Caroços inflamados, feridas recorrentes e dolorosas, especialmente em áreas como axilas, virilha e nádegas, são sinais que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e frequentemente acabam ignorando. No entanto, esses sintomas podem indicar uma doença inflamatória crônica chamada hidradenite supurativa (HS), também conhecida como espinha ou acne invertida.

Estima-se que cerca de 850 mil brasileiros – cerca de 0,4% da população – sejam diagnosticados com HS, que pode ser confundida com espinhas recorrentes, furúnculos. abscessos, cistos ou até mesmo pelos encravados. O desconhecimento sobre a doença faz com que muitas pessoas convivam com os sintomas por até uma década sem o diagnóstico correto.

Apesar de sua prevalência, a HS ainda é pouco discutida e muitos pacientes sofrem calados, com vergonha ou receio de buscar ajuda. Dor, incômodo, vergonha, são algumas particularidades relatadas por quem é diagnosticado com HS.

Eu era bem jovem quando começaram a aparecer nódulos que pareciam furúnculos pelo corpo, principalmente nas axilas. No início, era bem brando. Passei por diversos médicos de várias especialidades, procurando um diagnóstico, mas ninguém sabia o que era, apenas me receitavam antibióticos atrás de antibióticos”, relatou a estudante e influenciadora digital, Rayssa Machado.    

O estigma e a falta de informação atrasam o acesso ao tratamento adequado. Por conta de dificuldades de acesso da população à assistência capacitada para identificação dos casos, os pacientes com esse transtorno demoram, em média, 12 anos para saberem exatamente o que os acomete. Com isso, é retardado o início do tratamento e o controle efetivos da HS.

Passei três anos até receber o diagnóstico e sei que esse tempo é pequeno comparado a média. Eu tento lidar com a hidradenite de forma prática. Sempre procuro informações, leio muitos artigos e gosto de ter conhecimento sobre a doença, colocando em prática o que é possível”, conta Rayssa.

Impacto na saúde mental

Doenças dermatológicas crônicas podem trazer diversos impactos e até traumas na vida das pessoas, dificultando suas interações sociais e até as afastando de atividades cotidianas. De difícil identificação, já que alguns pacientes podem levar até 10 anos para receber o diagnóstico correta, essa doença inflamatória e não contagiosa impacta a qualidade de vida das pessoas.

A dor é o sintoma mais comum, relatado por cerca de 97% dos pacientes de HS. Além dos sintomas físicos, a HS causa prejuízos à qualidade de vida e à saúde mental dos pacientes. Cerca de 42% deles desenvolvem depressão e/ou ansiedade por conta das restrições de movimentos, cicatrizes, bem como pelo estigma, isolamento social e constrangimento, que acompanham a doença.

Essas características fazem da hidradenite a mais impactante das doenças dermatológicas e por vezes a mais limitante. Restrições de movimentos, cicatrizes e outros sintomas e consequências trazem estigma, isolamento social e constrangimento aos pacientes.

A doença tem um impacto muito negativo na autoestima e qualidade de vida. Por essa razão é fundamental que estes pacientes se sintam abraçados. Sintomas como ansiedade e depressão são frequentes sendo importante o acompanhamento psicológico. Buscar apoio nas associações de pacientes também pode ajudar a conviver melhor com a doença”, afirma María Victoria Suárez, presidente da Sociedade Latinoamericana de Psoríase e imunodermatologia SOLAPSO DI.

Dar visibilidade à hidradenite supurativa é um passo importante para que mais vozes sejam ouvidas e acolhidas Por isso, colocar a experiência dos pacientes no centro da conversa é essencial. Junho é o mês de conscientização da hidradenite supurativa, doença dermatológica crônica que afeta. O Dia Mundial da HidradeniteSupurativa (6 de junho) vem conscientizar a população sobre essa condição de pele ainda pouco conhecida, mas com grande impacto na qualidade de vida dos pacientes.

É uma doença muito complicada. Acaba prejudicando várias áreas da vida do acometido. A maioria relata comprometimento da vida sexual e da profissional por conta da dor das lesões, da secreção que sai delas nos períodos de maior inflamação”, conta Wagner Galvão César, dermatologista dos hospitais Oswaldo Cruz e Sírio Libanês. Muitos dos pacientes, cerca de 42%, acabam desenvolvendo depressão e/ou ansiedade por conta do convívio com a doença.

