prostata

Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam a ocorrência de 600 mil novos casos de câncer no Brasil. Depois do câncer de pele não melanoma, os cânceres de próstata serão os mais frequentes: 61 mil casos, o que corresponde a 28,6% de todos os novos casos em homens este ano. Diante deste prognóstico, um desafio chama a atenção de pacientes, familiares e especialistas: como lidar com a dor crônica em estágios avançados da doença?

Estima-se que pelo menos 50% dos pacientes oncológicos sofram de dor crônica – índice que pode chegar até 90% nos casos avançados. De acordo com o IASP (International Association for the Study of Pain), 72% dos pacientes com câncer de próstata, em média, sofrerão com a condição em algum momento da evolução da doença e os especialistas alertam para o cuidado com esta condição que dificilmente é tratada de forma adequada.

“Em sua fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa, e a dor costuma ser um dos primeiros sintomas que aparecem conforme a doença avança. A presença de sintomas urinários, como por exemplo dificuldade para micção, e dor pélvica ou em outros locais podem indicar um estágio mais avançado da doença”, explica Fernando Sabino Marques Monteiro, oncologista clínico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Lúcia, de Brasília.

O Novembro Azul, mês dedicado a ações de prevenção e conscientização sobre a doença, tem seu ponto alto neste 17 de novembro, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. O objetivo é chamar a atenção da população sobre os cuidados necessários para evitar a doença, além de discutir avanços no tratamento e na qualidade de vida destes pacientes.

Além da recomendação dos exames preventivos para homens com mais de 45 anos, uma vez que a doença é diagnosticada, é fundamental que haja diálogo entre o paciente e a equipe médica multidisciplinar para que seja indicado o melhor tratamento objetivando a cura, nos casos da doença inicial, ou aumento da sobrevida, alívio das sintomas e, consequente, melhoria na qualidade de vida, nos casos da doença avançada”, explica o especialista. “É importante também destacar que o controle da dor é fundamental para que os pacientes possam ter uma melhor qualidade de vida”, ressalta o médico.

Tratamentos para dor são pouco acessíveis no Brasil

O tratamento para a dor envolve uma equipe multidisciplinar e diversas terapias, dentre elas o uso de analgésicos opioides nos casos de dor moderada e intensa, conforme a indicação da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O Brasil está entre os países que menos prescrevem opioides, com média de 13.13mg per capita, quando o considerado adequado seria 192,91mg – ou seja, quase 15x maior, números que sugerem o subtratamento da dor”, alerta Dr. Sabino.

De acordo com os próprios especialistas, este cenário é resultados de diversos fatores, incluindo os entraves bucrocráticos ao acesso às medicações para o tratamento adequado das dores oncológicas – seja no SUS ou junto aos convênios de saúde. “Se, por um lado, a rede pública aguarda revisão do protocolo que padroniza o tratamento para dor, na expectativa de que haja ampliação das opções de analgésicos opioides disponibilizados aos pacientes, por outro, a saúde suplementar avança nas discussões sobre o tratamento da condição, ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer”, adianta o especialista.

Desde 2014, está vigente a Lei da Quimioterapia Oral (Lei nº 12.880/2013 – RN nº 387/2015) que garante aos pacientes com câncer o fornecimento do tratamento quimioterápico em casa, incluindo apenas terapias para dor decorrente da quimioterapia. “Os estudos apontam que de 15% a 25% dos pacientes  sintam dor como um efeito colateral das terapias – seja quimioterapia, radioterapia ou das próprias cirurgias. O grande problema é que a maioria dos pacientes, cerca de 80%6, têm dor associada à ação direta do tumor e, portanto, não estão contemplados nesta lei. Além de ser uma medida pouco conhecida, nós médicos vemos a possibilidade de ampliar esse acesso e temos buscado discutir formas de beneficiar ainda mais pacientes”, comenta.

Complicações cardíacas em um terço dos casos 

Três quartos dos casos de câncer de próstata no mundo ocorrem a partir dos 65 anos, idade em que o paciente costuma ter outras doenças associadas como risco cardiovascular aumentado. Estima-se que cerca de 30% dos pacientes com câncer de próstata possuam doenças cardiovasculares associadas.

“Como há um risco alto de doenças cardiovasculares em idosos com câncer de próstata, é fundamental que o estado de saúde do paciente seja levado em consideração para a escolha do tratamento mais adequado, especialmente se o indivíduo apresentar histórico de doença cardiovascular ou pertencer ao grupo de risco”, explica Ariane Macedo, cardiologista e vice-presidente do Grupo de Estudos em Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Estudos demonstraram que o tratamento hormonal antagonista (degarelix, comercializado no Brasil com o nome Firmagon) apresenta ação mais rápida – até três dias – contra os medicamentos atuais, que podem levar de três a quatro semanas. Os efeitos são estudados em pesquisa da Ferring iniciada em fevereiro deste ano com 900 pacientes de mais de 50 centros nos Estados Unidos.

“O tratamento com o bloqueador degarelix proporciona diversos benefícios aos pacientes, como supressão rápida da testosterona e não ocorrência do flare clínico, ou seja, picos de hormônios que causam dores ósseas, compressão medular e outros comprometimentos de saúde resultantes do câncer de próstata avançado”, explica João Carvalho, urologista do Hospital Federal Cardoso Fontes (RJ). 

Fontes: Mundipharma, Hospital Santa Lúcia (DF), Hospital Federal Cardoso Fotnes, Sociedade Brasileira de Cardiologia 

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