Marrone – da dupla Bruno & Marrone – foi operado às pressas em um hospital de Goiânia na última segunda-feira (17) para tratar de um quadro avançado de glaucoma em ambos os olhos. Na cirurgia de emergência, o cantor sertanejo de 58 anos perdeu uma parte da visão.
O oftalmologista José Beniz Neto, que acompanha o artista, explicou que outras pessoas da família dele já foram diagnosticadas com a mesma doença, sendo, portanto, um caso hereditário. Não está descartada a possibilidade de novas cirurgias ou outros recursos terapêuticos.
Como é uma doença sem cura, o cantor terá que fazer tratamento para o resto da vida para não perder totalmente a visão. Segundo os médicos, Marrone pode levar uma vida normal e continuar fazendo shows, desde que a doença não progrida.
Por isso, ele deve manter o acompanhamento oftalmológico para verificar a situação do campo visual, da tomografia óptica, do nervo óptico e da pressão ocular”, disse o médico ao G1.
O cantor estava fazendo uso de colírios especiais para controlar a pressão ocular, fator decisivo para o agravamento da doença. Quando sentiu uma dor de cabeça forte, resolveu procurar o médico. Nos exames, foi diagnosticado um agravamento assintomático, descrito como “escavação significativa do nervo óptico”.
Principal causa de cegueira no mundo
O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo, como mostramos em um recente especial aqui no Portal Vida e Ação. Embora mais comum a partir dos 40 anos, a doença pode surgir em qualquer idade, até mesmo em recém-nascidos.
Pesquisas indicam que entre 1% e 2% da população mundial convivem com a doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 285 milhões de pessoas em todo o mundo têm a visão prejudicada, com parcela significativa relacionada ao glaucoma. Até 2040, serão mais de 111,8 milhões de pessoas.
No Brasil, cerca de 2,5 milhões de pessoas podem ser afetadas pela doença, segundo estima a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG). No entanto, é preocupante que quase metade delas desconheça sua condição devido à natureza silenciosa e assintomática do glaucoma em estágios iniciais.
Apesar da gravidade do quadro, quatro em cada dez pessoas não sabem o que é, de acordo com levantamento realizado pelo Ibope Inteligência. Conforme destaca o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, em 80% dos casos o paciente não apresenta sintomas logo que se instala a doença. Estima-se que entre 60% e 80% desses casos poderiam ser prevenidos ou tratados adequadamente.
Processo lento que pode levar anos
Segundo o médico oftalmologista e professor de Medicina da Unime, Roberto Lauande, o glaucoma é uma enfermidade que provoca a atrofia do nervo óptico, responsável por conectar o olho ao cérebro, interrompendo, assim, a transmissão dos sinais entre esses dois órgãos e levando à cegueira. No geral, a doença ocorre devido ao aumento da pressão intraocular.
Trata-se de um processo lento, que pode progredir durante anos, até o aparecimento dos primeiros sintomas que não surgem de forma aparente na fase inicial, na maioria dos pacientes. Quando há algum sinal, a doença já está causando a perda gradativa da visão em grande parte dos casos. A cegueira causada pelo glaucoma pode ser evitada seguindo as orientações médicas”, alerta o especialista.
O que é o glaucoma avançado, condição de Marrone
O oftalmologista esclarece quais os sinais e de que forma o estágio avançado da doença, como foi o diagnóstico do cantor sertanejo. “Glaucoma avançado se caracteriza por uma escavação total do nervo óptico e um campo visual restrito à parte central, ou seja, o paciente perde a capacidade de ver o campo visual periférico e fica com uma ilha central de visão.
Dessa forma, ele não por exemplo dirigir, pois não consegue ter lateralidade e ver objetos que estão vindo dos lados. Mesmo tendo uma visão frontal bastante boa, o paciente não tem a visão periférica, o que ocasiona em uma série de restrições”, completa o Dr. Lauande.
Para evitar complicações e um diagnóstico tardio, o aconselhável é consultar um oftalmologista uma vez por ano. Entretanto, para quem já realiza tratamentos, principalmente em casos de enfermidades progressivas, o correto é ir às consultas em períodos mais curtos, orienta o profissional.
Sintomas do glaucoma
A maioria das pessoas não apresenta sintomas, mas com o passar dos anos e se não tratado devidamente, o paciente com glaucoma tende a ter a visão periférica prejudicada.
Sintomas como perda gradual da visão lateral, dor súbita na região, visão piorada, olhos vermelhos e inchados, náuseas, dores na testa, lacrimação, sensibilidade à luz, nebulosidade na parte frontal do olho e aumento de um ou ambos os olhos podem surgir, indicando a necessidade de acompanhamento médico para evitar a progressão da condição.
No glaucoma crônico os principais sintomas são:
-Perda do campo visual periférico
-Visão turva
Nos casos de glaucoma agudo:
-Dor intensa e súbita
-Olhos vermelhos
-Baixa de visão
É muito importante os pais estarem atentos à saúde ocular dos filhos, pois quando uma criança nasce com glaucoma ela tem propensão a se acostumar com a baixa visão recebida e não se queixar do problema”, informa Fernando Ramalho, especialista em cirurgia refrativa no Oftalmos – Hospital de Olhos, de Santa Catarina.
