A morte da esteticista Paloma Lopes Alves, 31 anos, na última terça-feira (26) após passar por uma hidrolipo, causou repercussão nacional e tem fomentado o debate em torno dos riscos de procedimentos fora de centros cirúrgicos. A clínica Maná Day, onde Paloma foi atendida, já foi denunciada pelo menos 21 vezes.

O cirurgião plástico Luiz Haroldo Pereira, e membro titular e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, alerta para o fato de que hidrolipo e lipoaspiração são a mesma cirurgia e que hidrolipo é apenas um nome fantasia para dar a ideia de que o procedimento pode ser feito em clínicas e consultórios. Ele reforça que qualquer lipoaspiração, seja de que porte for, é uma hidrolipo, porque é feita infiltração de soro fisiológico e adrenalina no local da cirurgia.

É o mesmo princípio de toda lipoaspiração. Ele não é menos invasivo, é invasivo como qualquer outra cirurgia. A diferença é que eles acham que custa mais barato, que fazem em qualquer lugar e em várias sessões. Com isso muitas vezes ocasionando um problema porque se não houver recurso onde for operado e se houver uma depressão respiratória, o médico não tem como recuperar esse paciente. No hospital você tem todos os recursos de reanimação, de entubação, permitindo que tudo transcorra normalmente”, explicou.

O médico reforça ainda, que além de ser realizada em ambiente hospitalar adequado, a lipoaspiração deve ser feita depois de consultas presenciais e muita análise do caso de cada paciente, avaliando a necessidade de uma cirurgia desse porte e a saúde clínica, por meio de exames pré-operatórios, que não são dispensáveis em nenhuma situação.

Muitas vezes a consulta é só pelo vídeo e só vai conhecer o médico no dia do procedimento. É uma maneira de burlar a legislação e uma falta de cuidado com a pessoa, que não passou por análise cardiológica, por exames de sangue, não se conhece o paciente por dentro. E o cirurgião não teve chance de conversar, de estabelecer intimidade com o paciente porque vai cuidar da vida dessa pessoa. E estando em local inadequado é aí que tudo se complica, porque começou tudo errado. E quando as coisas começam errado há grande chance de terminar errado, mais do que nunca”.

Segundo ele, “hidrolipo, lipolight, lipolaser não existem – tudo é lipoaspiração’. E só deve ser feita só com cirurgião com pelo menos dois anos de experiência, em ambiente hospitalar.

Uma maneira de burlar é usar palavras como hidrolipo, dizer que não precisa internar, não precisa fazer exame”, diz o médico, lembrando que as mortes geralmente estão relacionadas a ambiente inadequadao e profissionais não habilitados – “os picaretas da vida” – que não deveriam estar realizando esse tipo de procedimento.

De acordo com o médico, a cirurgia plástica não precisa ser feita em grande hospital, pode ser realizada em clínica especializada, desde que o estabelecimento tenha CTI e ofereça recuperação pós-anestésico.

Os cuidados devem ser pré, durante e pós-cirurgia. Nada de clínica de estética que não tem essa estrutura, tem que operar em condição adequada. Senão, complica muito mais, causando infelicidade para a família, a sociedade e para nós cirurgiões”, destacou.

Segundo ele, o pré-operatório deve envolver uma minuciosa anamnese, para enteder se o paciente está usando anabolizante ou remédio para emagrecimento, como Ozempic, por exemplo. “Tem que ter cuidado para não operar paciente com risco 3, 4 ou 5. Se faz em hospital, é possível reanimar e salvar o paciente”, aponta.

Ambiente inadequado expõe o paciente a riscos inaceitáveis

O cirurgião plástico Hugo Sabath, da Clínica Libria, também destacou a importância de que qualquer procedimento invasivo seja realizado exclusivamente em ambiente hospitalar, devidamente equipado.

Procedimentos como a hidrolipo, que envolvem a infiltração de substâncias no corpo e manipulação de gordura, devem ser realizados em centros cirúrgicos. Além disso, é imprescindível a presença de um médico anestesiologista para monitorar os sinais vitais e intervir em caso de complicações. Realizar um procedimento dessa complexidade em um ambiente inadequado expõe o paciente a riscos inaceitáveis, como embolia pulmonar e infecções graves”, explica o especialista.

A importância da fiscalização e educação da população

Especialistas destacam que o aumento da oferta de procedimentos estéticos a preços acessíveis nas redes sociais muitas vezes ignora os critérios básicos de segurança e qualificação dos profissionais. A falsa sensação de facilidade e os resultados rápidos prometidos podem levar pacientes a negligenciarem a análise criteriosa de quem realiza o tratamento.

Infelizmente, vemos um crescimento alarmante de complicações em procedimentos realizados por profissionais sem qualificação adequada ou em ambientes inadequados. Precisamos reforçar que não há espaço para improvisos quando se trata de saúde. A vida de um paciente não pode ser colocada em risco em nome de um resultado estético”, alerta Dr. Hugo Sabath.

Direito dos pacientes e responsabilidades dos profissionais

Conforme a advogada especialista em Direito Médico, Beatriz Guedes, este caso evidencia a importância de maior fiscalização das clínicas estéticas e conscientização sobre os direitos dos pacientes.

A escolha de um médico ou clínica deve ser feita com cautela. É essencial verificar se o profissional possui registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) e se o estabelecimento está devidamente licenciado pela vigilância sanitária. Além disso, o paciente tem direito a informações claras e detalhadas sobre os riscos do procedimento, assegurados por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, ressalta a advogada.

Ela também aponta que negligência, imprudência ou imperícia por parte do profissional podem resultar em responsabilização civil e criminal. “A realização de um procedimento estético sem as condições adequadas de segurança não é apenas antiético, mas pode configurar crime e gerar reparações por danos morais e materiais para a família da vítima”, acrescenta.

Este caso trágico reflete a necessidade urgente de medidas mais rigorosas para garantir que os procedimentos estéticos sejam realizados dentro dos padrões de segurança exigidos. A perda de Paloma não pode ser em vão. Que esta fatalidade sirva como um alerta para profissionais, autoridades e pacientes sobre a importância de priorizar a saúde e a segurança em qualquer procedimento estético.

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Dicas do médico para cuidados necessários em ambiente hospitalar

Em entrevista à Globonews, Dr Haroldo deu algumas orientações a ser observadas antes de optar por um médico ou local para realizar uma cirurgia plástica.

  • Nunca confie em informação do ‘Doutor Instagram’ ou ‘Doutor Google’
  • Busque recomendação de quem já operou ou com um médico da família.
  • Investigue se o médico é associado da SBCP (pelo site cirurgiaplastica.org.br)
  • Visite o hospital para conhecer as instalações
  • Escute uma segunda opinião para se sentir mais seguro/a.

 

Com informações de Assessorias, Agência Brasil e Globonews

 

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