A cada sete crianças brasileiras, uma está acima do peso. É o que aponta o último levantamento do Ministério da Saúde, realizado em 2023. A obesidade infantil é um distúrbio nutricional cada vez mais frequente e preocupante, não apenas pelo impacto na saúde física, mas também pelos reflexos cognitivos, emocionais e sociais, que podem se estender por toda a vida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a obesidade como uma doença crônica e aponta que 650 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com a condição. A estimativa é que existam 75 milhões de crianças obesas no planeta e no Brasil, de acordo com a Federação Mundial da Obesidade, até 2035 haverá 20 milhões de crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde alertam que a obesidade infantil afeta 3,1 milhões de crianças com menos de 10 anos. De acordo com dados recentes do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), em 2025, 6,84% das crianças brasileiras de 0 a 5 anos apresentaram peso elevado para a idade. Já entre as crianças de 5 a 10 anos, o percentual sobe para 13,55%, o que significa que mais de 228 mil crianças nessa faixa etária estão acima do peso ideal.

A doença oferece riscos para todas as faixas etárias e, dentre os problemas de saúde que ela pode ocasionar, destacam-se: hipertensão, diabetes, problemas respiratórios, dificuldade de locomoção e, a longo prazo, uma vida adulta com menor qualidade de vida.

Junho marca dia de conscientização sobre a questão e especialistas destacam a necessidade de ações precoces para garantir a saúde das crianças. Nesta terça-feira, 3 de junho, acontece o Dia da Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil, um problema de ordem global. A datareforça a urgência de alertar a sociedade sobre o tema, que vai muito além do excesso de peso e pode comprometer o desenvolvimento juvenil.

Especialistas destacam que hábitos alimentares inadequados estão diretamente ligados ao crescimento de condições como obesidade, diabetes e hipertensão. A recente atualização das diretrizes para cirurgia bariátrica, que amplia o acesso ao procedimento para adolescentes maiores de 14 anos, reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para a promoção da alimentação saudável e da prevenção de doenças.

A obesidade infantil não afeta apenas a aparência ou o peso corporal, mas compromete seriamente o desenvolvimento saudável da criança. Os principais problemas de saúde associados incluem distúrbios metabólicos, como aumento do risco de diabetes tipo 2, colesterol alto e resistência à insulina, além de doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos e distúrbios respiratórios”, afirma Michele Alves, pediatra da Santa Casa de Misericórdia de Chavantes.

Além dos riscos físicos, há também impacto no desenvolvimento motor e emocional. “Embora qualquer fase da infância possa ser afetada, a primeira infância e a pré-adolescência são especialmente críticas. Quanto mais cedo o problema for identificado e tratado, maiores são as chances de reverter ou minimizar seus impactos ao longo da vida”, reforça.

A médica também chama a atenção para a influência do ambiente no surgimento da obesidade infantil. “Observo nos atendimentos que tanto a genética quanto o ambiente influenciam, mas o ambiente tem um peso mais determinante na maioria dos casos. Alimentação inadequada, sedentarismo, hábitos de sono prejudiciais e o excesso de tempo diante de telas favorecem e sustentam a obesidade”, explica.

Como diagnosticar e tratar a obesidade infantil

Apesar de impactar a saúde na infância, sobrepeso é reversível, diz especialista

Segundo o pediatra credenciado da Omint,  Adalberto Stape, o diagnóstico de obesidade infantil é feito clinicamente, por meio de avaliações que incluem o Índice de Massa Corporal (IMC), a circunferência abdominal e a medição de pregas cutâneas. Essas análises podem ser realizadas por pediatras, endocrinologistas, nutricionistas e nutrólogos. “A obesidade é uma condição crônica que compromete o desenvolvimento físico e cognitivo, podendo afetar a atenção, a memória, a capacidade de planejamento e até o desempenho escolar”, explica o médico.

Entre os principais riscos do sobrepeso em crianças estão o desenvolvimento precoce de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol alto e distúrbios respiratórios, como apneia do sono, além de problemas ortopédicos e articulares. “A obesidade também está associada à puberdade precoce, especialmente em meninas, o que pode impactar negativamente o crescimento da criança”, detalha Stape.

