Lavar as mãos é um gesto simples, mas com impacto profundo na saúde. Embora tenha ganhado mais visibilidade durante a pandemia de Covid-19, o ato de lavar as mãos corretamente continua sendo uma das principais formas de evitar a disseminação de vírus, bactérias e outros microrganismos nocivos.
Esse cuidado que parece tão simples é uma medida importante para prevenir a propagação de doenças e infecções graves, além de incômodos corriqueiros. Entre as maiores ameaças estão a Covid-19, Influenza, outras infecções e viroses de fácil transmissão pelo contato com superfícies contaminadas.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a higienização adequada das mãos pode reduzir em mais de 40% as mortes relacionadas à diarreia e em 25% os casos de doenças respiratórias agudas.
Doenças como diarreia infecciosa e cólera ainda provocam a morte de cerca de 525 mil crianças menores de 5 anos anualmente em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), situações que também podem ser controladas com essa boa prática.
Um estudo realizado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres com 160 mil pessoas da Ásia, África e América Latina e publicado na The Lancet comprovou que esse hábito de higiene pode reduzir os casos de infecção respiratória aguda em até 17%; diminuir em 22% o impacto de infecções como bronquite aguda e pneumonias e em 26% os impactos de rinite, sinusite e faringite.
A OMS afirma que higienizar corretamente as mãos pode reduzir em até 40% os casos de diarreia e em 23% as infecções respiratórias. A lavagem correta das mãos também ajuda a prevenir doenças como hepatite A, meningite, resfriados, infecções intestinais e até mesmo gripes mais graves.
Barreira até contra resfriados comuns, diz infectologista
No cotidiano, a higienização correta funciona como barreira contra resfriados, limita a transmissão de microrganismos presentes nos alimentos e diminui episódios de desconforto digestivo ligados à má higiene. Além disso, o hábito regular reduz o risco de conjuntivites, micoses, verminoses e infecções de pele provocadas por bactérias como o Staphylococcus aureus.
Higienizar as mãos é um ato imprescindível. Isso significa que um pouco de água e sabão podem fazer o que muitos medicamentos caros, por vezes, não conseguem sozinhos”, destaca o Filipe Piastrelli, infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Segundo Filipe , os benefícios vão além da saúde imediata. Quem lava as mãos regularmente falta menos ao trabalho ou à escola, sente-se mais disposto e ainda reduz custos, já que prevenção custa bem menos que tratamentos que podem envolver medicamentos e internações. Além disso, proteger-se significa proteger também a família, os amigos e a comunidade.
70% das infecções hospitalares poderiam ser evitadas apenas com a higiene adequada das mãos
No Dia Mundial da Lavagem das Mãos, celebrado em 15 de outubro, a OMS faz um alerta para a conscientização sobre essa conduta que segue sendo essencial nas práticas de assistência à saúde. Em ambiente hospitalar, estima-se que até 70% das infecções poderiam ser evitadas apenas com a higiene adequada das mãos.
Por isso, a campanha global da OMS — que em 2025 completa 17 anos — reforça que, independentemente do uso de luvas, a higienização das mãos nos momentos adequados e com a técnica correta é a medida mais importante para evitar a transmissão de microrganismos e, consequentemente, proteger pacientes e profissionais de saúde.
Além disso, a organização destaca que, até 2026, o monitoramento da adesão à higienização das mãos deverá ser um indicador nacional obrigatório para os hospitais. Atualmente, apenas 68% dos países adotam essa prática.
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Uso consciente de luvas: práticas simples que salvam vidas
Para a infectologista Michelle Zicker, do São Cristóvão Saúde, a higienização das mãos é reconhecida mundialmente como a medida mais simples, eficaz e acessível na prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde.
As mãos são as principais ferramentas de atuação dos profissionais de saúde, pois é por meio delas que eles executam suas atividades. A segurança dos pacientes depende, portanto, da frequente higienização das mãos”, afirma a médica.
Um dos pontos de destaque da campanha é o uso racional de luvas em procedimentos assistenciais. Segundo a OMS, hospitais universitários chegam a produzir mais de 1.600 toneladas de resíduos por ano, com aumento anual de até 3%, impulsionado especialmente desde a pandemia de Covid-19.
Embora sejam essenciais em diversos contextos, as luvas descartáveis não substituem a higienização das mãos — e seu uso inadequado pode gerar uma falsa sensação de segurança. Por isso, lavar as mãos corretamente e fazer uso responsável das luvas são atitudes fundamentais para garantir a segurança de pacientes e profissionais de saúde.
Luvas contaminam tanto quanto as mãos descobertas, devendo ser descartadas após o contato com o paciente e as mãos higienizadas imediatamente. O uso excessivo não protege melhor e ainda contribui para o aumento significativo de resíduos hospitalares”, destaca a infectologista.
Seja para evitar pandemias globais ou simplesmente para não pegar aquele resfriado incômodo, lavar as mãos é nossa arma secreta. Um gesto simples, barato, democrático e extremamente poderoso. Da próxima vez que abrir a torneira, lembre-se: você pode estar salvando a si mesmo e a muitas outras pessoas.
