Velhice acontece com pessoas que vivem muito (risos). Se você é senhor do seu corpo e da sua mente, pode ter 104 anos como Oscar Niemeyer e não se sentir um velho, pois ainda tem o prazer de criar”.

A declaração é de Regina Taccola, psicanalista de 77 anos que acaba de lançar ‘Vida Louca’, o segundo livro na carreira de escritora que começou – pasmem – aos 70 anos, após se aposentar da rotina no consultório.

Não há fórmula nem fonte da juventude. Preconizo apenas que se mantenha como um ser curioso, dado a procurar o sentido das coisas, até que a morte nos dê o merecido descanso”, afirma ao Vida & Ação.

Ela sempre leu muito e de tudo e agora decidiu investir no amor pela literatura e pela escrita, com a prática artística nascendo quando sobra tempo e o tempo é curto ao mesmo tempo.

Sou uma leitora voraz: leio desde os clássicos até os lançamentos. Gosto muito de Tolstói, o rei dos contos, de Maupassant e de Rubem Fonseca. A sensação de vivenciar a literatura foi para mim uma imensa descoberta. Sem querer rimar: literatura cura!”.

Ela começou após se aposentar

Escrever, na verdade, sempre fez parte do dia a dia de Regina. “Sempre escrevi e tive, ao longo da carreira profissional, trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Ficcionar a vida que transcorre aconteceu após a minha aposentadoria como psicanalista”.

A médica carioca escreveu seu primeiro texto literário aos 7 anos de idade e na adolescência começou um romance sobre rituais de passagens, ‘Amanhã ontem será hoje’, cujos originais foram esquecidos num táxi. lançou seu primeiro livro aos 76, gostou do resultado e continuou a escrever sem parar.

O primeiro livro de contos da autora, ‘Uma tarde embalada pelo mar’, saiu em 2016, pela editora Frutos. Surgiu após os 70 anos de idade, do desejo e da necessidade de compartilhar escritas acumuladas.

Nos 20 contos do livro, entre praias, mar, atletas, crepúsculos, belezas e prazeres do bairro de Ipanema onde nasceu e vive até hoje, surgem histórias humanas com suas brutas concretude, perversão e ternura, que a médica carioca nos transmite a partir do acervo de sua vivência como profissional de décadas no ofício da psicanálise, como se falasse por nós.

Contos inspirados no dia a dia de Ipanema

Já ‘Vida Louca’ traz 15 contos curtos, velozes e intensos que envolvem o leitor nas 83 páginas da publicação. Eles levam os títulos de As meias de meu pai, Menina na pedra, O baile, Um Oscar para Luz, Perdida, O laço de fita de Alice, A mensagem, O que quer uma mulher?, Um Natal diferente, Metáforas, O chofer, Delícias de Tiana, Milagre, Paulista e Carioquinha. São ‘contos curtos como janelas entreabertas que permitem a cada um continuar a navegar e criar a sua própria fantasia’, segundo Regina.

O novo título sai pela editora portuguesa Chiado com prefácio de Alexandre Kovacs. O lançamento ocorreu  em Ipanema, bairro onde ela é nascida e criada e que serve de cenário para a maioria das histórias que a autora conta. Histórias curtas, contadas como thrilers psicológicos, arrebatando e surpreendendo o leitor.  “Os contos de Regina Taccola são velozes como a vida nos grandes centros urbanos e refletem o absurdo da condição humana em um cenário de contrastes que me faz lembrar Albert Camus ao escrever sobre o período de sua infância em uma região pobre da Argélia: ‘Fui posto a meio caminho entre a miséria e o sol'”,  escreve Kovacs.

Ainda segundo ele, “é esta indefinição entre paraíso e inferno que compartilhamos no Rio de Janeiro e logo reconhecemos ao ler as narrativas ambientadas na zona sul carioca, onde a beleza natural das praias e a condição de um status social privilegiado não sustentam o domínio que pensamos exercer sobre o nosso destino, na verdade um frágil controle que pode ser subitamente interrompido pela violência que ronda as ruas e as lojas sofisticadas do bairro de Ipanema. (….)”.

Da Redação, com assessoria

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