Muita gente não sabe, mas a pressão alta é um problema que não afeta apenas o coração. O rim, responsável por filtrar o sangue, é um órgão que pode sofrer consequências da hipertensão arterial.

Uma das funções dos rins é regular a pressão arterial pelo aumento ou diminuição do volume sanguíneo. Quando a pressão cai e o fluxo sanguíneo diminui, os rins secretam substâncias que atuam para fazer a pressão aumentar até o valor normal.

É o que explica a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

“A longo prazo, a hipertensão descontrolada pode levar a uma sobrecarga no funcionamento desse órgão, que pode culminar com a disfunção renal crônica ou falência renal. Por isso, é fundamental adotar meios de controlar o aumento da pressão”.

De acordo com a nefrologista, os rins e o sistema circulatório dependem um do outro para uma boa saúde.

“Os rins ajudam a filtrar resíduos e fluidos extras do sangue, usando muitos vasos sanguíneos. Quando os vasos sanguíneos são danificados, os néfrons que filtram o sangue não recebem o oxigênio e os nutrientes de que precisam para funcionar bem. É por isso que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, explica a médica.

Com o tempo, a hipertensão arterial prejudica os vasos sanguíneos renais. “Os néfrons nos rins são supridos com uma densa rede de vasos sanguíneos e altos volumes de fluxo sanguíneo através deles. Com o tempo, a pressão alta descontrolada pode fazer com que as artérias ao redor dos rins se estreitem, enfraqueçam ou endureçam. Essas artérias danificadas não são capazes de fornecer sangue suficiente ao tecido renal”, diz a médica.

Artérias renais danificadas não filtram bem o sangue. Os rins têm néfrons pequenos, semelhantes a dedos, que filtram o sangue.  Cada néfron recebe seu suprimento sanguíneo através de minúsculos capilares semelhantes a cabelos, o menor de todos os vasos sanguíneos. Quando as artérias são danificadas, os néfrons não recebem o oxigênio e os nutrientes essenciais.

“Em seguida, os rins perdem a capacidade de filtrar o sangue e regular os fluidos, hormônios, ácidos e sais no corpo. Além disso, os rins danificados não regulam a pressão arterialRins saudáveis respondem a um hormônio chamado aldosterona, que é produzido nas glândulas suprarrenais, para ajudar o corpo a regular a pressão arterial. Danos nos rins e pressão alta descontrolada contribuem para uma espiral negativa. À medida que mais artérias ficam bloqueadas e param de funcionar, os rins eventualmente falham”, destaca a médica Dra. Caroline Reigada.

A especialista enfatiza que a insuficiência renal devido à pressão alta é um processo cumulativo que pode levar anos para se desenvolver

. “Mas você pode limitar seu risco gerenciando sua pressão arterial. É importante ficar claro que esse cuidado é um compromisso para toda a vida. O paciente deve ter uma dieta bem equilibrada com baixo teor de sal, limitar álcool, ter um consumo adequado de água, praticar atividade física regularmente, gerenciar o estresse, manter um peso saudável, parar de fumar, tomar seus medicamentos corretamente e trabalhar em conjunto com o seu médico”, finaliza a médica nefrologista.

Como prevenir a síndrome plurimetabólica

Por Lecticia Jorge*

O organismo humano é completamente interligado e hábitos saudáveis de vida podem evitar diversas doenças que se relacionam e atingem diversos órgãos. Ao reduzir a ingestão de sódio (contido no sal e em alimentos industrializados), podemos tentar evitar a hipertensão, o diabetes, a doença renal, e as doenças vasculares que atingem artérias causando doenças cardíacas e cerebrais.

O mesmo acontece com a redução na ingestão de açúcares, carboidratos, gorduras ruins e álcool. Ingerir quantidades adequadas de líquidos para manutenção de uma hidratação adequada e evitar o tabagismo são outras medidas importantes. O sedentarismo também é um grande responsável pelo maior acometimento dessas diversas doenças, conjuntamente conhecidas como síndrome plurimetabólica, que estão se tornando cada vez mais incidentes no mundo moderno.

“Nós nos adaptamos a modificar o sabor natural dos alimentos e comer mais comidas processadas e industrializadas que alimentos in natura. Deveríamos ingerir no máximo 5 gramas de sal por dia e hoje usamos até o triplo. Adicionamos sal, açúcar, manteiga e outros óleos a tudo o que ingerimos, sem medir os riscos”.

Criamos muitos alimentos com mistura de farinhas que acabam exigindo o uso de óleos. E, além de prepararmos nossos alimentos em casa com muito sal, açúcar e óleos, ainda nos alimentamos muito em restaurantes ou com alimentos prontos, industrializados, muitas vezes conservados por sódio e com pobre qualidade nutritiva.

