A alegria das confraternizações de fim de ano deu lugar ao luto para uma família de Dracena, no interior de São Paulo. No último dia 20 de dezembro de 2025, Yasmin de Morais Brito, de 4 anos e 4 meses, e Gael da Silva, de 4 anos e 11 meses, que eram irmãos por parte de pai, morreram afogados na piscina de uma chácara alugada durante uma confraternização familiar.

As crianças brincavam na área de lazer quando entraram na água em um momento de distração dos adultos. Um vizinho ouviu os gritos e ajudou no resgate inicial. A família tentou levá-los ao hospital e encontrou uma viatura dos bombeiros no caminho, que assumiu o atendimento. Infelizmente, os óbitos foram confirmados no Pronto Atendimento Municipal. A Polícia Civil registrou o caso como morte suspeita e instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da tragédia.

A tragédia reflete uma estatística alarmante. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o afogamento é uma das principais fatalidades que acometem  crianças e adolescentes: o Brasil registra, em média, três mortes todos os dias. Entre  2021 e 2022, foram duas mil e quinhentas vítimas desse tipo de acidente. As crianças de um a quatro anos de idade foram as principais vítimas, com o registro de 943 mortes. Em seguida, estão 860 óbitos de adolescentes de 15 a 19 anos.

O caso de Dracena não é isolado em 2025. Em fevereiro, gêmeos de apenas um ano e quatro meses também perderam a vida em uma piscina em Ubá (MG). No final de 2024, dois irmãos (16 e 24 anos) morreram no mar de raia Grande (SP): o mais velho tentava salvar o mais novo de uma correnteza.

Em 2024, o total de mortes por afogamento no país chegou a 5.488, com homens representando a maior parte das vítimas, morrendo 6,4 vezes mais que as mulheres​. No geral, 4,1% dos óbitos por afogamento no Brasil ocorrem em piscinas.

O perigo silencioso dentro de casa

Com a chegada das festas de fim de ano e o aumento de encontros em casas com piscina, chácaras, praias e clubes, o risco de afogamento infantil cresce de maneira significativa. Especialistas alertam que o período de férias e as altas temperaturas elevam drasticamente os riscos, tanto em ambientes domésticos quanto no litoral.

Dados do Boletim Epidemiológico 2025, divulgados pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), mostram que afogamento é a segunda causa de morte de crianças com idades entre 1 e 4 anos no país e pode ocorrer de forma rápida, silenciosa e até mesmo em poucos centímetros de água.

De acordo com a Sobrasa, a maioria desses incidentes ocorre em piscinas domésticas e durante momentos de lazer na água: 65% das mortes por afogamento de crianças entre 0 e 9 anos ocorrem em piscinas, sendo a maioria (49%) em ambientes residenciais, mas também em clubes e academias (10%) e escolas (7%).

Afogamento infantil é rápido e silencioso

Diferente do que muitos imaginam, o afogamento infantil é rápido e silencioso.  Mas é importante lembrar que o afogamento é um acidente totalmente evitável. Diversos cuidados são necessários na hora de prevenir afogamentos e ter segurança no momento de lazer. A vigilância constante e a adoção de medidas preventivas são fundamentais para evitar essas tragédias.

Afogamentos costumam ser silenciosos. Dificilmente a criança conseguirá gritar por ajuda e, em poucos minutos, irá afundar”, explica a pediatra Anna Bohn. Ela destaca que, em 70% dos casos, os adultos sequer sabiam que a criança estava na água.

“Afogamentos são a principal causa de morte em crianças abaixo de 4 anos e seu número se distribui ao longo do ano todo, mas tem um pico importante nesta época do ano”, dispara a Dra. Anna Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, ao completar: “Como crianças nessa faixa etária ainda não entendem o conceito de perigo e proibido, a soma de curiosidade, com imaginação e ambientes com piscina/mar pode trazer resultados perigosos”, avalia a especialista.

É senso comum que os acidentes envolvendo afogamentos parecem repentinos, costumam envolver ambientes com muitas pessoas e geram pouca brecha para um socorro de qualidade. A Dra. Anna aponta um estudo norte-americano que revela que em 70% dos afogamentos, os adultos não sabiam que a criança estava na piscina e em 46% dos casos, o último local em que teriam sido vistas foi dentro da casa. “Afogamentos costumam ser silenciosos. Dificilmente a criança conseguirá gritar por ajuda e em poucos minutos irá afundar”, explica a médica.

