inverno tem seu charme, mas a estação é marcada por diversos problemas de saúde, que exigem muitos cuidados da população. As mudanças bruscas de temperatura neste período costumam ser um pesadelo para quem sofre com dor crônica. Mesmo quem não sente dor frequente está sujeito a sofrer desconfortos com o frio.

A fisiatra Angélle Jácomo, do Centro Especializado em Hipermobilidade e Dor (CEHD), de Brasília, explica que a dor é ocasionada pela tensão muscular ao se encolher, pela contração dos vasos sanguíneos, por alterações na lubrificação das articulações e pela redução da prática de exercícios físicos.

Com o frio, o corpo contrai a musculatura involuntariamente para buscar concentrar calor a fim de regular a temperatura. O enrijecimento muscular por longos períodos, por sua vez, facilita o início de processos inflamatórios nos músculos e nervos. Além disso, no inverno, os desconfortos também são maiores em virtude de as terminações nervosas ficarem mais sensíveis, intensificando qualquer dor”, explica.

Fisiatra Angélle Jácomo explica porque o frio ocasiona dores no corpo (Foto: Victor Moura)

Outro mecanismo utilizado para regular a temperatura do corpo no frio e priorizar a chegada de sangue nos nossos órgãos vitais é a vasoconstrição dos vasos periféricos, que é uma redução do calibre de um vaso, com consequente diminuição da irrigação da região afetada. Assim, os vasos sanguíneos que irrigam os músculos, articulações e extremidades ficam com a irrigação reduzida, piorando a dor.

As articulações também sofrem com o resfriamento do líquido sinovial. Esse fluido ocupa as cavidades entre as articulações e é responsável por promover o deslizamento entre as superfícies. Quando ele se torna mais espesso, dificulta o processo natural, provocando mais atrito nessas regiões.

Complicações para quem tem doenças reumáticas

O inverno também costuma ser desafiador para alguns pacientes com doenças reumáticas. Em sua maioria, essas doenças afetam o aparelho locomotor, ou seja, ossos, articulações (“juntas”), cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. A queda de temperatura pode causar contração e rigidez na musculatura e isso traz dor e desconforto para esses pacientes.

De acordo com Murillo Dório, especialista da Cobra Reumatologia, essa rigidez, aliada à falta de exercícios físicos (que tem uma baixa comum nesta época do ano), à inflamação nas articulações e à sensação natural do frio, faz com que os pacientes acabem sofrendo com dores constantes no inverno. Esse panorama não envolve apenas a sensação de dor, mas aumenta a possibilidade de automedicação, distúrbios psicológicos e, por vezes, até a diminuição da renda mensal, uma vez que a rotina normal de trabalho pode ser prejudicada.

Inverno faz aumentar queixas de dores entre quem sofre de doenças reumáticas (Banco de Imagens)

Para que os portadores de doenças reumáticas reduzam ao máximo suas dores na época mais fria do ano, o Dr. Murillo traz dicas essenciais, como manter a prática de exercícios físicos. “Apesar da preguiça de levantar no frio, é necessário manter os exercícios, principalmente o alongamento. Assim os músculos ficam mais preparados para as mudanças na temperatura”, completa Dr Murillo.

Ele também recomenda aquecer-se ao máximo. “Casacos, calças e sapatos adequados são essenciais, pois quanto mais frio sentir, mais intensa a dor ficará. A recomendação é que os banhos sejam feitos com as janelas fechadas e os ambientes aquecidos”, afirma. E indica evitar a automedicação:. “Siga as orientações do seu médico sobre os medicamentos que você pode tomar nos períodos de piora da dor e mantenha o uso regular dos medicamentos já prescritos para o tratamento da sua doença reumática”.

Mais queixas de dores no quadril

Entre os problemas agravados no inverno está o aumento no número de casos de problemas nos quadris. De acordo com o médico Júlio Rigol, membro da Sociedade Brasileira do Quadril, a estação tende a aumentar as queixas dos pacientes. ‘‘Quem tem artrose do quadril, por exemplo, normalmente relata piora das dores em dias frios devido à diminuição do fluxo sanguíneo pela constrição vascular e aumento da sensibilidade nas terminações nervosas da articulação’’, diz Rigol.

