O ano de 2023 começou de forma violenta em algumas escolas do país. Somente nesses quatro primeiros meses, casos já foram registrados em São Paulo, onde uma professora morreu, vítima de arma branca, em uma creche de Santa Catarina, na qual quatro crianças vieram a óbito na última semana, e em Brasília (DF), onde um aluno do oitavo ano ameaçou abrir fogo contra os colegas de classe que fossem à escola naquele dia.

Os casos comprovam o que se tem observado na saúde mental desses adolescentes, a contar do retorno às atividades presenciais. Desde o primeiro caso deste tipo, registrado em 2002, em uma escola de Salvador (BA), as ocorrências tiveram um aumento de 40%, reforçando a percepção negativa que o ambiente escolar traz a esses alunos. O que deveria ser um ambiente de descontração, alegria e aprendizado tem se tornado um local de humilhação, preconceitos e acontecimentos como o bullying, que tem preocupado, cada vez mais, as autoridades e os especialistas no assunto.

Para a psicóloga Andrea Chaves, fatores relacionados à saúde mental destes alunos, como estresse, falta de autoestima durante as aulas, ansiedade no momento da realização de uma prova ou, até mesmo, ausência e dificuldade de socialização, são algumas das condicionantes relacionadas a episódios de violência nas escolas. Além disso, questões referentes a problemas familiares, comportamentos inadequados, principalmente, de pessoas adultas, desestruturação social e econômica também podem influenciar diretamente na forma como esses alunos se sentem e lidam com as emoções no dia a dia.

A especialista ressalta, também, que muitos grupos que estão por trás da internet, movidos, em grande parte, por adultos ou pessoas que enfrentam os mesmos problemas, viram um canal de desabafo para os jovens. “Esses estudantes acabam encontrando, nas redes, um lugar de amparo e proteção que, muitas vezes, não têm em casa. Assim, deparam-se com todo tipo de discurso, que pode desencadear ações negativas e uma série de impactos que podem influenciar seu comportamento de forma errada”, pondera a profissional.

E como a rede de apoio pode ser aliada nesses casos?

Para a profissional, uma rede de apoio estruturada, tendo a escola e a família como suporte, é essencial para acolher os estudantes, entender o que se passa em sua rotina e para guiá-los da melhor forma, no sentido de compreender sentimentos, questões sociais e lidar com fatores individuais e coletivos.

“É importante que as escolas e toda a rede de apoio tragam mais processos relacionados à psicoeducação, abordando temas transversais, como saúde mental, autoestima, questões de etnia, raça, cor e gênero, por exemplo. É preciso trabalhar as individualidades desses jovens e ensiná-los a conviver com as próprias emoções e com os outros”, aponta a psicóloga.

Andrea também chama a atenção para a importância do Estado pensar em ações multiarticuladas, nas quais os profissionais da educação possam encaminhar esses jovens em situação de bullying e preconceito a locais de atendimento para que tenham apoio profissional adequado.

“A saúde mental destes indivíduos, como em qualquer outra área, é importante. Portanto, na identificação de qualquer problema com a criança ou o adolescente, é importante que a escola possa comunicar a família e direcionar o jovem para os cuidados adequados, com especialistas na área, a fim de acolhê-lo e orientá-lo da melhor forma”, finaliza a profissional.

A violência escolar em números

80% dos profissionais da educação disseram já ter sido vítimas de algum tipo de agressão, sendo a maioria violência verbal, seguido de violência psicológica;

Ao menos 7% dos profissionais já teriam sido agredidos fisicamente;

Desde janeiro de 2022, no Estado de São Paulo, os docentes deixaram de ter seus 15 minutos de descanso, pois precisavam estar com os estudantes a fim de evitar brigas;

Somente nos dois primeiros meses de 2022, foram registrados 4.021 casos de agressões físicas nas unidades estaduais do Estado de São Paulo, o que equivale a um aumento de 48,5% no que se refere ao mesmo período de 2019, último ano de aulas presenciais antes da pandemia de Covid-19;

No Brasil, há ambiente mais propício ao bullying;

28% dos diretores escolares brasileiros testemunharam situações de intimidação ou bullying entre alunos. Este é o dobro da média da OCDE;

Semanalmente, 10% das escolas brasileiras registram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, ao passo que a média internacional é de 3%;

Em 2017, 12,05% dos professores disseram ter sido vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos, pelo menos, uma vez por semana. A média global é de 3,4%.

Fontes: Plataforma Conviva (Placon), Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

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