Por Caio Bruzaca*

Em 21 de março é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down. No entanto, a data que deveria ser de comemoração, merece – mais que nunca – uma profunda reflexão. O estudo Public Health England, comandado pelo Sistema Público de Saúde da Inglaterra, revela que a taxa de mortalidade por Covid-19 registrada entre pessoas com deficiência intelectual, como Síndrome de Down, no país é quatro vezes maior se comparada à população em geral.

Especialistas dizem, porém, que a taxa verdadeira pode ser ainda maior, uma vez que nem todas as mortes de pessoas com deficiência intelectual são registradas nas bases de dados utilizadas para agrupar os resultados.

No Brasil, mais especificamente no Sistema Único de Saúde (SUS), que segue com a capacidade de atendimento comprometida em razão da elevação diária no número de novos casos e da suspensão de atividades presenciais em centros de referência dedicados às pessoas com deficiência intelectual, esse quadro tende a ser semelhante ao registrado na Inglaterra, segundo defendem especialistas.

Em meio à pandemia provocada pelo coronavírus, em que há a necessidade de garantir o acesso à vacina para imunizar a maior parte da população, temos acompanhado discussões em relação aos grupos que devem receber a imunização com mais urgência, os chamados grupos de risco, formados por pessoas mais vulneráveis ao contágio e às complicações da Covid-19.

Nos planos de vacinação apresentados tanto pelo Ministério da Saúde (MS) quanto pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) esses grupos estão bem descritos e seguem uma lógica coerente, porém, não há descrição clara sobre a prioridade que também deveria ser concedida às pessoas com deficiência intelectual, como as pessoas com Síndrome de Down, também mais vulneráveis à contaminação e às complicações da doença.

Se considerarmos a questão do isolamento social e seu impacto para as pessoas com Síndrome de Down, o cenário também é precupante, pois são pessoas com maiores chances de desenvolver quadros depressivos quando se sentem isoladas, aumentando sua vulnerabilidade aos sintomas de doenças como a Covid-19.

Quando falamos em contrair o novo coronavírus, pessoas com Síndrome de Down, em especial moderada e grave, apresentam maior dificuldade em assimilar orientações de higiene respiratória, ou seja, o uso consciente da máscara facial, lavagem correta e frequente das mãos, uso de álcool em gel 70%, além de práticas como cobrir a boca na hora de espirrar ou tossir.

É frequente também levarem objetos à boca, como brinquedos, o que pode, inclusive, propagar o vírus. Ressaltamos, ainda, que a população com Síndrome de Down é frequentemente acometida por comorbidades, incluindo hipertensão, diabetes, cardiopatias congênitas e outras malformações congênitas, o que as insere em um grupo de risco por conta de doenças crônicas ou outras comorbidades relevantes.

É indicado que essas pessoas recebam ainda mais cuidado nesta fase de pandemia, com cuidadores ou familiares atentos aos cuidados que eles podem deixar de fazer, como lavar a mão corretamente, usar álcool em gel e máscara de forma adequada.

No geral, as pessoas com Síndrome de Down seguem apenas inseridas na divisão por idade, com exceção das que vivem em centros de referência específicos. Há projetos na Câmara dos Deputados que visam incluir essa parcela da população dos grupos prioritários, mas ainda não há nenhuma contrapartida do Ministério da Saúde para isso.

*Caio Bruzaca é médico geneticista no Ambulatório de Diagnósticos do Instituto Jô Clemente (antiga Apae de São Paulo)

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