Leia mais

Afogamento é a principal causa de morte de crianças até 4 anos
Onda de calor faz aumentar número de afogamentos no Rio
Férias escolares: como prevenir quedas e afogamentos
12 dicas para prevenir afogamentos de crianças

Desatenção dos adultos é o principal erro

Luiz Fernando Fogaça, docente de Enfermagem do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), reforça que a desatenção é o maior erro. Um dos exemplos mais comuns é quando responsáveis deixam o bebê na banheira por instantes para atender o telefone ou realizar outra tarefa rápida.

Fogaça alerta ainda que um dos erros mais comuns é acreditar que nada acontecerá em apenas alguns segundos. “Uma mãe que deixa o bebê na banheira para atender o telefone, por exemplo, pode voltar e encontrar a criança já submersa”, enfatiza.

Fogaça reforça que, especialmente nas festas de fim de ano, quando todos estão distraídos com conversas, música e confraternizações, a supervisão precisa ser reforçada e compartilhada entre os adultos presentes. Ele destaca que redobrar a atenção, ensinar crianças sobre segurança aquática e garantir que alguém saiba acionar socorro e prestar suporte básico de vida são atitudes que podem evitar tragédias. “Prevenção salva vidas. Estar atento, não se afastar e saber acionar o serviço correto fazem toda a diferença”, conclui o professor.

Operação Verão no Rio: drones e resgates recordes

Praias cheias representam mais risco de afogamentos (Foto: Arquivo Fernando Frazão / Agência Brasil)

Se nas piscinas o risco é a distração, no mar o desafio é a força da natureza e a lotação das praias. No Rio de Janeiro, a Operação Verão do Corpo de Bombeiros, iniciada em 19 de dezembro, já apresenta números expressivos:

  • 19 mil pessoas resgatadas no estado (13 mil apenas na capital).

  • 3,1 mil crianças perdidas localizadas nas praias.

  • 38 postos móveis de guarda-vidas implantados.

Uma das novidades desta temporada é o uso de drones com alertas sonoros, utilizados para prevenir banhos de mar noturnos e monitorar áreas de risco. O coronel Charbio Marchett Pinho Guijarro, da Defesa Civil, orienta que os responsáveis utilizem pulseiras de identificação nas crianças e, em caso de emergência no mar, acionem imediatamente o 193.

Afogamento de bebês e crianças: como os pais e cuidadores podem evitar?

Confira 6 dicas práticas para proteger o pequenos dessa situação

Segundo a enfermeira pediátrica Juliana Muniz, especialista em segurança e prevenção de acidentes, a supervisão das crianças precisa ser constante, mas sem tolher a criatividade e o momento de diversão delas: “Crianças pequenas nunca devem ficar sozinhas perto da água, seja em piscininhas pequenas de plástico, seja em piscinas maiores, nem por um breve momento, elas são rápidas e ainda não tem noção do perigo”, orienta a enfermeira especialista em segurança e prevenção de acidentes com crianças.

Para casas com piscina, o ideal é ter barreiras físicas, como cercas ao redor de piscinas ou com portões de segurança que se fecham automaticamente. A educação é um caminho para aumentar a segurança das crianças.

Ensinar as crianças a nadar desde cedo também pode fazer a diferença, hoje em dia existem cursos de natação para bebês a partir de 6 meses em diversas localidades que ajudam a desenvolver habilidades essenciais de sobrevivência na água. Mas, nada substitui a atenção constante dos pais”, aconselha a enfermeira pediátrica.

Aqui está o roteiro consolidado, organizado por categorias para facilitar a leitura e eliminar as repetições, ideal para ser usado como um guia prático ou lista de verificação para pais e responsáveis:

Guia de segurança aquática: prevenção e ação

1. Vigilância e comportamento

  • Supervisão ativa: A criança deve estar sempre à distância de um braço de um adulto. Não confie em momentos de “muitas pessoas olhando”, pois isso gera falsa sensação de segurança.

  • Designação de vigia: Em festas ou reuniões, escolha um “guardião da piscina” por turnos. Este adulto não deve consumir álcool, usar o celular ou se distrair com outras tarefas (como o churrasco). Se precisar se ausentar, passe a responsabilidade formalmente para outra pessoa.

  • Falta de uma criança? Procure na água primeiro: Se perder uma criança de vista, cheque imediatamente a piscina ou o mar. Cada segundo é vital para evitar danos cerebrais ou óbito.

  • Aprender a nadar: Coloque as crianças em aulas de natação a partir dos 6 meses de idade para desenvolver habilidades de sobrevivência, mas lembre-se: nada substitui a vigilância.

2. Barreiras e equipamentos (Ambiente doméstico)

  • Cercas de proteção: Instale barreiras de pelo menos 1 metro de altura nos quatro lados da piscina, com portões que travam automaticamente. Evite objetos por perto que a criança possa usar para escalar.

  • Atenção além da piscina: Mantenha banheiras, baldes e caixas d’água vazios ou inacessíveis quando fora de uso.