O médico ainda destaca que os impactos não se limitam ao corpo. “Estudos indicam que crianças obesas apresentam pior desempenho em funções cognitivas, como controle de impulsos e flexibilidade cognitiva. Esses efeitos são resultado do estado inflamatório crônico associado à obesidade e de alterações hormonais que afetam o funcionamento do cérebro.”

Para o pediatra Adalberto Stape, o tratamento da obesidade infantil precisa ser multidisciplinar e contar com o envolvimento ativo da família. “É necessário mudar hábitos alimentares, reduzir o tempo de tela, incentivar atividades físicas e promover um ambiente emocionalmente saudável. Sem o engajamento dos pais, é muito difícil alcançar bons resultados”, comenta o especialista.

médico Marcelo Bechara, estudioso em obesidade, explica que a obesidade requer atenção em qualquer fase da vida.  “O excesso de gordura corporal impacta diretamente o bem estar e a saúde de todas as faixas etárias, e isso inclui as crianças. Doenças como diabetes, hipertensão e apneia, além de problemas como puberdade precoce e distúrbios ortopédicos, são algumas das consequências do sobrepeso”, explica o médico.

A boa notícia é que mesmo durante a infância, a obesidade tem tratamento. “O sobrepeso pode ser tratado com a prática de atividades físicas e esportes, além da adoção de uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes e proteínas. Outro ponto importante, é o acompanhamento médico”, conclui Bechara.

Alimentação inadequada agrava doenças crônicas e desafia políticas de saúde

Novas diretrizes ampliam o acesso à cirurgia bariátrica e especialistas reforçam debate sobre prevenção e alimentação saudável

O Brasil enfrenta um desafio crescente em saúde pública, com a má alimentação impulsionando o avanço das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs).   Um dos principais erros cometidos pela população hoje é o consumo de alimentos ultraprocessados.

Mariane Barbosa, professora de Enfermagem da Una Itumbiara, explica que “a alimentação rica em ultraprocessados, como salgadinhos e refrigerantes, aumenta o risco de desenvolver diversas doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e anemia”.

A docente destaca que “o alto teor de açúcar e carboidratos refinados causa flutuações no nível de glicose no sangue, aumentando o risco de resistência à insulina e do desenvolvimento de diabetes tipo 2. Além disso, o excesso de sódio contribui para o aumento da pressão arterial e a baixa quantidade de nutrientes, como ferro, pode levar à anemia”.

Suziane Martins Severino, professora de Nutrição da Una Jataí, aponta que a má alimentação afeta o desenvolvimento infantil. “Crianças e adolescentes que não se alimentam de forma correta podem ter atraso no crescimento ou aumento de peso em um momento que isso não é interessante”.

A alimentação inadequada também se reflete em sinais físicos. “Cansaço excessivo, ganho de peso, retenção de líquidos, alterações de humor, problemas digestivos, pele ressecada e queda de cabelo são alguns dos sinais que o corpo pode dar ao ser nutrido de forma errada”, alerta.

Obesidade e sobrepso são reflexos da má nutrição

obesidade e o sobrepeso são formas de má nutrição. Segundo Barbosa, “eles resultam de um desequilíbrio entre a ingestão de calorias e o gasto energético, muitas vezes acompanhado de hábitos alimentares pouco saudáveis e deficiências em nutrientes essenciais”. A longo prazo, isso pode levar a diversas doenças e problemas de saúde, comprometendo a qualidade e a expectativa de vida.

As especialistas ressaltam que grupos como crianças, idosos e pessoas de baixa renda são mais vulneráveis aos efeitos da má alimentação. “A má alimentação em crianças pode afetar o desenvolvimento físico e cognitivo, enquanto em idosos pode levar à desnutrição e doenças crônicas”, salienta Barbosa. Severino complementa: “As crianças e adolescentes que não se alimentam bem podem ter seu crescimento comprometido, desencadear problemas como a síndrome metabólica ou desenvolver obesidade precocemente”.