Álcool não substitui a lavagem de mãos muito sujas
Especialista em bacteriologia reforça importância da lavagem das mãos
O especialista em bacteriologia e diretor técnico do Lanac – Laboratório de Análises Clínicas, Marcos Kozlowski, lembra que a lavagem correta das mãos é um cuidado básico que tem impacto direto na saúde individual e coletiva..
Os 5 Momentos para Higienização das Mãos, conforme protocolo internacional que orienta os profissionais sobre quando higienizar as mãos durante o cuidado ao paciente são:
- Antes de tocar o paciente
- Antes de realizar procedimento limpo/asséptico
- Após o risco de exposição a fluidos corporais
- Após tocar o paciente
- Após tocar superfícies próximas ao paciente
Durante a assistência à saúde, é recomendado que a higienização das mãos seja feita preferencialmente com a preparação alcóolica (álcool em gel, por exemplo), sempre que as mãos estiverem visivelmente limpas.
Marcos Kozlowski também ressalta o papel do álcool 70% como alternativa prática. “O álcool em gel é um recurso eficiente para momentos em que não há água e sabão disponíveis. Ele tem ação microbicida contra os germes mais comuns, mas não substitui a lavagem quando as mãos estão visivelmente sujas”, explica
Como lavar bem as mãos: técnica correta faz toda a diferença
Confira as dicas do bacteriologista e do infectologistas para não errar mais na hora de lavar bem as mãos.
- A recomendação do especialista em bacteriologia é clara: usar água corrente e sabão, esfregar bem a palma e o dorso das mãos, além dos espaços entre os dedos, por pelo menos 40 segundos.
- A higienização deve ser feita especialmente após o uso do banheiro, contato com dinheiro, transporte público, manipulação de alimentos, interação com animais ou antes de pegar em bebês.
- Quando houver sujeira ou impureza visível, devemos lavá-las com água e sabão e utilizar o papel toalha para secar. A técnica correta de higienização das mãos inclui a fricção das palmas, do dorso e da região entre os dedos, sem esquecer das pontas e das unhas.
- Molhe as mãos, aplique sabão suficiente para cobrir toda a superfície e esfregue palmas, costas das mãos, entre os dedos e debaixo das unhas por pelo menos 40 segundos. Não esqueça os polegares e os punhos.
- Depois, enxágue em água corrente e seque com toalha limpa ou papel descartável. Se não houver água e sabão, o álcool em gel 70% é um ótimo substituto. Esse pequeno ritual garante que os microrganismos invisíveis sejam eliminados de forma eficaz.
‘Meu filho não lava as mãos’: 5 dicas para que a higiene se torne um hábito
Estudos reforçam esse impacto: lavar as mãos pode salvar uma em cada três crianças que morreriam por diarreia, reduzir em até 21% a propagação de gripes e resfriados e cortar pela metade as faltas escolares em lugares onde as crianças são incentivadas a adotar o hábito de higiene.
Mas e o que fazer quando as crianças ainda não adquiriram esse hábito? Sara Azevedo, orientadora pedagógica dos Anos Iniciais do Colégio Marista da Asa Sul, em Brasília, afirma que a importância de lavar as mãos deve ser explicada tanto na escola como em casa.
Primeiramente, nós adultos, temos que dar o exemplo às crianças, lavando constantemente as nossas mãos. Ao mesmo tempo temos que fazer o monitoramento para ver quando e como a criança o faz. Diferentemente da escola, os pais podem fazer uma observação individual e dar uma orientação caso necessário. A maneira correta de lavar as mãos é o que previne doenças e infecções”, explica.
Na escola, a abordagem é coletiva. “No Colégio, deve-se convidar as crianças em pequenos grupos para abrirem as torneiras e iniciar o momento da lavagem das mãos. Importante que o professor observe como exploram os movimentos de abrir e fechar a torneira, de manusear o sabonete sem pressa e com atenção, uma criança aprende com a outra”, diz a coordenadora do Colégio Marista Asa Sul.
Confira 5 dicas para que seu filho se habitue a lavar as mãos
A educadora pedagógica selecionou algumas dicas para ensinar as crianças:
1-Torne a higiene pessoal uma atividade divertida
2- Crie jogos, músicas ou histórias que divirtam a criança nesse momento
3- Ofereça opções para que a criança vá treinando a sua autonomia, como escolher o sabonete no mercado
4- Faça dessa higienização uma rotina e não a negocie
5- Seja o exemplo para a criança
Se a ideia é tornar o gesto divertido, é fácil: cante uma música de 40 segundos enquanto ensaboa, ensine as crianças com brincadeiras como bolhas de sabão ou torne a lavagem das mãos um desafio em família, criando pequenas competições para não esquecer o hábito em momentos-chave, como antes das refeições ou depois de usar o celular“, acrescenta Dr Filipe.
Com Assessorias