Sem cura, mas tem controle e até remissão

Médicos reforçam a importância de reconhecer esses sinais aparentemente comuns pois a falta de diagnóstico pode mudar o rumo do tratamento e da qualidade de vida de quem convive com a doença; A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) chama atenção para a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, que pode incluir desde mudanças de hábitos até cirurgias especializadas.

Reforçamos a importância da informação de qualidade e do acompanhamento com dermatologistas especializados, em busca de alertar para a população sobre os riscos da automedicação e das informações desencontradas disponíveis na internet. Nenhuma notícia substitui a consulta com o dermatologista para ter o melhor resultado possível”, diz Carlos Barcaui, presidente da SBD.

Maria Cecilia Rivitti, médica dermatologista da SBD, explica que se trata de uma doença inflamatória crônica que afeta o folículo piloso, com manifestações frequentes em áreas de dobras do corpo, como axilas, virilha, região glútea, entre outras.

A enfermidade é caracterizada por abscessos dolorosos, nódulos e túneis sob a pele, que inflamam e desinflamam repetidamente. São bastante dolorosas, podem soltar secreção e também, muitas vezes, um odor desagradável”, explica.

A causa envolve fatores genéticos e de estilo de vida, como obesidade, tabagismo e dieta rica em carboidratos. Alterações hormonais, segundo a dermatologista, são raramente observadas. Apesar de não haver cura definitiva, há possibilidade de controle e até de remissão prolongada das lesões, desde que o paciente mantenha acompanhamento regular e adote hábitos saudáveis.

O diagnóstico é essencialmente clínico, mas pode ser complementado por exames de imagem, como a ultrassonografia. “A combinação de medicamentos, mudanças comportamentais, uso de lasers e cirurgia, quando indicada, pode trazer bons resultados, principalmente se iniciada nas fases iniciais da doença”, conta Dra. Maria Cecília.

Doença por ser confundida com acne pode levar anos para ser diagnosticada

Rspecialistas alertam para sintomas que podem passar despercebidos, apesar de exigirem atenção médica

Além de tudo, essa é uma condição de difícil reconhecimento: os pacientes levam em média 7 anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico correto. A maior dificuldade é de encontrar um especialista que identifique e trate corretamente o quadro. Os sinais da hidradenite podem facilmente ser confundidos com furúnculos, acne e outros quadros dermatológicos.

Os pacientes consultam diversas clínicas e hospitais até serem encaminhados para o médico especialista e para evitar a progressão da doença e cicatrizes irreversíveis o diagnóstico precoce é imprescindível”, disse María Victoria Suárez, presidente da Sociedade Latinoamericana de Psoríase e imunodermatologia SOLAPSO DI.

O diagnóstico precoce da hidradenite supurativa é essencial para a melhora da qualidade de vida dos pacientes. “Precisamos orientar nossos profissionais sobre os aspectos que devem ser observados no exame clínico dos pacientes, o que na maioria das vezes é suficiente. É pouco frequente a necessidade de biópsias”, afirma o dermatologista Heitor de Sá Gonçalves.  A SBD planeja capacitar médicos da rede pública para o diagnóstico precoce de casos de hidradenite supurativa. 

Atenção aos sinais     

Dermatologista com foco em doenças inflamatórias autoimunes e pesquisa clínica do Hospital Oswaldo Cruz e preceptora da Residência de Dermatologia do Hospital do Servidor Público Municipal de SP, Maria Victoria Suarez chama atenção para os sinais da doença.

Apesar de tidos como ‘comuns’ os sinais não devem ser ignorados. Quanto antes o paciente identificá-los e procurar um dermatologista, mais cedo é possível controlar os sintomas e evitar complicações que comprometem a qualidade de vida. Os sintomas muitas vezes atrapalham na realização de tarefas comuns do dia a dia e, por isso, precisam ser controlados”, explica a especialista.

Os sintomas que precisam de atenção, são:

  • Nódulos dolorosos recorrentes nas axilas, virilha, nádegas, coxas ou abaixo dos seios;
  • Lesões que aparentar ser cravos e espinhas na região da virilha, glúteos e abdômen;
  • Feridas que drenam pus, têm mau cheiro e demoram a cicatrizar;
  • Formação de túneis sob a pele (fístulas);
  • Cicatrizes em áreas de atrito do corpo;
  • Dor persistente em lesões repetitivas.

É importante que os médicos que trabalham na atenção primária e nos prontos socorros fiquem atentos a estes sintomas e encaminhem estes pacientes para o dermatologista para uma avaliação mais profunda e diagnóstico adequado”, complementa a especialista.

