A cantora Jojo Todynho vem compartilhando em suas redes sociais o processo de tornar a vida mais saudável a partir da prática e exercícios físicos, e isso faz parte da recuperação de Jojo, que está com esteatose hepática, mais conhecida como gordura no fígado. Entenda tudo sobre a doença, do diagnóstico à prevenção:
Por que a esteatose hepática é considerada silenciosa?
Rafael Nicastro (@dr.rafaelnicastro), médico cirurgião do aparelho digestivo, explica que na grande maioria das vezes, a doença não apresenta sintomas, por isso é silenciosa. Quando apresenta sintomas, dor no abdômen e cansaço são os mais comuns. O tratamento cirúrgico é reservado para casos avançados que evoluem com cirrose e insuficiência hepática, sendo assim o transplante de fígado a cirurgia a ser realizada.
É importante se manter atento, pois o principal risco é evoluir para a forma grave da doença (insuficiência hepática). O acometimento de outros órgãos depende do grau da doença e do tempo de evolução, além da doença/distúrbio de base associado à esteatose hepática.
A cirrose hepática pode até resultar em câncer de fígado, além de aumentar as chances de infartos e derrames, por isso a esteatose hepática deve ser levada a sério e o tratamento individualizado. É sempre indispensável buscar o auxílio de um profissional capacitado para o adequado tratamento dessa doença.
A relação com consumo de álcool e obesidade
A esteatose hepática é a primeira lesão a ocorrer em quem tem ingestão significativa de álcool, mesmo em indivíduos que não são considerados alcoólatras. A incidência ocorre em 90% de quem bebe álcool em excesso, diz Yago Fernandes, médico atuante em endocrinologia do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais) e especialista em emagrecimento e hipertrofia.
A maior parte da metabolização do álcool é feita pelo fígado. Conforme o álcool é metabolizado, substâncias tóxicas são produzidas pelo próprio organismo, completa. Ao mesmo tempo, as gotículas de gordura se acumulam nas células do fígado, chamadas de hepatócitos. Tornando essas células insuficientes.
A evolução da esteatose hepática é a inflamação do fígado, chamada de hepatite alcoólica, que atinge de 10% a 35% das pessoas. Nos casos mais graves, desenvolvem a cirrose, que atinge cerca de 10% a 20% dos que consomem bebidas alcoólicas de forma abusiva. A lesão causada pela cirrose é irreversível. Podendo precisar de transplante hepático.
Yago diz que não existe tratamento definitivo para a esteatose hepática. O emagrecimento gradual é consequência de um estilo de vida saudável, prática de exercício físico regular e dieta equilibrada. A importância de um emagrecimento equilibrado e gradual é que isso leva a estabilização da doença e deixa o estilo de vida saudável sustentável. Outro fator é que o fígado é responsável por metabolizar a gordura corporal, se os hepatócitos já estiveram inflamados e cheios de gordura, não conseguiram metabolizar o restante da gordura corporal, agravando a esteatose.
Os médicos recomendam mudanças justamente como as que Jojo tem feito – alimentação saudável e prática de exercícios físicos para controlar o excesso de peso, a resistência à insulina, os níveis de colesterol e triglicérides e a pressão arterial – o fígado é responsável por mais de 500 funções no nosso organismo.
Entre as medidas, estão desintoxicar o organismo, produzir colesterol, sintetizar proteínas e armazenar energia (o glicogênio – estoque de glicose no fígado e músculo). O órgão produz a bile, um composto que ajuda no processo de eliminação de toxinas e na digestão dos lipídios. Ou seja, a presença de um pouco de gordura no fígado é absolutamente normal. Mas quando o índice de infiltração ultrapassa 5% do seu volume, a situação começa a se complicar.
O fato é: com a incapacidade de funcionamento normal dos hepatócitos, o fígado deixa de exercer algumas de suas funções, desequilibrando a homeostase (equilíbrio) corporal. Podendo levar a alterações no colesterol (aumento de LDL e diminuição de HDL), agravamento do diabetes, aumento de pressão arterial, aumento da circunferência abdominal e até câncer, como já citado acima.
