O Ministério da Saúde vai lançar em breve um protocolo para orientar o tratamento da Covid-19 no país. Entre os prováveis medicamentos, estão a cloroquina e a ivermectina, amplamente defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro, porém, ineficazes no enfrentamento à doença causada pelo coronavírus, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

No fim de semana, no entanto, a pasta divulgou uma nota, em que nega que será criado um protocolo para o uso de cloroquina, conforme publicado pelo Globo. Em entrevista coletiva no sábado (24) para fazer um novo balanço da vacinação, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga reafirmou a diretriz.

De acordo com a pasta, o Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica (PCDT) reunirá as evidências científicas disponíveis acerca dos medicamentos e condutas utilizadas no tratamento da doença causadas pelo novo coronavírus. O protocolo será submetido à aprovação do Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) e, quando aprovado, servirá como guia para orientar a conduta dos profissionais de saúde.

“O que vou fazer é submeter à Conitec a análise de todos os fármacos que se usam no tratamento da covid-19, qualificando a evidência científica que há em relação a cada um deles”, explicou o ministro em entrevista ao O Globo.

Queiroga afirma que o desejo do presidente Jair Bolsonaro é de que os profissionais de saúde tenham autonomia no tratamento dos pacientes infectados pelo coronavírus. Sobre medicamentos como a cloroquina e a ivermectina, o ministro admite que haveria benefícios:

Hoje há consenso amplo de que essa medicação em pacientes com Covid grave, em grau avançado, não tem ação, embora em pacientes no estágio inicial, existem alguns estudos observacionais que mostram alguns benefícios desses dois fármacos em pacientes no estágio inicial da doença”, afirmou Queiroga ao Globo.

Atualmente, cada médico decide o medicamento que poderá empregar no tratamento de seus doentes com Covid, conforme decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em São Paulo, no entanto, 25 processos foram abertos no Conselho Regional de Medicina (Cremesp) para investigar médicos acusados de prescrever tratamento precoce sem comprovação científica para seus pacientes. No Estado do Rio de Janeiro, o Cremerj ainda não informou se analisa procedimentos semelhantes.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda tratamento precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais.

Não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19. A orientação da SBI está alinhada com as recomendações de sociedades médicas científicas e outros organismos sanitários nacionais e internacionais, como a Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e a da Europa (ESCMID), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS), além da própria Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (Avisa).

Para Átila Iamarino, uma das principais vozes no Brasil nessa pandemia,, outro risco do tratamento precoce com medicações encontrados em farmácias é que, além de provocar problemas renais e ao fígado, entre outros, podem fazer com que as pessoas se exponham mais, achando que estão protegidas, e acabar pegando o vírus. “Bolsonaro promove kit-Covid e incentiva que pessoas se exponham mas, se infectem mais e morram mais”, criticou.

Disparadas nas vendas

Muitos médicos prescrevem medicações do chamado ‘kit Covid’, mesmo sem pesquisas clínicas comprovadas. No ano passado, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – liberou a venda de alguns desses medicamentos sem retenção de receita médica, como a Nitazoxinida e a Ivermectina, o que facilitou a comercialização desses medicamentos. Com isso, as vendas desses remédios nas farmácias dispararam, beneficiando seus fabricantes.

Farmácias brasileiras venderam mais de 52 milhões de comprimidos de quatro medicamentos do chamado “kit covid” em um ano de pandemia: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida. Segundo levantamento da Agência Pública, foram vendidos mais de 6,6 milhões de frascos e caixas desses quatro remédios de março de 2020 a março de 2021.

Os números representam apenas as vendas desses medicamentos em farmácias privadas, isto é, não incluem o que foi aplicado em hospitais ou dispensado em postos do Sistema Único de Saúde (SUS). O mais vendido foi a hidroxicloroquina —que o presidente Bolsonaro anunciou tomar quando foi diagnosticado com Covid-19. Foram mais de 32 milhões de comprimidos vendidos, um total de 1,3 milhão de caixas.

Alguns estudos internacionais

A revista “The American Journal Of Medicine” publicou, em 6 de agosto de 2020, um artigo que sugere uma combinação de medicamentos para tratamento da Covid-19. O estudo, porém, esclarece que esta recomendação é baseada em experiência ambulatorial obtida até aquele momento.

Não havia nenhum estudo clínico capaz de atestar a eficácia do tratamento. Após a publicação do artigo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a divulgar estudos que indicam a ineficácia de medicamentos, como remdesivir e cloroquina, no tratamento da Covid-19.

A agência regulatória norte-americana, o FDA, elenca uma lista de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19. Entre eles: fosfato de cloroquina, sulfato de hidroxicloroquina e ivermectina.

Um estudo australiano publicado em abril de 2020 descreve o efeito da ivermectina no SARS-Cov-2 em ambiente de laboratório. A análise foi realizada in vitro. De acordo com a agência regulatória norte-americana, o FDA, esse tipo de estudo laboratorial é comumente usado em um estágio inicial de desenvolvimento de medicamentos.

A agência adverte que testes adicionais são necessários para determinar se a ivermectina pode ser apropriada para prevenir ou tratar a Covid-19. Por isso, a agência, que é referência global na análise de medicamentos, não recomenda a utilização da ivermectina para esta finalidade.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS) pretende determinar o efeito da Ivermectina na prevenção da infecção causada pelo novo coronavírus. O medicamento apresentou, em estudo in vitro, expressiva redução da carga viral do SARS-CoV-2.

A Anvisa chegou a se manifestar publicamente, em nota, esclarecendo que não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil. Segundo o órgão, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas na bula do medicamento.

Mais recentemente, a OMS condenou o uso de Ivermectina em pacientes de Covid, independentemente da gravidade do caso, já que não há dados científicos que comprovem sua eficácia. Foram realizados 16 testes com mais de 2.400 pessoas.

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