A síndrome de pernas inquietas é doença que tem padrão genético e que também é caracterizada por uma fisiopatologia de deficiência de ferro, mesmo que tenha o ferro normal no sangue. Ela ataca principalmente mulheres e 25% das grávidas”, explicou o reumatologista Marcelo Cruz Rezende, membro da Comissão de Dor da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e presidente da Sociedade de Reumatologia de Mato Grosso do Sul.
As mulheres são as principais vítimas da doença por causa dessa deficiência de ferro. “Vocês sangram todo mês. Então, são sempre um pouco mais anêmicas. E nas mulheres grávidas, essa anemia é ainda pior”, completou. A origem da doença pode estar associada a várias condições médicas, como artrite reumatoide, insuficiência renal, diabetes e doenças neurológicas.
A síndrome de pernas inquietas se caracteriza por uma alteração na síntese de dopamina, a mesma do Parkinson [que é causado pela redução progressiva da produção de dopamina, uma molécula cerebral responsável por controlar os movimentos como andar, escrever e falar]. E o ferro é fundamental para a construção dessa dopamina, faz parte de sua produção”, explicou o médico.
Em casos mais moderados ou graves, a doença pode causar distúrbios significativos do sono, alterações do humor e cognição, fadiga diurna, redução da energia e impacto nas atividades diárias.
Se você tem um distúrbio de sono, de qualidade de sono, deve procurar um médico e relatar que você tem pernas inquietas porque o médico nem sempre vai perguntar sobre isso”, afirmou Rezende, que participa do 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado esta semana em Salvador (BA).
A doença não tem cura, mas tem tratamento, que deve ser iniciado quando os sintomas passarem a interferir na qualidade de vida ou no sono do paciente. “Se atrapalha a vida, a pessoa deve sempre procurar o médico”, alertou o reumatologista.
Dor nas costas: lombalgia é a segunda maior causa de consultas médicas
Cerca de 80% da população mundial sentirá dor na coluna em algum momento da vida. Lombalgia crônica e exercício: o que realmente funciona?
A lombalgia, dor localizada na região lombar da coluna, é um problema extremamente comum e afeta mais pessoas do que qualquer outra patologia musculoesquelética. Trata-se da segunda causa mais frequente de consultas médicas, ficando atrás apenas do resfriado comum.
Estima-se que entre 65% e 80% da população mundial apresente dor lombar em algum momento da vida. A boa notícia é que, na maioria dos casos, há resolução espontânea e cerca de 50% dos pacientes apresentam melhora após uma semana, 90% em até oito semanas e somente 5% continuam com sintomas por mais de seis meses, podendo evoluir para quadros de incapacidade.
“Dor lombar é a condição que mais acomete a população mundial, e por si só isso já torna o tema extremamente relevante”, afirma o fisioterapeuta e pesquisador Fábio Luciano Arcanjo de Jesus. Segundo ele, o diagnóstico geralmente é bem conduzido por reumatologistas, com o apoio de fisioterapeutas. No entanto, a forma como o tratamento é realizado pode influenciar diretamente no desenvolvimento da dor crônica.
Muitas vezes os exercícios precisam ser revistos e acompanhados de forma adequada, porque há pacientes que pioram justamente pela forma incorreta com que os exercícios terapêuticos são executados. Toda atividade deve ser muito bem definida e conduzida para garantir uma boa evolução do quadro”, complementa o especialista.
O tema “Lombalgia crônica e exercício: o que realmente funciona” será discutido durante o 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia, que acontece esta semana em Salvador. No dia 19 de setembro, o especialista Fábio Luciano Arcanjo de Jesus conduzirá conferência sobre as evidências científicas mais atuais que apontam quais exercícios são eficazes no alívio da dor e na evolução positiva da doença.
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Doenças reumáticas estão entre as principais causas de afastamento do trabalho
As enfermidades vão muito além das mais conhecidas, como LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).
As doenças reumáticas afetam mais de 15 milhões de pessoas no Brasil e figuram entre as principais causas de afastamento laboral e aposentadoria por invalidez. Segundo o Ministério da Previdência Social, elas são a segunda maior causa de afastamento do trabalho no país.
Doenças reumáticas ocupacionais podem causar dor, fadiga, dificuldade de concentração, diminuição da produtividade e, em casos graves, podem levar à incapacidade para o trabalho.
Há muitas doenças ocupacionais além das mais conhecidas como LER e DORT, que também estão relacionadas ao trabalho”, explica Carolina Yume Arazawa, membro da Comissão Ocupacional da SBR.
Entre elas, a reumatologista cita gota induzida por chumbo, fluorose óssea, síndrome de Raynaud, osteomalácia e osteoporose induzida por cádmio. O tema será destaque durante o 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia, promovido pela SBR, entre 17 e 20 de setembro, em Salvador (BA).
