Excesso de celulite e gordura principalmente nas pernas, joelhos e braços pode ser indicativo de algo além de uma questão estética. Apesar de não ter cura, o Lipedema tem opções de tratamento que podem aliviar os sintomas, evitar agravamentos e reduzir os danos progressivos, especialmente quando o quadro é identificado nos estágios iniciais. Com tudo isso, é possível trazer mais qualidade de vida aos pacientes, em sua maioria, mulheres.
Inicialmente, recomenda-se o controle de peso por meio de uma alimentação equilibrada, não inflamatória, hipoalergênica e exercícios físicos, pois, embora isso não afete a gordura específica causada pela condição, ajuda a reduzir a gordura inflamada e o lipedema, prevenindo o aumento e a progressão da patologia.
Por isso, é importante procurar especialistas que conheçam as técnicas e o manejo adequado da patologia com o uso de dietas anti-inflamatórias, mudanças nos estilos de vida, certos medicamentos e procedimentos, como drenagem linfática e terapia de compressão. Somente após esta conduta sistêmica os tratamentos operatórios poderão ser abordados. Em alguns casos, a lipoaspiração pode ser indicada.
Marcelo Zanoni, especialista em cirurgia vascular, endovascular e ecografia vascular, afirma que atividades físicas como exercícios aeróbicos, caminhada e natação podem desempenhar um papel importante no controle da doença. Porém, é essencial que os exercícios sejam gradualmente intensificados e supervisionados por um profissional de educação física ou fisioterapeuta. O especialista destaca ainda o cuidado com a alimentação.
“Dietas restritivas não têm efeito significativo na redução do acúmulo de gordura do lipedema e podem até piorar a desproporção corporal. No entanto, é fortemente recomendado que os pacientes mantenham um peso saudável. Embora haja relatos sobre certas dietas chamadas de “anti-inflamatórias”, que proporcionam um melhor controle dos sintomas, ainda não há evidências científicas suficientes para recomendá-las.
Outra dica é o uso de cintas, calças e meias adequadas. “O uso de roupas de compressão ajuda a reduzir o inchaço, a sensação dolorosa e proporciona maior segurança, sendo excelente tratamento de suporte ao lipedema, além de melhorar o retorno venoso e linfático do paciente”, afirma o médico cirurgião vascular.
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Quando só a lipoaspiração resolve o problema
Cirurgiã plástica pela USP, Tatiana Moura afirma que atualmente, a lipoaspiração promete o maior sucesso de tratamento, mas ela recomenda outros métodos anteriores à decisão pela cirurgia. “Em estágios que não exigem a lipoaspiração, os cuidados se concentram em uma mudança de hábitos alimentares, prática de exercícios físicos, uso de meia compressiva, drenagem linfática e o não-uso de terapias hormonais”, frisa a médica.
Nos casos mais avançados, em que a cirurgia de lipoaspiração é indicada, a cirurgiã alerta que a segurança de todo o processo está ligada a limites de gordura que podem ser extraídos em uma única cirurgia.
“Pelo fato de ser uma doença crônica, ou seja, sem cura, a cirurgia facilita que a paciente elimine o excesso de gordura, pois, em casos mais graves, o lipedema pode chegar a gerar lesões nos vasos linfáticos, pela compressão das células gordurosas, causando deformidade dos pés e dificuldade de mobilidade. Daí a importância do diagnóstico correto e da ação mais precisa para cada caso”, ressalta.
Ela detalha como é o procedimento cirúrgico a fim de instruir e acalmar pacientes que não o conhecem. São feitas pequenas incisões na área afetada do corpo, em que as células de gordura podem então ser extraídas e sugadas através de cânulas finas. “Realizamos a lipoaspiração das áreas afetadas por etapas, já que só deve ser aspirado um total de gordura equivalente a 7% do peso da paciente”, detalha Tatiana.
Como detectar o problema e decidir o melhor tratamento
Aos pacientes que procuram os consultórios de cirurgia plástica com o problema, o lipedema já pode ser detectado por meio de exame físico e uma detalhada anamnese para identificar os estágios e descobrir a melhor metodologia para conter a doença, ou, pelo menos, gerar um maior conforto de vida à paciente, conforme explica a cirurgiã plástica Tatiana Moura.
“É fundamental ouvir a história do paciente, saber quando os sinais como dor, inchaço e celulites em excesso começaram a aparecer e como se deu a progressão. Há também exames complementares que podem auxiliar no diagnóstico, como o ultrassom de membros inferiores e a ressonância magnética — ambas opções que permitem analisar o tamanho da camada adiposa”, especifica.
A cirurgiã plástica explica que o lipedema faz com que as células adiposas cresçam de forma desproporcional, formando nódulos. “Essa condição, que também afeta o sistema linfático, provoca acúmulo de líquidos entre as células gordurosas e dificulta sua eliminação pelo sistema linfático, agravando dores e parestesias (sensação de frio, formigamento, calor etc)”, explica.
Segundo ela, além da conscientização e da orientação adequada sobre a doença, exames complementares, como Doppler Vascular, linfocintilografia, medida de gordura corporal e, em certos casos, ressonância magnética, podem ser recomendados.
Qual a relação entre lipedema e obesidade?
Marcelo Zanoni destaca que um dos principais sintomas do Lipedema é o surgimento de depósitos de gordura em ambas as pernas (que eventualmente podem se transformar em grandes dobras sobrepostas), sem afetar os pés.
O acúmulo de gordura ocorre gradualmente e, nos estágios iniciais, os sinais visíveis incluem uma aparência de “casca de laranja” na pele e possíveis lipomas subcutâneos. Além disso, a doença geralmente causa dor nos tecidos moles, tanto em repouso quanto durante o movimento, perda de elasticidade da pele e fadiga.
“Embora haja uma tendência de acumular gordura da cintura para baixo, formando uma espécie de ‘anel’ no tornozelo, muitos pacientes com lipedema também apresentam acúmulo de gordura nos culotes e braços”, informa Zanoni.
É importante diferenciar o lipedema, o linfedema e a obesidade, pois eles apresentam características distintas. Enquanto o lipedema envolve depósitos de gordura e edema nas pernas e braços, sem afetar mãos e pés de forma bilateral, o linfedema inclui mãos e pés no quadro clínico, não necessariamente de forma bilateral. Já a obesidade é caracterizada por um acúmulo generalizado de gordura.
Zanoni reforça sobre o fator genético ter um grande peso para o diagnóstico, já que a maioria dos pacientes apresenta histórico familiar. “Embora as causas do lipedema ainda não sejam totalmente conhecidas, suspeita-se que a condição tenha uma base genética,” destaca o médico. A doença também pode estar relacionada a questões metabólicas, inflamatórias ou hormonais.
Com Assessorias
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