A saúde mental não deve ser uma preocupação apenas na vida adulta. As crianças e os jovens também podem sofrer com transtornos mentais e comportamentais, pois nem sempre conseguem expressar o que está acontecendo ou como estão se sentindo. Em tempos de isolamento social, a saúde mental vem ganhando força como temática mundial.
Com base nesse contexto e pensando em avaliar o papel da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) na incidência de mortes infantojuvenis por transtornos mentais, o curso de Medicina da Unoeste, campus de Jaú (SP), desenvolveu a pesquisa “Tendências de mortalidade por transtornos mentais e comportamentais infantojuvenis no Brasil”.
O estudo foi realizado pelas acadêmicas do 5º termo da graduação Gabriela Herrera Goes e Isabela Rodrigues da Silva sob a orientação da professora Fernanda Pataro Marsola Razera. “O que motivou a escolha do tema foi entender melhor a saúde mental desse público e se é assistido pelo sistema básico de saúde. Após a definição do assunto, analisamos as tendências de mortalidade por transtornos mentais e comportamentais infantojuvenis no Brasil, no período de 1996 a 2019 e relacionamos com a atuação da atenção básica de saúde”, conta Gabriela.
Foram analisadas as taxas de mortalidade pelas variáveis de etnia, sexo, região e idade. Após todo o estudo, as acadêmicas identificaram que há uma tendência de queda nas taxas de mortalidade por transtornos mentais e comportamentais na maioria destas variáveis. Principalmente, por volta do ano de 2011 que foi o ano que a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) foi criada em substituição ao antigo modelo hierárquico de acesso aos sistemas de saúde.
“Acreditamos que isso não é uma simples coincidência e que a criação da Raps teve papel fundamental na queda das taxas de mortalidade infantojuvenil por transtornos mentais e comportamentais”, afirma Gabriela.
Ainda de acordo com ela, a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), parte integrante da Atenção Básica, desempenha um papel fundamental para a identificação de casos, acompanhamento e promoção da saúde mental. Mais do que simples porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), tem o papel de acolhimento e acompanhamento integral dos usuários.
“Durante anos, a saúde mental infantojuvenil foi vista como menos importante quando comparada à saúde mental dos adultos e, por isso, recebeu menos investimento, tendo como possível consequência, alterações das taxas de mortalidade por transtornos mentais de crianças e jovens”, pontua Gabriela.
Já a futura médica Isabela acrescenta que os transtornos das crianças e dos jovens, muitas vezes, são interpretados como manha, birra ou má criação. “Quando eles apresentam um comportamento muito atípico ou agressivo, é provável que tenham alguma condição comportamental. É muito importante que os pais e pessoas próximas estejam atentas aos sinais de alerta”.
Isabela relata que as crianças e jovens têm dificuldade para cuidar de suas emoções e condutas, pois são inexperientes e estão em fase de desenvolvimento. “Os adultos presentes em suas vidas devem ficar atentos aos sinais de perturbações na saúde mental infantojuvenil, afinal o quanto antes eles estiverem sob acompanhamento dos profissionais da saúde, maiores serão as chances de termos um impacto positivo nas consequências destes transtornos. Esse é o papel da Raps que está aí para acolher a criança ou o jovem e a sua família, além de orientá-los e acompanhá-los pelo tempo necessário”.
Em razão da relevância do tema, o estudo foi aprovado para ser apresentado pelas estudantes no 2ª Congresso On-line Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental Infantojuvenil. A apresentação ocorre na manhã deste sábado (20). Além disso, o trabalho de Gabriela e Isabela será publicado nos anais do evento.
Congresso debate estratégias para tratar saúde mental de crianças e adolescentes
O 2º Congresso Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental Infantojuvenil, organizado pelo Centro Educacional Novas Abordagens Terapêuticas (Cenat) ocorre nesta sexta (19) e sábado (20) de forma on-line. As inscrições ainda estão abertas e podem ser realizadas aqui. O congresso tem por objetivo ser um espaço de discussão e debate sobre a situação da saúde mental da criança e do adolescente.
Isabela conta que o processo para participar desse congresso foi um tanto diferente. “Estávamos em busca de algo que apresentasse um bom impacto para nós, principalmente no quesito conhecimento. Quando encontramos esse evento, tivemos certeza de era exatamente o que a gente queria. No mesmo momento, fizemos nossa inscrição e felizmente fomos aprovadas”, comemora.
Ela menciona que a expectativa para o dia da apresentação está enorme. “Apesar de termos realizado o trabalho e estudado sobre o tema, estamos muito ansiosas para mostrar tudo que o conseguimos aprender durante esse tempo de projeto. Ao mesmo tempo, estamos super felizes por ter concluído algo tão belo e de grande valia, uma vez que falar sobre saúde mental é necessário nos dias atuais, ainda mais em relação à criança e ao jovem”.
Para Isabela, a professora Fernanda teve um papel importantíssimo no sucesso do projeto. “Assim que nos inscrevemos, não tivemos dúvidas quanto à escolha da orientadora. Fizemos o convite e ela prontamente aceitou, o que foi fundamental para o desenvolvimento do nosso trabalho”.
A docente enfatiza que o projeto permitiu que fosse avaliado a importância e o cuidado que são ofertados no Sistema Único de Saúde (SUS), para as crianças e os jovens com transtornos mentais ao longo do tempo. “Houve no início da década uma reordenação do fluxo dos pacientes pelos diferentes níveis de complexidade do SUS, instituindo fluxos horizontalizados e baseados em redes de atenção.
Para os transtornos mentais, temos as Redes de Atenção Psicossocial (Raps) que desempenha um papel muito importante na identificação, no tratamento e na prevenção dos transtornos mentais. Isso teve um impacto importante na redução da mortalidade, o que só foi percebido com a análise dessas tendências ao longo do tempo”.
Ela acrescenta que projetos como esse são fundamentais para a formação acadêmica. “Além de todo o conhecimento adquirido durante a pesquisa, existe a produção de informações relevantes para o avanço da sociedade. Ter um trabalho aprovado em um congresso internacional é um fator de reconhecimento e estímulo para que essas acadêmicas continuem sendo protagonistas dos seus aprendizados. Sem falar que é uma oportunidade de troca de experiências com outros pesquisadores e um momento delas solidificarem, também, o nome da Unoeste entre as instituições de ponta em pesquisa e extensão”, finaliza Fernanda.