Em meio ao pior momento da pandemia do coronavírus no Brasil, a bancada ruralista vê oportunidade de aprovar o PL 6299/02, conhecido como PL do Veneno. Proposto pela frente parlamentar formada por empresários do agronegócio, o projeto de lei impacta diretamente a vida da população.
Os principais argumentos em favor do PL já foram rebatidos por uma série de especialistas. A Anvisa, a Comissão de Direitos Humanos, a Abrasco, a Fiocruz e uma série de entidades já se posicionaram contra a aprovação do projeto, construído de forma unilateral, sem qualquer diálogo com a sociedade.
Por entender que o momento não é adequado para ter um debate amplo com a sociedade sobre as consequências da aprovação do projeto de lei, as organizações Fashion Revolution Brasil, Modefica e Rio Ethical Fashion lançaram – no Dia da Terra e durante a Semana Fashion Revolution – a campanha #ModaSemVeneno, contra a aprovação do PL. O movimento setorial tem apoio de organizações da indústria têxtil e de confecção, além de organizações de base, pesquisadores, ativistas e jornalistas.
O que o PL 6299/02 tem a ver com a moda?
O algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no país. Entre os agrotóxicos mais utilizados está o glifosato, que pode causar diversos efeitos na saúde, como aborto espontâneo e câncer. O Brasil é também um grande exportador de celulose solúvel, matéria-prima para a produção de viscose. As culturas de eucalipto e algodão utilizam de 7 a 10 tipos dos agrotóxicos mais vendidos no Brasil, respectivamente.
Entre os mais utilizados está o acefato, na quarta posição, com alto potencial carcinogênico e o Imidacloprido, na sétima posição, considerado um dos mais fatais para abelhas, polinizadoras importantes, o que gera preocupação tanto do ponto de vista econômico, quanto socioambiental. A exposição cumulativa aos agrotóxicos deve ser considerada visto que alguns compostos amplamente utilizados podem permanecer presentes em organismos, água e solo por muitos anos.
Entre os riscos para o setor da moda estão a desinformação do consumidor; os riscos reais à saúde de trabalhadoras e trabalhadores, incluindo questões de saúde reprodutiva das mulheres; e a ameaça à exportação nacional dado novos posicionamentos dos países em relação ao uso intensivo de agrotóxicos.
As petições demonstram a preocupação da sociedade e são utilizadas para pressionar congressistas a votarem contra a aprovação do PL. O grupo organizador irá entregar as assinaturas formalmente à Frente Parlamentar Ambientalista. Em 24 horas, movimento já colheu mais de duas mil assinaturas. Saiba mais aqui.
Sobre as organizações parceiras
Fashion Revolution Brasil – É um movimento presente em mais de 90 países, criado após um conselho global de profissionais da moda se sensibilizar com o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que causou a morte de mais de 1.000 trabalhadores da indústria de confecção e deixou mais de 2.500 feridos. A tragédia aconteceu no dia 24 de abril de 2013, e as vítimas trabalhavam para marcas globais, em condições análogas à escravidão. A campanha #QuemFezMinhasRoupas surgiu para aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto no mundo, em todas as fases do processo de produção e consumo. No Brasil, o movimento atua há 7 anos.
Modefica – Fundada por Marina Colerato em 2014, é uma organização de mídia, pesquisa e educação que atua pela justiça socioambiental e climática com uma perspectiva ecofeminista. A pesquisa mais recente, Fios da Moda: Perspectivas Sistêmicas Para Circularidade, salienta as relações entre as fibras têxteis e impactos socioambientais na vida da população brasileira, além de propor uma economia circular para o Sul global.
Rio Ethical Fashion – O movimento reúne pessoas para discutir, inspirar, criar parcerias e divulgar os valores da sustentabilidade na indústria da Moda, suas vertentes culturais e socioeconômicas no Brasil e no mundo. O Rio Ethical Fashion é o Primeiro Fórum Internacional de Sustentabilidade no Brasil, com edições realizadas em 2019 e 2020 com as principais lideranças da sustentabilidade da moda global.