Como uma rotina de alimentação mais saudável e prática de exercícios pode ajudar?
Tatiane Schallitz, nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais) e graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), explica que quando pensamos em emagrecimento, ou seja, perda de gordura, sabemos que a inclusão de uma rotina de exercícios e ajustes na alimentação são necessários.
“Quando falamos de acúmulo de gordura visceral, porém, não necessariamente estamos falando de um indivíduo que tem um acúmulo de gordura subcutâneo, aquela gordura visível A gordura visceral pode estar aumentada até mesmo em pessoas magras. É esse um dos motivos que não adianta pensar somente em estética, magreza não é sinônimo de gordura e emagrecer comendo menos e sem qualidade nutricional não é interessante”.
Ela explica que a gordura visceral é aquela gordura inflamatória, que libera citocinas inflamatórias, e que a longo prazo irá nos predispor a doenças crônicas não transmissíveis (resistência à insulina, diabetes, hipertensão, entre outros). Muito se associa a gordura visceral ao consumo de gordura, porém, o que aumenta gordura visceral, é principalmente o excesso de açúcar, principalmente o açúcar de adição e os presentes em produtos alimentícios (açúcar invertido, frutose, xaropes). Quando falamos de frutose, não estamos falando de frutas, e sim da frutose concentrada que é acrescida pela indústria.
Para redução dessa gordura visceral precisamos ajustar o estilo de vida, incluir atividade física, reduzir o consumo de açúcares, gordura hidrogenada (presente na margarina), álcool e incluir mais fibras e antioxidantes, presentes em frutas e vegetais, além de nutrientes anti-inflamatórios, como ômega-3. Melhorando o perfil da sua alimentação e incluindo exercícios físicos, é possível reduzir essa gordura visceral.
Sugestão de dieta anti-inflamatória
Quando pensamos em redução de gordura visceral precisamos adequar principalmente 3 pontos da alimentação:
- Aumento do consumo de fibras solúveis (cereais integrais, vegetais, frutas, leguminosas – feijão, lentilha, grão de bico);
- Aumento do consumo de antioxidantes (frutas vermelhas, frutas cítricas, ricas em vitamina C, vegetais, cacau, polpa de açaí, chá verde, azeite de oliva, abacate);
- Aumento do consumo de nutrientes anti-inflamatórios, como ômega-3 (salmão, linhaça, chia e/ou suplementação), cúrcuma, gengibre e ervas frescas.
As fibras solúveis atuam no metabolismo dos lipídios (menor acúmulo de gorduras no sangue) e atuam como hepatoprotetores (proteção ao fígado). Essas estão presentes em alimentos como: aveia, principalmente o farelo de aveia, chia, linhaça, frutas, vegetais e leguminosas (lentilha, feijão, soja).
Já os antioxidantes presentes em alimentos são capazes de reduzir esse estresse oxidativo, ou seja, a presença de radicais livres associados a inflamação crônica de baixo grau. Diminuindo, então, o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
E, por fim, a inclusão de nutrientes anti-inflamatórios atuam diminuindo os efeitos negativos gerados por essa gordura visceral, atuando como prevenção de danos gerados pela mesma enquanto estamos focando em reduzí-la.
Podemos fazer isso, priorizando o consumo de gorduras ricas em ômega-3 e reduzindo o consumo de fontes de gordura saturada (gordura presente em carnes, banha de porco), gordura hidrogenada (principalmente em margarina, biscoitos e chocolates de má qualidade) e frituras em si, priorizando fontes como sementes (chia, linhaça, semente de abóbora), abacate e azeite de oliva.
De forma resumida, reduzir gordura visceral ou até mesmo evitar seu acúmulo envolve uma mudança de hábitos alimentares priorizando alimentos naturais, que nos fornecem nutrientes com potencial preventivo, sem precisarmos recorrer a suplementação, finaliza a nutricionista.