  • Filtro desligado: Nunca permita o uso da piscina com o filtro ligado para evitar o risco de sucção de cabelos ou membros.

3. Vestuário e flutuação

  • Cores vibrantes: Escolha roupas de banho em tons de laranja, rosa neon, amarelo ou vermelho. Evite azul, cinza ou cores claras, que se camuflam no fundo da água, dificultando a localização visual em emergências.

  • Coletes salva-vidas: Substitua boias de braço ou de barriga por coletes homologados. As boias podem furar, murchar ou escorregar, enquanto o colete mantém a criança flutuando de forma segura.

4. Cuidados específicos no mar

  • Regra do umbigo: Lembre-se sempre: “água no umbigo, sinal de perigo”.

  • Verificação do local: Cheque sempre a presença de salva-vidas e a existência de correntezas. Se o adulto responsável não souber nadar, ele não deve acompanhar a criança na água.

  • Brincadeiras na areia: Castelos e buracos devem ser feitos longe da linha da água e sempre sob supervisão constante.

5. Em caso de emergência

  • Acione o socorro: Ligue imediatamente para o 193 (Bombeiros) para o resgate na água. O 192 (SAMU) deve ser acionado para o atendimento médico após a retirada da vítima.

  • Ajuda segura: Tente ajudar jogando um objeto flutuante ou alcançando a pessoa com uma vara, mas nunca entre na água se não tiver treinamento, para evitar se tornar uma segunda vítima.

Os elos da cadeia de sobrevivência no afogamento

Segundo ele, o principal fator para evitar acidentes é a prevenção, considerada o primeiro elo da cadeia de sobrevivência no afogamento. Ele ressalta que prevenir envolve ensinar a criança a nadar, garantir a supervisão constante e jamais deixá-la sozinha próxima a qualquer quantidade de água acima da altura da cintura, incluindo piscinas, baldes grandes, caixas d’água, lagos e até banheiras utilizadas para banho.

O professor reforça que muitos acidentes graves ocorrem justamente em situações cotidianas e aparentemente inofensivas. O especialista destaca que o atendimento adequado a um caso de afogamento segue uma sequência fundamental conhecida como cadeia de sobrevivência.

O primeiro elo é a prevenção, o segundo é o reconhecimento rápido de que a criança está se afogando e o terceiro é acionar o serviço de emergência adequado. Após o acionamento, quando e se houver segurança, a remoção imediata da vítima da água é essencial.

Afogamento molhado x afogamento seco

A partir disso, identifica-se o grau do afogamento, que varia entre níveis leves e gravíssimos. Conforme explica o docente, quanto maior o grau, mais complexa é a situação clínica, especialmente nos níveis quatro, cinco e seis, que aumentam substancialmente o risco de morte. As consequências variam desde ingestão leve de água até danos pulmonares, hipóxia, que é a falta de oxigênio nos tecidos ou células do corpo, e complicações neurológicas graves. 

Ele também explica a diferença entre afogamento “molhado”, em que há ingestão significativa de água nos pulmões, e o afogamento “seco”, quando ocorre fechamento da epiglote, impedindo a entrada de ar e levando à insuficiência respiratória, mesmo sem grande volume de água aspirada. Em alguns casos, crianças chegam vivas ao hospital, mas podem apresentar complicações tardias, como broncoaspiração.

O que fazer em caso de emergência

Se uma criança desaparecer, procure primeiro na água. Cada segundo é vital. Ao presenciar um afogamento, ligue para o 193 (Bombeiros) para o resgate e para o 192 (SAMU) para o suporte médico pós-retirada. Fogaça explica que o Corpo de Bombeiros, acionado pelo 193, é o órgão responsável por retirar vítimas da água, enquanto o SAMU, no 192, atua após a remoção.

Muita gente não sabe, mas é o 193 — e não o 192 — que deve ser acionado primeiro. O SAMU não entra na água, quem realiza o resgate é o Corpo de Bombeiros. Quanto mais tempo a criança permanece submersa, maior será o grau do afogamento e maior o risco de óbito”, esclarece.

Outra dica, segundo o especialista, enquanto o serviço de emergência é acionado, pode ser importante jogar um objeto flutuante para que a pessoa que esteja se afogando tente se manter apoiado ao objeto até o Corpo de Bombeiros chegar.

Se possível, jogue um objeto flutuante para a vítima, mas nunca entre na água para salvar alguém se você não tiver treinamento técnico, para não se tornar a próxima vítima.

Com essas medidas simples, os pais podem garantir um ambiente seguro e tranquilo para seus filhos, evitando acidentes e garantindo que os momentos de lazer na água sejam apenas de alegria e diversão

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *