As provas da segunda etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 serão realizadas neste domingo (16), em 1.805 municípios nas 27 unidades da Federação. Os mais de 4.8 milhões de inscritos confirmados vão testar os conhecimentos em 45 questões de múltipla escolha de matemática e 45 questões de ciências da natureza (química, física e biologia) e 

Enquanto a Redação – cobrada na  primeira etapa das  provas – é um desafio para milhares, para muitos outros, o  pavor está nas provas de Matemática. A dificuldade com cálculos aritméticos, na hora de entender os numerais e aprender como estes e suas funções funcionam, pode ser um problema além da dificuldade com o tema. A dificuldade pode esconder um transtorno de aprendizagem conhecido como  discalculia, que atinge de 5% a 15% da população, de acordo com dados da Associação Americana de Psiquiatria (ABP).

O distúrbio se manifesta no não entendimento da construção dos cálculos, ou no atraso em resolver cálculos muito simples. Pesquisas norte-americanas indicam que até 7% das crianças no ensino fundamental podem apresentar discalculia. Outros estudos associam o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – a discalculia, apontando um maior aparecimento.

Discalculia: o distúrbio numérico que poucos conhecem

Como a dificuldade de aprender os numerais pode afetar a vida de adultos e crianças, principalmente na hora de administrar o dinheiro, chegar a tempo nos compromissos ou até fazer compras

discalculia é um transtorno específico da aprendizagem que afeta a capacidade de compreender e realizar operações matemáticas, o processo de memorização de fatos, a resolução de problemas e a organização de informações numéricas, impactando negativamente a vida de crianças e adultos que convivem com esse transtorno específico da aprendizagem.

O distúrbio que impede a pessoa de ter um aprendizado normal sobre a matemática foi identificado por pesquisadores na década de 1940. O pesquisador Ladislav Kosc, definiu como ‘uma desordem estrutural das habilidades matemáticas’, derivado de uma falta de equilíbrio entre determinadas áreas do cérebro que controlam os cálculos matemáticos. Nas atuais pesquisas, o surgimento do distúrbio ao desenvolvimento inadequado dessas áreas do cérebro, por problemas genéticos.

Nosso dia a dia é repleto de números e podemos imaginar como isso pode dificultar a vida de uma pessoa. Problemas para fazer compras, administrar dinheiro, chegar a tempo nos compromissos e outras situações, como nas crianças ao se divertirem com jogos digitais, pois a dificuldade aparece em contagens simples”, exemplifica João Victorino, especialista em finanças pessoais.

Ele explica que o desafio de cuidar das finanças pessoais é por si só muito complexo. “Não temos uma cultura de ensinar sobre isso nas escolas e nem nas famílias, haja vista a quantidade de pessoas endividadas no nosso país. A falta de educação financeira potencializa essa situação. Imagine para quem tem o distúrbio da discalculia como que se torna a qualidade de vida financeira! Isso é muito impactante. Precisamos estudar mais sobre o tema e criar alternativas de apoio e tratamento que apoiem essas pessoas”.

Desafios e dificuldade para acessar o diagnóstico

Para aumentar a conscientização sobre essa condição, o Instituto ABCD, organização social sem fins lucrativos, que se dedica a promover e divulgar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia, elenca os desafios, as dificuldade para acessar o diagnóstico e as estratégias que podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades numéricas.

 As implicações da discalculia na vida cotidiana podem afetar habilidades necessárias para a vida adulta. Tarefas diárias que envolvem matemática, como medir ingredientes para cozinhar, calcular troco, seguir instruções de um GPS ou calcular horários de transporte público, tornam-se mais desafiadoras para essas pessoas”, avalia Juliana Amorina, diretora presidente do Instituto ABCD.

Para Ricardo Moura, especialista em aprendizagem e desenvolvimento cognitivo pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, a identificação precoce da discalculia é ideal para proporcionar apoio adequado às crianças e adultos impactados, apesar do processo não ser tão simples.

O diagnóstico precoce colabora para que as pessoas com discalculia entendam quais são suas limitações, embora não haja barreiras intransponíveis, encontrem estratégias conscientes de compensação e, com o apoio adequado, desenvolvam habilidades matemáticas e alcancem seu pleno potencial acadêmico e profissional”, garante.

Cuidado na hora de fechar o diagnóstico

A discalculia é uma condição complexa e seus sintomas podem variar de uma pessoa para outra – por isso, é importante que um profissional especializado avalie e diagnostique, pois outros fatores podem contribuir para dificuldades matemáticas.

Para o Dr. Ricardo Moura, é preciso tomar cuidado para não antecipar um diagnóstico definitivo que, na verdade, pode ser apenas uma dificuldade temporária ocasionada por fatores sociais, emocionais ou questões individuais.

discalculia também pode ser identificada em adultos e tem características iguais às das crianças com o distúrbio. “O mais correto é procurar um médico, caso desconfie que a dificuldade com os números é acima do normal, atrapalhando sua capacidade cognitiva de entendimento dos números”, conclui João Victorino.

Sintomas podem variar de pessoa para pessoa

Existem alguns tratamentos para esse transtorno, baseados na especialização dos métodos de ensino, ou na prática das habilidades matemáticas de maneira muito mais intensa que a média. “Alguns especialistas ainda estabelecem protocolos de tratamentos específicos, que podem utilizar ritmo e música, desenhos junto aos números e o foco no treino e não necessariamente no resultado final”, comenta João.

