade não traz os resultados esperados, a melhor opção é a cirurgia bariátrica. Estudos recentes comprovaram que o procedimento muda o paladar, controla a saciedade e transforma a relação de recompensa com a comida, motivando ainda mais a mudança de estilo de vida.

No Brasil, a cirurgia é liberada para pacientes com IMC igual ou superior a 40kg/m² ou IMC entre 35kg/m² e 40kg/m², desde que o paciente tenha comorbidades relacionadas à obesidade.Além disso, em pessoas com o IMC acima de 30 kg/m² e que apresentem diabetes descompensado apesar do tratamento clínico, a cirurgia metabólica também é permitida.

“Quanto mais a pessoa com obesidade espera para procurar tratamento, maior a chance de complicações associadas à doença, como quadros de hipertensão, diabetes, infarto e derrame. Além de um tratamento adequado, o ideal é unir esforços para investir na prevenção”, reforça a médica.

Para Cid Pitombo, nesse momento, todos deveriam buscar o emagrecimento. E temos visto o contrário. As pessoas comendo mais do que o normal porque estão nervosas e com fácil acesso a comidas industrializadas”, destaca o médico, que é também coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro, onde pacientes chegam a perder 100 quilos antes da cirurgia apenas com orientação nutricional adequada.

Um deles é o João Rafael Zippel, 28 anos, técnico de Mecânica Industrial, morador de Seropédica, que entrou no programa em 2019, pesando 270kg, e de lá para cá perdeu 100kg. “O meu segredo para emagrecer foi querer muito mudar a minha vida. Eu tinha um comportamento compulsivo com relação à comida. Reconhecendo que precisava mudar radicalmente, fui cortando tudo o que fazia mal ao meu organismo. Aos poucos, fui me adaptando. Depois da bariátrica espero ter uma vida normal, sem discriminação e conseguir emprego”, relata.

Estigma da obesidade

Além das complicações e doenças associadas a obesidade, os pacientes que enfrentam a doença também sofrem com um estigma social ainda enraizado na sociedade. Um estudo publicado no início deste ano no periódico científico de alto impacto Nature Medicine e assinado por mais de 100 instituições no mundo, incluindo o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, mostrou que o preconceito contra a obesidade pode comprometer a saúde, dificultando o acesso aos tratamentos adequados, afetando o convívio social e prejudicando a saúde mental.

O coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ricardo Cohen, explica que uma das grandes barreiras para o acesso ao tratamento adequado dessas enfermidades é a estigmatização e preconceito contra os portadores da doença. “Parte do público e mesmo alguns profissionais da saúde ainda enxergam a obesidade como um estilo de vida inadequado ou até mesmo más escolhas, os quais geram incontáveis problemas para o indivíduo”, explica o cirurgião bariátrico.

Evidências científicas comprovam ainda que esse estigma pode causar prejuízos físicos e psicológicos, e indicam que a probabilidade de procurar e receber cuidados adequados é menor nas pessoas afetadas pelo preconceito. O indivíduo com obesidade costuma ser visto como preguiçoso, guloso, sem força de vontade ou autodisciplina, e está mais vulnerável ao estigma do peso em ambientes como o trabalho, instituições de ensino e até durante os atendimentos médicos.

Um estudo promovido pelo médico Cid Pitombo entre seus pacientes aponta que 86% das pessoas que passaram pelo tratamento da obesidade pararam de gastar mensalmente com medicamentos. Dos que estavam desempregados, 33% conseguiram uma colocação profissional após a cirurgia. E gastos com alimentação, higiene e vestuário diminuíram 50%.

10 dicas para prevenção da obesidade

• Faça de cinco a seis refeições por dia, com intervalo de três horas entre elas, se você sente muita fome antes das grandes refeições

• Adote uma dieta saudável, rica em frutas, legumes, verduras e cereais integrais;

• Evite comer frituras, massas, pães e doces em excesso;

• Evite alimentos industrializados e fast food;

• Troque o refrigerante por água;

• Pratique 30 minutos de exercício físico quatro a cinco vezes por semana. Lembre-se: antes de iniciar qualquer atividade é importante passar por avaliação médica;

• Evite comer sentado em frente à TV, mexendo no celular ou no computador. A pessoa pode acabar perdendo o controle do que está comendo e ingerindo o alimento muito rápido, demorando mais para saciar a fome;

• Utilize mais vezes a escada, ao invés de elevador. Isso aumenta a queima de calorias;

• Não faça compras de alimentos nos supermercados antes das refeições e com fome. Isso evita a compra de alimentos mais calóricos;

• Durma pelo menos oito horas por dia. A privação de sono provoca impacto no apetite, na fome e no gasto energético.

Com Assessorias

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