Na maioria dos casos o glaucoma surge devido ao aumento da pressão intraocular. ”Essa alteração lesiona o nervo óptico levando à perda da visão periférica, ou seja, as laterais do campo visual. É como se o paciente só conseguisse enxergar o que está à sua frente”, completa Ramalho.
De maneira geral, a doença se manifesta nos dois olhos, mas pode evoluir de forma diferente. É um processo lento que avança gradativamente durante anos, até o aparecimento dos primeiros sintomas. É por isso que o diagnóstico precoce é fundamental.
O glaucoma não tem cura, mas tem tratamento. Um check-up ocular proporciona que esse paciente tenha menos complicações da doença, sendo que o tratamento é feito com indicações de colírios específicos, procedimentos a laser e cirurgias”, comenta Dr. Fernando.
Juliana Zarate, médica oftalmologista da Kora Saúde, explica que o glaucoma é uma doença que compromete o nervo óptico, responsável por transmitir as informações visuais ao cérebro.
Essa condição resulta em uma perda gradual do campo visual periférico, muitas vezes sem sintomas perceptíveis até estágios avançados da doença. Por isso, o diagnóstico precoce é essencial e geralmente é obtido por meio de consultas oftalmológicas preventivas”, explica.
A médica ressalta que existem grupos de pacientes que requerem atenção especial, como aqueles com idade acima de 40 anos, alta miopia ou histórico familiar positivo para o glaucoma “É fundamental que toda a população realize consultas oftalmológicas periódicas para garantir a detecção precoce de quaisquer problemas oculares”.
O foco principal é controlar e reduzir a pressão intraocular para mitigar os sintomas, uma vez que o glaucoma não tem cura. O tratamento geralmente envolve o uso de colírios, mas em alguns casos podem ser necessários procedimentos cirúrgicos ou a laser para controlar a progressão da doença.
É importante ressaltar que, embora toda cirurgia apresente riscos, quando realizada por profissionais experientes e com uma boa indicação médica, os benefícios superam significativamente os riscos”, finaliza Juliana.
Principal causa de cegueira irreversível no mundo, o glaucoma é a lesão crônica no nervo óptico, responsável pela transmissão de informações visuais ao cérebro, que gera alteração e dificuldade na visão. De acordo com dados da SBO (Sociedade Brasileira de Oftalmologia), a silenciosa e irreversível doença acomete até 2,5 milhões de brasileiros acima de 40 anos.
Segundo Ione Alexim, oftalmologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a realização do diagnóstico precoce é fundamental e pode prevenir a evolução da doença que geralmente apresenta sintomas apenas nos estágios mais avançados.
Os fatores de risco associados ao surgimento do glaucoma envolvem questões hereditárias, idade superior a 40 anos, alto grau de miopia (acima de seis), diabetes e córnea fina. “É crucial que todas as pessoas consideradas dentro do grupo de risco mantenham acompanhamento médico oftalmológico ao menos uma vez ao ano”, aponta a médica.
Existem quatro tipos diferentes de glaucoma conhecidos. Cada um exige um acompanhamento e tratamento diferente:
- Glaucoma crônico de ângulo aberto: é o tipo mais comum, os pacientes são assintomáticos, a perda visual ocorre de forma lenta e progressiva, sendo identificada em fases mais avançadas da doença. Afeta principalmente a visão periférica lateral.
- Glaucoma de ângulo fechado: segunda manifestação mais recorrente, ocorre quando há um embaçamento visual, ocasionado pelo aumento súbito da pressão intraocular, além de dor exacerbada na região.
- Glaucoma congênito: pode acontecer nos primeiros meses de vida, é raro e ocorre quando a criança já nasce com a doença devido má formação, exigindo tratamento imediato após o diagnóstico.
- Glaucoma secundário: é causado por fatores externos que elevam a pressão intraocular, como hipertensão arterial, diabetes, uso excessivo de medicamentos, como corticosteroides, além de tumores e inflamações.
O primeiro é o glaucoma primário de ângulo aberto, caracterizado pela progressão lenta da doença. No segundo, o glaucoma de ângulo fechado é uma condição mais grave, já que ocorre uma situação anatômica, bloqueando o trabeculado, podendo levar à cegueira em pouco tempo.
A terceira causa é o glaucoma secundário, sendo proveniente de outras doenças como diabetes e catarata. Por último, temos o glaucoma congênito, quando ocorre uma má-formação no trabeculado desde o útero materno, podendo ser observado no teste do olhinho”, finaliza Dr. Fernando Ramalho.
Diagnóstico e tratamento
A Dra. Ione Alexim enfatiza a importância de procurar o oftalmologista regularmente para avaliar a condição dos olhos. “Consultas e exames anuais auxiliam no diagnóstico precoce e permitem intervenções, que podem retardar o avanço do glaucoma, ajudando a evitar a cegueira irreversível, além de auxiliar os pacientes a manterem a independência e autonomia”, afirma a médica.
Conforme a especialista, o tratamento clínico pode ser realizado com o uso de colírios e laser, a fim de diminuir os níveis de pressão intraocular. Porém, dependendo do quadro clínico do paciente, pode ser avaliado a realização de procedimento cirúrgico.
Com Assessorias