Um desafio: trocar alimentos saborosos por saudáveis e nutritivos

Temos um grande desafio na saúde pública que é convencer as pessoas a mudarem hábitos de vida, a trocarem alimentos “gostosos” como pizza, hambúrgueres, bolos e pães por alimentos mais saudáveis e nutritivos. Como complicador, esses alimentos “tentadores” são mais práticos e até mais baratos.

Para completar, bebemos pouco líquido, somos mais sedentários porque trabalhamos sentados ou em pé, mas sem nos movimentarmos muito e temos pouco tempo para exercícios físicos.

“Então hoje temos um número crescente de pessoas cada vez mais jovens sofrendo com pressão alta, diabetes tipo 2 e outras doenças associadas à síndrome plurimetabólica. Ainda que o cigarro tenha o uso reduzido, os jovens estão ingerindo muito álcool e são ameaçados hoje com o crescimento do uso de cigarro eletrônico”.

Gerenciamento do estresse

Existem vários outros motivos que podem levar ao desenvolvimento da pressão alta, além dos alimentos e do sedentarismo. E o estresse é também um grande motivador. Mas a vida moderna é cheia de desafios. E é praticamente impossível evitarmos completamente o estresse.

O que recomendamos às pessoas são mudanças que possam levar a um melhor gerenciamento dos seus problemas pessoais, e nisso entra também a prática de atividades físicas. Quando nos exercitamos, liberamos hormônios importantes que regulam a atividade cerebral e com isso conseguimos pensar melhor sobre nossa vida no que tange aos estudos, ao trabalho e à família.

Afinal, temos que tomar decisões importantes o tempo todo e quanto mais acertamos, menos estresse sentimos. Cada pessoa escolhe sua forma de gerenciar o estresse, mas o que temos visto também é o crescimento de práticas de meditação, maior contato com a natureza, plantas e animais. E a prática de exercícios são fatores que apoiam bastante.

Rins x pressão alta

Os rins são órgãos fundamentais no controle da pressão arterial por produzirem hormônios que aumentam a pressão todas as vezes que eles reconhecem que estão recebendo pouco sangue, por exemplo, ou quando eles estão “inflamados” em um contexto de glomerulonefrite.

Por outro lado, os níveis pressóricos elevados são muito lesivos aos rins, já que esses órgãos possuem uma estrutura de vasos muito delicada por onde é filtrado o sangue, não podendo, por exemplo, deixar que proteínas sejam perdidas.

hipertensão arterial e a perda de proteína na urina são reconhecidamente os dois fatores de risco principais que aceleram a progressão da doença renal. Quando essa estrutura delicada é submetida a um regime de alta pressão ela se distende e se danifica permitindo a perda de proteínas e a formação de lesões de esclerose, que são como cicatrizes.

Logo, essa distensão acaba gerando a lesão da estrutura que em última análise fará pacientes que possuem problemas renais perderem seus rins mais rapidamente e pacientes que não possuem começarem a ter problemas. Em todas essas situações, a perda da função renal será tão mais rápida quanto maior for o descontrole pressórico e muitas vezes o principal tratamento para desacelerar o processo é o controle pressórico rigoroso.

“Não é possível se falar e pensar em hipertensão arterial sem falar em doenças renais, assim como é impossível se falar e pensar em doenças renais sem falar de hipertensão arterial e controle da pressão arterial. Cuide da pressão arterial e cuide dos seus rins”.

*Médica nefrologista e gerente médica da Fresenius Medical Care

Dicas valiosas para prevenir problemas:

– Pacientes com hipertensão arterial devem realizar investigação de doenças renais visando descartar que a causa da hipertensão seja problemas renais.

– É recomendado que todo paciente hipertenso faça exames da sua função renal ao diagnóstico e posteriormente uma vez no ano, além de exames urinários. Se alterações urinárias forem encontradas, uma consulta com nefrologista está indicada. Os exames de imagem do rim, dos vasos do renais e das glândulas adrenais são muitas vezes indicados, porém eles dependem de uma avaliação médica que leva em consideração idade, história e exame físico.

– Pacientes com problemas renais devem controlar a pressão arterial rigorosamente visando retardar a progressão da doença renal e reduzir o risco de lesões cardiovasculares. Aqui vale ressaltar que pacientes renais possuem um risco cardiovascular altíssimo, extremamente maior que a população geral, sendo essas doenças a primeira causa de óbito nesse grupo de pacientes.

As doenças renais que causam hipertensão são diversas, mas vale ressaltar algumas principais como: estenose arterial renal, hiperaldosteronismo primário, glomerulopatias primárias (como nefropatia IgA), glomerulopatias secundárias (como lúpus eritematoso sistêmico e nefropatia diabética).

 

Com assessorias

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