A recente atualização das diretrizes para cirurgia bariátrica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) amplia o acesso ao procedimento, incluindo pacientes com IMC entre 30 e 34,9 com comorbidades e adolescentes a partir de 14 anos em casos específicos. Essa mudança reflete a crescente preocupação com a obesidade e seus impactos na saúde pública.

No entanto, Severino ressalta que “a mudança de hábito é realmente uma tarefa difícil, mas não impossível. O ideal é começar com pequenas mudanças de cada vez”. Ela destaca que “a alimentação equilibrada é aquela na qual o indivíduo se alimenta com vários grupos de alimentos, dando prioridade para os minimamente processados, preparações culinárias. Quanto mais colorida e diversificada for a alimentação, mais saudável e equilibrada ela é, lembrando que, quando falamos de cor dos alimentos, nos referimos à sua cor natural, não aos colorantes artificiais”.

Barbosa acrescenta que “campanhas de conscientização podem auxiliar significativamente na melhoria dos hábitos alimentares da população ao fornecer informações, incentivar a adoção de hábitos saudáveis e promover mudanças comportamentais”. Ela sugere práticas como “educação alimentar e nutricional, oferta de lanches e refeições saudáveis nas escolas, incentivo à produção de hortas escolares e envolvimento da comunidade”.

O papel dos pais começa na introdução alimentar

Especialistas explicam que a prevenção do excesso de peso deve ser iniciada desde a introdução alimentar

Segundo a nutricionista Carla Borges, da Santa Casa de Misericórdia de Chavantes, os erros alimentares mais comuns na dieta das crianças brasileiras são o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, a falta de frutas e legumes, a introdução precoce de alimentos sólidos e o uso excessivo de sal e açúcar. “Refrigerantes, sucos industrializados, salgadinhos, biscoitos recheados e embutidos impactam negativamente a saúde infantil”, diz.

Dra. Carla ainda orienta que, quando a criança rejeita frutas e vegetais, o mais indicado é criar um ambiente alimentar positivo e respeitoso, sem imposição. “Envolver os pequenos nas escolhas e preparo dos alimentos, apresentar os alimentos de forma atrativa, estabelecer rotinas de refeições, dar o exemplo e respeitar o tempo da criança são estratégias que ajudam a aumentar a aceitação desses alimentos”, aconselha.

O tratamento da obesidade infantil, segundo as especialistas, deve ser multidisciplinar, com apoio psicológico, pediátrico e nutricional. Carla reforça que é fundamental procurar um especialista sempre que surgirem sinais como seletividade alimentar, mudanças de peso repentinas, deficiências nutricionais, dificuldades na introdução de novos alimentos ou problemas de saúde relacionados à alimentação.

De acordo com a nutricionista materno-infantil credenciada da Omint, Renata Marques, a prevenção da obesidade infantil deve começar nos primeiros anos de vida, mais especificamente durante a introdução alimentar.

Esse é um momento fundamental, em que a criança começa a formar o paladar e a estabelecer sua relação com a comida. Quando bem conduzida, essa fase pode reduzir o risco de obesidade, seletividade e compulsões no futuro”, afirma.

Marques explica que a variedade de sabores, texturas e a ausência de pressões durante as refeições são fundamentais. “A forma como os alimentos são apresentados, sem punições ou recompensas, influencia diretamente como a criança irá se relacionar com a comida ao longo da vida”, ressalta.

Como os pais podem ajudar no dia a dia?

Para famílias com rotinas corridas, Renata recomenda planejamento e simplificação. Montar cardápios semanais, preparar marmitas caseiras, congelar porções saudáveis e ter sempre opções rápidas, como frutas cortadas, ovos ou sopas prontas, ajuda a manter a alimentação equilibrada, mesmo com pouco tempo. Segundo ela, “os pais devem dar o exemplo”. “A alimentação familiar tem papel decisivo na formação dos hábitos dos filhos”, explica a especialista.

A especialista alerta para os principais erros que os pais devem evitar:

● forçar a criança a comer;

● utilizar a comida como prêmio ou punição;

● oferecer alimentos ultraprocessados precocemente;

● fazer refeições com distrações, como TV ou celular;

● impor dietas restritivas;

● não respeitar os sinais de fome e saciedade.

Com Assessorias

 

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