Na palestra “Quando a doença reumática é também ocupacional – derrubando mitos”, Dra. Carolina irá explicar o que são doenças ocupacionais, sua classificação e a importância do diagnóstico. “Também abordarei algumas doenças reumatológicas que apesar de incomuns e raras merecem a atenção dos reumatologistas”, completa a especialista.
Tratamento da artrite reumatoide ainda é cercado de mitos
O planejamento da gravidez para uma paciente com artrite, por exemplo, deve ser feito em conjunto com o médico
Doença crônica e inflamatória, cuja principal característica é a inflamação das articulações, a artrite reumatoide é uma das enfermidades autoimunes mais comuns. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que ela afeta cerca de 1% da população mundial, sendo mais prevalente em mulheres entre 30 e 50 anos.
A inflamação persistente, quando não tratada de forma adequada, pode levar à destruição das articulações, causar deformidades e comprometer a realização de tarefas do dia a dia, incluindo o trabalho. “A artrite reumatoide é uma das doenças mais conhecidas e emblemáticas da reumatologia e também uma das que mais avançaram em opções terapêuticas. No entanto, ainda persistem mitos sobre o tratamento adequado, especialmente em alguns grupos de pacientes”, destaca a reumatologista Licia Maria Henrique da Mota, professora e diretora científica da SBR.
O planejamento da gravidez para uma paciente com artrite, por exemplo, deve ser feito em conjunto com o médico. É importante destacar que existem opções terapêuticas que podem ser mantidas durante a gestação e o período de amamentação”, explica a reumatologista.
Durante o 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia, ela abordará as evoluções mais recentes no manejo da artrite reumatoide e esclarecerá aspectos que ainda geram dúvidas. Na conferência o “Caminho do Samurai: Entre mitos e verdades no tratamento da Artrite Reumatoide”, no dia 18 de setembro, a especialista procurará esclarecer questões sensíveis em situações consideradas especiais no tratamento da artrite reumatoide.
Outro mito recorrente diz respeito à segurança do uso de imunossupressores em idosos. Segundo a Dra. Licia, ainda há receio, por parte de alguns médicos, de que esses medicamentos aumentem o risco de infecções nessa faixa etária.
Já temos evidências de que o tratamento adequado da artrite reumatoide reduz o risco de hospitalizações entre idosos. Além disso, algumas das terapias biológicas mais recentes têm mostrado efeito protetor contra a demência, especialmente em domínios como linguagem e memória”, reforça.
Uso de medicamentos biossimilares em pacientes reumáticos
Medicamentos podem ampliar o acesso ao tratamento de doenças reumáticas no país. Semelhantes aos biológicos originais, mas com custos menores, biossimilares são considerados importante avanço na reumatologia.
Uso de medicamentos biossimilares em pacientes reumáticos
Medicamentos podem ampliar o acesso ao tratamento de doenças reumáticas no país. Semelhantes aos biológicos originais, mas com custos menores, biossimilares são considerados importante avanço na reumatologia.
O impacto do tratamento com biossimilares no cenário brasileiro é um dos temas de destaque do 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia. A questão do uso de biossimilares, medicamentos semelhantes aos biológicos originais, mas com custos menores, é considerada de grande relevância para a reumatologia, podendo ampliar o acesso ao tratamento de doenças reumáticas aos pacientes do país e terá uma mesa-redonda especial durante a programação científica do congresso.
Segundo Rafaela Bicalho Viana Macedo, reumatologista da comissão de Biotecnologia da SBR, os biossimilares representam um marco na área de Reumatologia e configuram um grande avanço no cuidado aos pacientes reumáticos. “Assegurar a eficácia e segurança desses medicamentos são aspectos fundamentais na adoção dessa tecnologia”, complementa.
Na mesa-redonda no dia 18 de setembro, a especialista discute sobre a eficácia e a segurança, aspectos técnicos relacionados à substituição e à intercambialidade, além da autonomia médica no uso desses medicamentos. Questões regulatórias, incluindo acesso e políticas públicas de saúde, também estarão em pauta.
Mais sobre o evento
Considerado o maior encontro científico da especialidade na América Latina, o Congresso Brasileiro de Reumatologia, reunirá mais de 2 mil participantes, entre médicos, pesquisadores e profissionais da saúde do Brasil e do exterior, para discutir inovação, educação médica, políticas públicas, avanços no diagnóstico e tratamento das doenças reumáticas, além de novas abordagens no cuidado ao paciente.
Organizado pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e Sociedade Baiana de Reumatologia (Sobare), o congresso conta com uma extensa programação científica com cursos, mesas redondas, conferências, simpósios, sessão de temas livres debatendo os principais temas da especialidade, além de encontro de pacientes, atividades culturais e premiações aos trabalhos e pesquisas mais expressivos sobre a Reumatologia no país na atualidade.
Com Agência Brasil e SBR