“A menopausa é um movimento, gostaria de convidar todas a participar dele”, diz a jornalista Mariza Tavares. Até bem pouco tempo, o assunto era tratado com reserva, quase em segredo entre amigas. Estamos falando de menopausa, fase que chegará para todas as mulheres, e que há muito precisava ser tratada com clareza, uma generosa dose de delicadeza e sem medo ou vergonha por todas nós.
Pois foi o que fez a jornalista Mariza Tavares, ao lançar em março, quando se comemora o Mês da Mulher, o livro ‘Menopausa, o momento de fazer as escolhas certas para o resto de sua vida’. A obra trata do que se passa com as mulheres durante o período e como vão lidar com esta nova fase em sua vida e seus relacionamentos. Mariza, também autora de Longevidade no cotidiano, duas coletâneas de poemas e seis livros infantis, toca o blog Bem Estar, Modo de Usar, no Portal G1.
Nesta entrevista exclusiva ao PORTAL VIDA & AÇÃO, ela comenta que em nossa sociedade há um mantra para nos mantermos sempre jovens e que muitas de nós — mulheres — acham que a chegada da menopausa seria um defeito a ser ocultado e o fim: da beleza, do poder de sedução, da vida feminina. Nesta pingue-pongue, contudo, nossa autora desfaz tais mitos, além de nos asseguras que é na menopausa que “chegamos a um estágio de maior independência e autoconfiança e que isso é muito libertador”.
- 1 – Quais são os principais desafios para as mulheres na menopausa? E no climatério?
Só para contextualizar, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o climatério é a fase que vai do período reprodutivo ao não reprodutivo, uma espécie de guarda-chuva para as mudanças que ocorrem a partir da pré-menopausa. Já a menopausa é um marco, “decretado” depois que a mulher passa 12 meses sem menstruar. Do ponto de vista físico, o principal desafio é a saída de cena do o estrogênio, o hormônio protetor da saúde da mulher, desencadeando uma série de sintomas e aumentando o risco cardiovascular, de osteoporose e síndrome metabólica, uma condição que engloba hipertensão, gordura corporal em volta da cintura e níveis elevados de colesterol. Mas minha intenção não foi me limitar à questão física/biológica. O livro está dividido em cinco seções: o corpo, as emoções, as relações, o sexo e o segundo ato, que abrange trabalho e a luta pelos nossos direitos.
2 – Pela sua experiência e ouvindo especialistas, o que aconselharia/recomendaria às mulheres nesta fase?
A chave de tudo é o autocuidado. A janela da meia-idade é crucial para tomarmos decisões e alterar hábitos que vão fazer toda a diferença na segunda metade da vida. No entanto, é também nessa fase que as mulheres estão mais sobrecarregadas. Basta perguntar a qualquer uma, na faixa entre os 40 e 50 anos, como consegue desempenhar tantos papéis. Portanto, é a hora de prestar atenção nos sinais que o corpo está dando: ondas de calor, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, falta de libido, entre outros sintomas.
3 – Há truques para driblar os indesejáveis sinais e sintomas da baixa do estrogênio no corpo feminino?
Os cuidados com a saúde são fundamentais e ajudam bastante: alimentação equilibrada, atividade física e sono de qualidade. Costumo dizer que dormir bem equivale a um spa. Também é o momento de avaliar nossos relacionamentos e nos cercar de pessoas que nos amam e nos respeitam. A reposição hormonal ajuda a aliviar os sintomas, mas só deve ser feita com acompanhamento médico.
4 – Perder a libido é um dos principais medos da mulher nesta fase – como lidar com isso?
Além da reposição hormonal, que pode ajudar, embora não seja uma varinha mágica que resolve todos os problemas, atualmente há um arsenal de produtos que minimizam o ressecamento vaginal. O melhor de tudo é que o clitóris, essa máquina de prazer a serviço da causa feminina, não sofre nenhum tipo de atrofia no climatério. Controlando os sintomas e adotando um estilo de vida mais saudável, a mulher pode atravessar essa fase sem abrir mão da sua sexualidade.
5 – Se os inconvenientes da menopausa atrapalham a vida sexual da mulher, por outro lado trazem a sensação de maior liberdade, inclusive na vida profissional. Positivo ou negativo? Por quê?
Vivemos numa sociedade na qual o mantra é permanecer jovem a qualquer custo, por isso a menopausa tem um “carimbo” de defeito a ser ocultado e corrigido. Muitas mulheres acham que se trata de um fim: da beleza, do poder de sedução, da vida feminina, mas é quando chegamos a um estágio de maior independência e autoconfiança. Isso é muito libertador. Temos uma dupla missão: cuidar melhor de nós mesmas e educar os que nos rodeiam. A menopausa é um movimento, gostaria de convidar todas a participar dele.
Leia mais
Menopausa: quando é necessário iniciar reposição hormonal?
Menopausa: Sintomas de desequilíbrio hormonal começam aos 48
Menopausa: conheça 10 dicas sobre a terapia hormonal
Menopausa precoce pode dobrar risco de doença do coração
‘O Momento De Fazer As Escolhas Certas Para o Resto da Sua Vida’
A menopausa é uma fronteira e, diante do cenário que se descortina, o risco de perder o poder de sedução que acompanha a mulher desde a juventude é perturbador. E fica a pergunta: que novo papel nos aguarda? As reflexões da jornalista Mariza Tavares deram origem ao livro Menopausa – O Momento De Fazer As Escolhas Certas Para o Resto da Sua Vida (Editora Contexto).
