Com artrite reumatoide há 13 anos, a comunicadora Dayane Ferreira, de 35 anos, diretora do Instituto Eluar, tinha o sonho da maternidade, mas temia complicações causadas pela doença. Ela esperou a remissão para sua primeira tentativa de engravidar e teve o acompanhamento de uma reumatologista durante todo o processo. “Fiquei surpresa ao descobrir que estava grávida, já que achava que teria que passar por tratamentos de fertilização”, afirma.

A gravidez foi desafiadora para Dayane, especialmente na reta final, quando enfrentou problemas para caminhar, sentar e dormir. Mesmo enfrentando alguns desafios, como a necessidade de suspender certos medicamentos e lidar com dores durante a gestação, a alegria de ter seu filho Ravi saudável no colo superou todas as dificuldades. “É o coração batendo fora do peito, como dizem.”

Mesmo antecipando uma semana, Ravi nasceu de parto normal, pesando 3,2 kg e medindo 48 cm, sem complicações. A mamãe do Ravi precisou se adaptar a sua limitação e dores nas mãos para conseguir cuidar do filho, trocá-lo, alimentá-lo, entre outras atividades. Agora, aos dois meses, eles já têm uma rotina adaptada à nova realidade.

Assim como a história de Dayane e seu filho, Ravi, muitas mulheres com doenças reumáticas autoimunes também desejam com muita esperança ser mães. Para mulheres que desejam ser mães e têm doenças reumáticas autoimunes, é compreensível que haja preocupações e incertezas. No entanto, a maioria pode ter uma gravidez saudável e dar à luz um bebê forte.

É o que garante a médica Danieli Andrade, membro da comissão científica da Sociedade Paulista de Reumatologia: “Não desistam, pois a doença não pode ser maior do que o seu sonho. Um suporte médico e multidisciplinar adequado pode te ajudar a realizá-lo!”

Avanço da Medicina permite gravidez sem risco

Segundo ela, com o avanço da medicina e o desenvolvimento de terapias eficazes, muitas mulheres com doenças reumáticas podem ter seus sintomas controlados, ou seja, manter a doença em remissão durante a gravidez. Além disso, os reumatologistas podem ajudá-las a planejar e gerenciar, junto ao obstetra, uma gravidez bem-sucedida.

Pesquisadora e professora livre docente da Universidade de São Paulo (USP), Danieli Andrade (foto) observa que a medicina ainda não possui todo o conhecimento científico necessário em relação à maternidade, devido à nobreza e à complexidade que envolvem a vida da mãe e do bebê. No entanto, sempre prevalece a ética no tratamento da e do feto.

A médica lembra que quando começou a trabalhar na área, há 20 anos, o conhecimento científico sobre o assunto era limitado e havia poucas chances de uma paciente reumática imunomediada engravidar. “Hoje em dia, as contraindicações são exceção e muitas vezes é apenas uma questão de momento”, reforça a reumatologista.

Quando a gravidez pode trazer riscos para mãe e bebê

É fundamental ressaltar que o otimismo prevalece na gestação para mulheres com doenças reumáticas, sendo importantes as avaliações médicas e o planejamento cuidadoso. Porém, segundo Dra. Danieli Andrade, existem algumas situações em que a gravidez pode trazer riscos à mulher e ao bebê, como em casos de doença valva grave (relacionada ao coração) ou comprometimento grave nos vasos do pulmão.

Por isso, é crucial que cada caso seja analisado individualmente por todos os médicos que acompanham a paciente. Para que uma gestação seja possível em pacientes com doenças autoimunes, é essencial que a doença esteja controlada, em remissão”, afirma a me´dica, que também é e responsável pelo ambulatório e laboratório de SAF (síndrome do anticorpo antifosfolipídeo) no Hospital das Clínicas da USP.

Segundo ela, embora algumas gestações, como em pacientes com artrite reumatoide estável (AR), possam ter uma evolução melhor do que outras, como o lúpus ou a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF), a gestação sempre será desafiadora, por conta da possível piora dos sintomas pelo excesso de hormônios na gravidez.

Alguns medicamentos que não devem ser usados ao engravidar incluem Ciclofosfamida, Micofenolato de Mofetila, Leflunomida, Metotrexato. Inclusive, preferencialmente, devem ser retirados entre 3 a 6 meses antes da confirmação da gravidez. Mas tudo isso precisa ser conversado com o médico.

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