Cerca de 11 milhões de brasileiros são afetados pelo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), conforme dados divulgados em 2022 pelo Ministério da Saúde. Naquele ano, a prevalência de TDAH era estimada em 7,6% em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos, 5,2% nos indivíduos entre 18 e 44 anos e 6,1% nos indivíduos maiores de 44 anos apresentando sintomas de TDAH.
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o número de casos variam entre 5% e 8% a nível mundial. Em um período de 20 anos, a prevalência do TDAH subiu de 6,1% para 10,2%, segundo estudos.
O TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento, ou seja, ela surge desde a infância, mas algumas vezes, pode ser identificada só na idade adulta. É caracterizada por uma tríade de sintomas envolvendo desatenção, hiperatividade e impulsividade em um nível exacerbado e disfuncional para a idade, que interferem no funcionamento diário e no desenvolvimento pessoal, impactando a vida do indivíduo.
Para lembrar a importância da conscientização e os prejuízos que as pessoas com TDAH enfrentam em todos os espaços e contextos em que frequentam, o Dia Mundial do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é lembrando neste sábado (13 de julho). No Rio de Janeiro, a data é marcada pela iluminação especial em laranja no monumento ao Cristo Redentor, símbolo do Brasil.
A ação faz parte da campanha “TDAH Além dos Rótulos”, promovida pelo Movimento Dislexia TDAH GABCD, com apoio da Cellera Farma, e tem como objetivo ampliar a conscientização sobre a necessidade de diagnóstico e tratamento do transtorno.
Transtorno é causado por desregulação da dopamina
A médica psiquiatra Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental é enfática: “Nem toda desatenção é TDAH, as teorias sugerem alterações no desenvolvimento do córtex pré-frontal e sua conexão com outras áreas cerebrais essa região é responsável pela tomada de decisão, controle de impulsos, regulação emocional, planejamento e organização e atenção sustentada”, explica.
Estudos mostram ainda que há possibilidade de uma alteração nos lobos frontais “Além disso, as principais teorias para diagnosticar o TDAH sugerem uma desregulação da dopamina, um neurotransmissor que tem diversas funções, como desempenho da cognição, manutenção da atenção, tomada de decisões, regulação do comportamento e recompensas, coordenação motora, entre outros”, diz a médica.
Também é importante destacar que existem tipos de TDAH. Um deles é o tipo hiperativo, predominando os sintomas de hiperatividade. No tipo desatento é possível haver a combinação de sintomas, já que o TDAH é caracterizado por uma variedade de sintomas que afetam significativamente a vida cotidiana”, diz a médica.
TDAH não é modismo: transtorno é coisa séria e tem tratamento
Muitas pessoas minimizam o transtorno, dizendo se tratar de um modismo, mas a psicóloga Soraya Oliveira rebate esse pensamento e lembra que, embora normalmente apareça na infância, também pode ser diagnosticado tardiamente em pessoas adultas.
O TDAH é um transtorno neurobiológico, com base genética, e o aumento de casos não é um mero ‘constructo’, mas fruto de uma maior conscientização e compreensão da condição. À medida que a sociedade se tornou mais informada, mais indivíduos passaram a ser identificados. Além disso, mudanças nas práticas de diagnóstico, incluindo a implementação de critérios mais abrangentes, também contribuíram para a melhor caracterização do transtorno nas pessoas”.
Condição pode surgir por volta dos 7 anos de idade
O TDAH é um fenômeno complexo que se manifesta geralmente por volta dos sete anos de idade, pode acontecer antes, porém é mais comum o diagnóstico por volta desta idade – antes disso não é usual fechar o quadro já que o cérebro ainda é imaturo e para o diagnóstico correto do TDAH a psiquiatra ressalta que é preciso observar os sintomas, como desatenção, hiperatividade, impulsividade e flutuações de humor.
Segundo ela, o diagnóstico em adultos também pode ser desafiador. “Os sintomas de desatenção se tornam mais proeminentes e não é incomum que muitos sintomas do TDAH estejam em outras doenças como transtornos da ansiedade, transtornos depressivos, transtorno de personalidade, entre outros”, finaliza.
Como diferenciar os sintomas na infância
A psiquiatra fala que os sintomas ocorrem devido a essas desregulações já que a pessoa com TDAH tem uma dificuldade no controle e regulação de emoções e estímulos, elas têm foco em muitas coisas ao seu redor como barulhos e movimentos e não conseguem ter um foco único.
Isso faz com que ela não consiga ter uma atenção sustentada e essas alterações dos centros de recompensa dopaminérgicos, fazem com que o tedio seja tão grande a ponto de não conseguir submeter-se a eventos tediosos e assim, a pessoa prefere atividades que possam propor uma recompensa imediata. Essa dificuldade de cumprir atividades mais maçantes que terão recompensa posteriormente, levam à procrastinação, sensação de tédio iminente e insatisfação, não sendo incomum uma busca incansável por novidades”, diz.
A psicóloga Soraya Oliveira, que atende numa clínica de Goiânia, cita alguns sinais do transtorno. “Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e se manifestar de maneiras diferentes em crianças, adolescentes e adultos, mas os principais geralmente se enquadram em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade”. A especialista pontua que mesmo sendo normal as crianças serem mais ativas, é possível diferenciar os sintomas do TDAH na infância.
Eles causam sofrimento devido a própria agitação e inquietação que a criança sente, o que, às vezes, acaba criando situações constrangedoras por agitar os locais, principalmente, salas de aula e ambientes desconhecidos. A criança dificilmente tem autocontrole diante da hiperatividade. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha a pessoa na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos”.
A psicóloga explica que os impactos do aumento do transtorno são multifacetados e afetam sociedade, família e educação. “Lidar com pessoas que sofrem de TDAH nem sempre é fácil devido às alterações de comportamentos na infância e dificuldades de atenção na fase adulta. No âmbito da escola, crianças com a condição, podem enfrentar dificuldades acadêmicas, desafios de comportamento e problemas de relacionamento com colegas e professores. Nos adultos, a dependência de substâncias como drogas e álcool é uma comorbidade bastante frequente em pessoas com essa condição”.
Diagnóstico e tratamento do TDAH
Depois de feito o diagnóstico, o tratamento pode envolver abordagens multifacetadas, apoio psicológico, e em alguns casos, medicação para aliviar esses sintomas e melhorar a qualidade de vida”, diz a psiquiatra.
O tratamento é multidisciplinar e normalmente envolve consultas com psiquiatras ou neurologistas infantis, além do uso de medicamentos e intervenções comportamentais, sob a supervisão de psicólogos e pedagogos. Segundo Soraya, adultos que sentem os sintomas ou pais que os percebam nos filhos devem procurar auxílio profissional assim que for percebido, não procrastinar na procura de um profissional habilitado.
A melhor forma de lidar, além do tratamento, é ter compreensão desse transtorno para melhor compreensão do comportamento tanto da criança como do adulto. E não deve-se utilizar nenhuma medicação para TDAH se não for prescrito por seu médico diante dos sintomas que fecham o diagnóstico”, alerta Soraya.