Diagnóstico e evolução da doença                  

hidradenite supurativa é uma doença dermatológica crônica e inflamatória que tem como principais sintomas a formação de abcessos, fístulas e/ou nódulos que inflamam, causam dor constante, expelem pus, podem gerar mau cheiro e por vezes necessitam até de drenagem, trazendo comumente prejuízos à qualidade de vida e à saúde mental dos pacientes.

O diagnóstico precoce é imprescindível para que os pacientes consigam seguir com o tratamento adequado. Por ter sintomas relativamente comuns a outras questões de pele, como acne e furúnculos, o tempo do primeiro sintoma até o diagnóstico da HS pode levar muitos anos, hoje a média é de sete anos até o diagnóstico. O tempo é fundamental para que a pessoa portadora da doença inicie com os cuidados e tenha menos manifestações na pele, evitando a progressão da doença”, comenta Wagner Galvão César.

Geralmente confundida com furúnculos ou espinhas grandes, a hidradenite supurativa é uma inflamação crônica da pele que se caracteriza pelo surgimento de inchaços e cistos profundos em regiões como axilas, mamas, virilha, genitais e glúteos, que liberam secreção purulenta e causam desconforto e dor e impactam diretamente na qualidade de vida e saúde mental dos pacientes.

Ela se manifesta, preferencialmente, em áreas, como axilas, virilha, região genital, mamas e glúteos. Nestas partes do corpo, a pele tem uma maior concentração de uma glândula chamada sudorípara apócrina. Antes, acreditava-se que a hidradenite supurativa decorria da inflamação ou infecção destas estruturas. Na atualidade, estima-se que resulte da inflamação dos folículos pilosos.

Durante as crises, os folículos pilosos (de onde nascem os pelos) inflamam, desencadeando o surgimento de caroços dolorosos sob a pele, formando uma espécie de túnel na região afetada. Algumas feridas podem apresentar pus e mau odor, diminuindo o funcionamento físico e psicossocial das pessoas.

No dia a dia, os médicos e pacientes com queixas de problemas de pele devem estar atentos a formas de manifestação da hidradenite supurativa. Dentre elas, estão o surgimento de lesões inflamadas e dolorosas, como nódulos ou caroços, que podem exigir abertura e drenagem de pus.

Estas manifestações tendem a persistir e recidivar, de modo que uma mesma lesão pode inflamar e desinflamar várias vezes no mesmo local. Com o tempo, vão surgindo novas lesões, ao lado das antigas e, sobre estas (mais velhas), cicatrizes.

A partir da primeira aparição das lesões, a hidradenite evolui em crises – que podem durar de semanas a meses– nas quais as feridas inflamam, causam dor constante, expelem pus, podem gerar mau cheiro e por vezes necessitam até de drenagem.

Se você já teve surtos de furúnculos durante os últimos seis meses, com o mínimo de duas lesões nas axilas, virilhas, embaixo das mamas, região perianal, nuca ou abdômen, procure um dermatologista. Estes podem ser sinais da hidradenite supurativa”, destacou o dermatologista.      

Condição é mais comum em mulheres e fumantes

A hidradenite supurativa é uma doença de pele crônica classificada como  autoinflamatória (quando ocorre uma resposta inflamatória exagerada, que agride e danifica a pele e as estruturas associadas). Na maioria dos casos, a primeira manifestação da doença ocorre na fase pós puberdade, entre os 20 e os 30 anos.

As mulheres são as mais atingidas, representando uma prevalência até três vezes maior do que os homens.  Um estudo recente da Alemanha identificou como uma doença prevalente tanto no sexo feminino quanto no masculino.

Na medicina, as causas da hidradenite supurativa não são bem estabelecidas, mas o histórico familiar pode estar associado à sua ocorrência. Fatores de risco como tabagismo, obesidade e estresse são considerados gatilhos que podem ajudar o desenvolvimento da inflamação.

Por mais que tenha fatores de herança genética, o surgimento da HS também tem relação com o tabagismo, obesidade e estresseOs especialistas acusam que histórico familiar, associação com outras alterações de saúde e alguns hábitos, como alimentação rica em carboidratos, açúcares e gordura animal, influenciam no seu surgimento.  Conhecida como acne inversa, essa condição de pele ocorre com mais frequência em fumantes. 