“Gerações de mulheres que nos precederam sofreram caladas com sintomas que afetaram a qualidade de suas vidas. Perderam o prazer de fazer sexo ou simplesmente abdicaram dele e, embora tivessem a preocupação de conversar com suas filhas sobre menstruação e gravidez, ‘cobriram’ a menopausa com um manto de silêncio. Nos consultórios, com frequência o atendimento costuma focar no controle de sintomas, como ondas de calor ou mudanças de humor, quando, na verdade, precisamos de uma bússola para navegar por esse oceano desconhecido que se avista”, escreve Mariza.
A autora faz um desafio às mulheres na faixa dos 40 a 50 anos, para que façam uma lista de suas atribuições. “Nesta fase, há quem tenha filhos ainda pequenos ou adolescentes e até quem avalie a chance de embarcar na experiência da maternidade. Alguns casamentos estão começando, outros singram mares tormentosos ou se desfazem. Profissionalmente, a inexperiência dos primeiros anos deu lugar a uma maior desenvoltura, com o desafio de consolidar a carreira”, afirma a autora.
Agora imagine ter tudo isso na cabeça e, no meio de uma reunião, ficar encharcada de suor por causa de uma onda de calor que não apenas traz desconforto intenso, mas pode arruinar sua apresentação? Pois esta é a menopausa. “Vamos combinar o seguinte: esta é uma fase da vida que não se limita, nem pode ser definida, como uma condição médica”, diz a autora.
Mudanças físicas, mentais e até profissionais
Ao longo de suas 128 páginas, Menopausa se divide em cinco partes: o corpo, as emoções, as relações, o sexo e o segundo ato. Ao entrevistar 13 mulheres, além de médicos, Mariza aborda as mudanças físicas, mentais e até os desafios profissionais, mostrando como é possível se preparar para ser protagonista desta segunda etapa da vida.
O livro não se restringe à última menstruação e suas consequências, mas vai além, mostrando que é possível se preparar para viver um ciclo diferente, com mais informação e liberdade, fugindo dos antigos tabus que sempre acompanharam a mulher nesta fase da vida.
A semente para o novo livro da foi plantada em 2020, quando ela lançou Longevidade no cotidiano: a arte de envelhecer bem. O lançamento do novo livro aconteceu no começo de março, o mês internacional das mulheres. com noite de autógrafos no Rio de Janeiro e em São Paulo
“Para mim, ficou claro que, em todas as etapas da vida adulta, podemos dar novo rumo à existência. Entre a pré e a pós-menopausa, temos tempo para refletir e tomar decisões cruciais cujo impacto fará diferença na saúde física, emocional e psíquica nas décadas que temos pela frente”, diz a autora.
Impacto na vida econômica
Em 2025, haverá cerca de um bilhão de mulheres no planeta entre a perimenopausa e a pós-menopausa. Um contingente tão significativo que deixa o mercado excitado: são consumidoras que deverão gastar algo perto de 600 bilhões de dólares em medicamentos, produtos e consultas médicas. Se, nos anos 1960, a expectativa de vida ia até os 50, hoje ela se estende por décadas.
No entanto, a fase do climatério e da menopausa é um período também de grandes conflitos. Em 2019, uma pesquisa realizada no Reino Unido pelo Chartered Institute of Personnel Development (CIPD), associação que reúne gestores de recursos humanos, mostrou que 59% das mulheres entre os 45 e 55 anos declararam que os sintomas da menopausa tinham impacto negativo em sua vida profissional.
Sobre a autora
Mariza Tavares é formada pela Universidade Federal Fluminense, com mestrado em comunicação na UFRJ e MBA em gestão de negócios no Ibmec. Desde 2016, mantém o blog Longevidade: modo de usar, no portal g1, e atualmente integra o conselho editorial da Agência Lupa. Foi diretora-executiva da Rádio CBN entre 2002 e 2016 e, antes disso, editora-executiva do jornal O Globo e repórter da revista Veja.
Mariza também é autora dos infantis “O sofá que engoliu as crianças”, “O medo que mora embaixo da cama”, ambos pela Globinho, “Os do meio” (7Letras) e o infantojuvenil “Pra ficar com ela” (Globo Livros), com José Godoy. Pela Editora Saber e Ler, publicou “Será que pode ou faz mal?”, em parceria com o médico Luis Fernando Correia, e “Os gatos detetives e o sumiço do canarinho”, de novo com José Godoy. Em 2020, lançou “Longevidade no cotidiano: a arte de envelhecer bem”, pela Contexto. É ainda autora de duas coletâneas de poemas e organizadora do manual de redação da CBN.
Ficha técnica
Livro: MENOPAUSA – O momento de fazer as escolhas certas para o resto da sua vida
Autora: Mariza Tavares @marizatavaresfigueira
Ilustração: Alexander Krivitskiy / Unsplash
Editora Contexto
128 páginas
Preço sugerido – R$ 39,90
*Com Assessoria