Segundo o especialista, um dos motivos para o aumento de dores é a falta de exercícios físicos. ‘‘No inverno, as pessoas tendem a ficar mais encolhidas e mais em casa, causando um desconforto muscular devido ao pouco uso do membro acometido em dias de baixas temperaturas’’, afirma o médico. “Por isso, mesmo no frio, é preciso continuar fazendo exercícios e, antes disso, aquecer bem o corpo com alongamentos”, complementa.

Para auxiliar na melhora das dores durante o inverno, é preciso não abandonar os exercícios, mas, caso elas persistam, é preciso procurar um médico especializado para ter um tratamento adequado. ‘‘A fisioterapia faz parte do tratamento de patologias degenerativas do quadril e é preciso que um especialista faça o acompanhamento da melhora do paciente’’, finaliza Rigol.

Dores no quadril aumentam no inverno (Foto: Divulgação)

Outra dúvida de dezenas de pacientes é o local da dor: como saber se o que está doendo é o músculo ou o osso do quadril? Para o doutor Júlio Rigol há uma diferença bem definida. ‘‘A dor articular no quadril pode ser percebida porque está relacionada ao movimento, ou seja, quando a pessoa vai caminhar, acaba sentindo uma dor de ‘queimação’ na virilha, que pode ou não irradiar para a coxa e joelho e, às vezes, para a perna’’, destaca o médico. ‘‘Já quando é no músculo, a dor fica geralmente restrita ao músculo acometido, piorando à palpação do mesmo, podendo apresentar rigidez muscular’’, afirma.

Exercícios ajudam a evitar as dores

Algumas medidas podem minimizar os efeitos das baixas temperaturas no corpo. Manter atividade física durante os períodos frios é essencial para quem sofre de dor crônica, como a fibromialgia. “O frio espanta muita gente das academias e parques, mas ao parar de praticar exercícios no inverno os músculos ficam enrijecidos, contribuindo para o aparecimento das dores”, esclarece a fisioterapeuta Fernanda Maria Rachid.

Ela lembra que antes de começar a se exercitar é necessário fazer aquecimento. Praticar exercícios em piscina aquecida e coberta, por exemplo, é ótimo para pacientes com dor crônica, incluindo a fibromialgia. No entanto, para os pacientes com SED é preciso ter atenção, pois pode desencadear disautonomia, que é uma desregulação do sistema nervoso autônomo, fazendo com que o paciente tenha queda da pressão arterial, taquicardia e até desmaios.

As diferenças também são percebidas no alongamento. Enquanto o alongamento faz muito bem para o fibromiálgico, nos pacientes com Hipermobilidade Articular, que é o caso daqueles que tem o diagnóstico de SED, o alongamento só deve ser realizado sob supervisão e orientação profissional, sempre respeitando o arco fisiológico do movimento, caso contrário, o risco de lesão aumenta e a dor piora.

Enxaquecas aumentam nesta época do ano

O neurologista Welber Oliveira diz que as enxaquecas também podem pode piorar neste período. Segundo ele, os pacientes enxaquecosos e com Síndrome de Ehlers Danlos (SED) sofrem muito no frio porque são pacientes com dor crônica. Além de já terem o limiar de dor reduzido pela própria cronicidade e sensibilização do sistema nervoso periférico e central, a queda da temperatura ambiente diminui ainda mais o limiar de dor nessa população.

Para reduzir os efeitos do frio é importante se proteger da mudança brusca de temperatura. “Utilizar agasalho, touca e cachecol, dormir de meia, aquecer as mãos e ir tirando a roupa à medida que for aquecendo ao longo do dia, reduz a incidência de choque térmico e, consequentemente, as dores”, afirma Welber Oliveira.

Ele explica ainda que a enxaqueca sofre influência da alteração de temperatura em função da vasoconstrição cerebral. Por isso, pacientes com esta patologia devem evitar choques térmicos, inclusive na alimentação.

“Alimentos muito gelados também são gatilhos para dores de cabeça e devem ser evitados. Ao escolher uma bebida mais quentinha para tomar neste inverno, prefira chás claros, com pouca cafeína. Um bom exemplo é o chá de camomila, que pode ajudar nas dores de cabeça”, comenta o médico, que é especialista em dor.

Com Assessorias

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