Em alguns casos os pacientes podem se sentir perdidos durante a jornada com a doença, mas não é o fim. Um diagnóstico nunca será uma sentença, mas sim uma oportunidade para você procurar informações sobre sua doença, buscar bons profissionais e iniciar o tratamento correto. A remissão é possível”, aconselhou Tayssa.

Formas de tratamento pelo SUS           

O manejo da hidradenite supurativa varia de acordo com sua gravidade. Antibióticos em cremes, ou mesmo via oral, são utilizados no tratamento, assim como o uso de imunobiológicos. Em algumas mulheres, o uso de anticoncepcionais hormonais pode ajudar.         

Antibióticos e tratamentos tópicos podem ser acessados no Sistema Único de Saúde (SUS), além de anticoncepcionais. Nos planos de saúde, os pacientes têm direito aos medicamentos imunobiológicos, indicados para aqueles que apresentaram falência terapêutica com o uso de medicação tradicional.

O tratamento da hidradenite supurativa é sempre indicado pelo médico dermatologista, especialista que avalia a opção mais adequada para cada paciente. Os recursos terapêuticos atuais para HS são baseados em três pilares: educação do paciente, tratamento clínico da inflamação e terapia cirúrgica de fístulas, nódulos e tecido cicatricial”, diz María Victoria Suárez.   

Segundo ela, nos últimos anos, a ciência avançou significativamente no cuidado com doenças imunomediadas como a HS. Novas terapias têm ajudado a controlar a inflamação, reduzir lesões e permitir que os pacientes recuperem autonomia e bem-estar. Com tratamento reconhecido e abordagens terapêuticas com resultados concretos, os pacientes precisam do diagnóstico definitivo para usarem a medicação adequada para cada um.                                                

Tratamento inclui mudanças no estilo de vida

Além do tratamento medicamentoso adequado para cada quadro, algumas ações do dia a dia podem ajudar a controlar os sintomas e amenizar a doença. Mudanças no estilo de vida também fazem parte do tratamento da doença: parar de fumar, praticar atividade física, manter o peso adequado e adotar uma alimentação balanceada. Além disto, as pessoas devem evitar o uso de roupas apertadas e o suor excessivo nestas áreas.

Caso o paciente seja fumante, largar o cigarro é essencial. Evitar o estresse emocional e uma alimentação inflamatória também ajudam a amenizar os sintomas. Além disso, barbear ou depilar, bem como usar roupas muito justas, aumenta o incômodo devido à fricção gerada na pele”, diz o médico.

Como a HS está associada com diversas condições de saúde e a abordagem clínica é constituída por diferentes profissionais de saúde. “A doença afeta pessoas jovens, durante o início da vida adulta e essa condição pode gerar insegurança, sendo necessário o acompanhamento de diversas áreas da saúde”, completa a especialista.

Se você já teve surtos de furúnculos durante os últimos seis meses, com o mínimo de duas lesões nas axilas, virilhas, embaixo das mamas, região perianal, nuca ou abdômen, procure um dermatologista. Estes podem ser sinais da HS.

Cirurgia de Hidradenite Supurativa

Para os casos mais avançados, a cirurgia torna-se uma alternativa importante. Há lesões crônicas, associadas ou não a cicatrizes, para as quais se indica o tratamento cirúrgico, de forma prioritária. Dr. Mário Chaves, médico dermatologista da SBD, explica que é indicada para pacientes em estágios moderados a graves da doença.

No estágio moderado, o paciente tem lesões nodulares que formam túneis e episódios repetidos de inflamação. Já no estágio grave, essas lesões acometem uma área anatômica inteira. Nesses casos, mesmo com tratamento clínico otimizado, a cirurgia ajuda a controlar a doença ao remover áreas que funcionam como verdadeiras fábricas de mediadores inflamatórios”, detalha Dr. Chaves.

As técnicas variam desde drenagens simples até excisões amplas com reconstrução, sendo essa última a que apresenta melhores resultados segundo estudos de metanálise. Ainda assim, o especialista ressalta que a cirurgia sozinha não é suficiente.

A cirurgia anda de mãos dadas com o tratamento clínico e o controle dos fatores de risco, como sobrepeso, tabagismo e atrito no local. Quando bem conduzida, ela pode induzir a remissão da doença por longos períodos”, afirma.

Neste Dia Mundial da Conscientização sobre a HS, o convite é claro: se você convive com sintomas recorrentes como nódulos e feridas que parecem espinhas, procure um dermatologista. Um diagnóstico correto pode mudar tudo.

Com Assessorias

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