Para a especialista, é fundamental que a sociedade, pais e educadores trabalhem juntos para garantir que ninguém seja excluído em virtude dessas dificuldades. Segundo ela, quem acompanha a criança possui um papel vital em seu processo de aprendizagem.

Cada indivíduo com discalculia é único, e as estratégias de ensino devem ser adaptadas às suas necessidades específicas. Nesse processo, pais e educadores podem ajudar a desenvolver estratégias para superar as barreiras impostas aos alunos com discalculia, promovendo a autoconfiança e o sucesso acadêmico”, afirma.

Leia mais

‘Mais importante que passar de ano é estar saudável’, diz especialista
Passar a noite em claro para estudar não ajuda na aprendizagem
Tudo o que você queria saber sobre transtornos de aprendizagem
Jovem de 17 anos que ‘mora’ em hospital estuda para o Enem
Envelhecimento é tema de redação do Enem: a gente já sabia
Ansiedade pré-Enem: como lidar com a ‘fobia’ e manter o foco

Atenção a alguns sinais e sintomas

  • Dificuldade na compreensão de conceitos e leitura de sinais matemáticos: Pessoas com discalculia podem ter dificuldade em compreender conceitos fundamentais, como adição, subtração, multiplicação e divisão, e os símbolos matemáticos de + (mais), – (menos), x (vezes) e ÷ (dividido). Eles podem confundir ou interpretar incorretamente esses símbolos;
  • Problemas com cálculos básicos: discalculia muitas vezes se manifesta como dificuldade em realizar cálculos simples, como somar ou subtrair números pequenos. Os erros frequentes em cálculos simples podem ser um indicador;
  • Problemas com sequências numéricas: A discalculia também pode se manifestar como dificuldade em contar em sequência ou em reconhecer padrões em números. Isso pode ser notado em problemas como contar de 1 a 100, onde a pessoa pode pular números ou se perder na contagem;
  • Lentidão na resolução de problemas matemáticos: A discalculia pode resultar em um processo mais lento para resolver problemas matemáticos, mesmo que a pessoa compreenda os conceitos, e junto disso, pode surgir dificuldade em estimar quantidades e fazer aproximações, o que pode afetar seu desempenho em tarefas escolares e na vida cotidiana que envolvem matemática;
  • Desafios na organização de informações matemáticas: Pessoas com discalculia podem ter dificuldade em organizar informações matemáticas em sequências lógicas, como tabelas de multiplicação, séries numéricas ou frações;
  • Dificuldade em lidar com frações e decimais: Pessoas com discalculia frequentemente enfrentam desafios ao lidar com frações e números decimais. Eles podem ter dificuldade em entender a relação entre frações, números inteiros e porcentagens, o que pode afetar seu desempenho em tarefas envolvendo medidas precisas.
  • Dificuldade em compreender e usar medidas: Pessoas com discalculia podem ter dificuldade em entender a relação entre diferentes unidades de medida, como quilogramas e gramas, ou metros e centímetros. Elas podem ter dificuldade em converter entre essas unidades ou em aplicar corretamente medidas em problemas matemáticos. Essa dificuldade pode se manifestar desde a confusão entre unidades de medida até a incapacidade de estimar e comparar tamanhos, pesos ou volumes.

Enem 2025: candidatos fazem prova de matemática e ciências da natureza

Rio de Janeiro (RJ), 09/11/2025 – Candidatos chegam para o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na Universidade Santa Úrsula, em Botafogo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
© Fernando Frazão/Agência Brasil

No último domingo (9), mais de 4,81 milhões inscritos confirmados no Enem, 3,5 milhões (73%) participaram do primeiro dia de provas. Os candidatos faltantes do primeiro domingo podem comparecer no segundo dia de provas.

Por causa da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), excepcionalmente, os inscritos para fazer o exame em três municípios do Pará (Belém, Ananindeua e Marituba) prestarão as provas nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro.

Pela primeira vez, nesta edição, os alunos concluintes de escola pública tiveram a inscrição pré-preenchida no sistema, uma forma de simplificar o processo e estimular a participação. A estratégia deu resultado. De 1,9 milhão de concluintes do ensino médio da rede pública, 1,34 milhão confirmaram a inscrição no exame (72,6%), conforme dados do Painel Enem 2025, divulgado pelo Ministério da Educação.

Outra novidade da edição 2025: os resultados do Enem voltaram a certificar a conclusão do ensino médio, depois desta opção ter sido descontinuada em 2017. A certificação é destinada aos participantes maiores de 18 anos que indicaram essa modalidade no momento da inscrição no exame e que atingiram a pontuação mínima exigida (450 pontos em cada área e 500 pontos na redação).

Mais um ineditismo do Enem de 2025: o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2026 aceitará notas das edições deste ano, de 2024 e 2023, para ingresso no ensino superior público.

As notas finais do Enem podem ser usadas para acesso a universidades públicas, em diversas modalidades;

  • para concorrer a bolsas de estudo integrais e parciais em universidades privadas;
  • para pleitear o crédito estudantil para o pagamento das mensalidades de faculdades privadas;
  • para ingresso sem vestibular em faculdades;
  • para estudar em Portugal;
  • para autoavaliação pelo treineiros; e
  • para certificação de conclusão do ensino médio ou declaração parcial de proficiência nessa etapa do ensino básico.

Com Assessorias e Agência Brasil

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *