Popularmente conhecida como “pressão alta”, a hipertensão arterial é um fator de risco cardiovascular silencioso, que afeta aproximadamente 45% da população brasileira, segundo o estudo Population Urban and Rural Epidemiology (PURE). Sem controle, ela pode causar doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e hospitalização por insuficiência cardíaca) sendo ainda o segundo fator mais relevante associado à mortalidade na América Latina, incluindo o Brasil.

“O controle da pressão arterial é importantíssimo. Primeiro, porque a sua prevalência é mais alta do que se fala; depois, porque a proporção de tratamento e controle é mais baixa do que se pensa. E o impacto da doença é o principal fator para eventos e o segundo para mortes”, afirma o cardiologista Prof. Dr. Álvaro Avezum, coordenador da pesquisa e diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as mortes decorrentes de problemas cardiovasculares superam os óbitos oncológicos e ocupam o primeiro lugar. Ainda segundo a entidade, cerca de 400 mil infartos e 500 mil AVCs são registrados por ano no país.

“Vale lembrar que as doenças cardiovasculares não apenas encurtam a sobrevida do paciente, mas também resultam em qualidade de vida prejudicada e óbitos precoces. Além disso, causam um grande impacto econômico dentro do Sistema de Saúde”, ressalta o médico.

90% das mortes prematuras poderiam ser evitadas

O PURE concluiu que as principais causas de morte em países de desenvolvimento econômico intermediário (Brasil, Chile, Argentina e Polônia) foram cardiovasculares (42%), câncer (30%) e respiratórias (8%), totalizando 80% das mortes.

Quando a avaliação incluiu apenas América Latina, as causas foram doenças cardiovasculares (DVC) (31,1%), câncer (30,6%) e doenças respiratórias (8,6%), totalizando 70% das causas.

A incidência de DCV (por 1.000 pessoas-ano) variou modestamente entre países, sendo a maior incidência no Brasil (3,86) e a menor na Argentina (3,07). Os fatores de risco, associados com mortalidade, foram considerados evitáveis, fáceis de identificação e passíveis de prevenção.

“Identificamos que grande parcela das mortes prematuras na América do Sul poderia ser evitada com a adesão de políticas destinadas a controlar os fatores de risco metabólicos e comportamentais. 90% dos eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio,  AVC e hospitalização por insuficiência cardíaca) e 90% das mortes prematuras poderiam ser evitadas”, comenta o Prof. Dr. Álvaro Avezum.

O PURE é coordenado internacionalmente pelo Population Health Research Institute (PHRI) da Universidade McMaster, em colaboração com 30 países, incluindo o Brasil. Liderado aqui pelo Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o estudo acompanhou uma população de 24.718 pessoas adultas, entre 35 e 70 anos, de 51 comunidades urbanas e 49 rurais, no Brasil, na Argentina, no Chile e na Colômbia, durante o tempo médio de 10 anos

O médico explica que esse tipo de análise é importante para auxiliar as equipes médicas e assistenciais na adoção de melhores cuidados e tratamentos para o paciente. “Os dados do PURE trazem conhecimento relevante e válido que pode auxiliar eficazmente na implementação de políticas públicas que contribuam no controle dos fatores de risco e na redução de mortes eventos cardiovasculares evitáveis”, conclui o médico.

Resultados no combate à hipertensão arterial

Projeto publicado em dezembro de 2022, o CARDIO4Cities apontou que a taxa de controle da pressão arterial entre os participantes que receberam medicação ao longo de 15 meses triplicou em São Paulo (passando de 12,3% para 31,2%) e em Dakar (passando de 6,7% para 19,4%) e aumentou, seis vezes, em Ulaanbaatar (passando de 3,1% para 19,7%).

“Isso não estava previsto. Triplicar o controle da pressão arterial é inovador, pois inovação sempre envolve benefício populacional tangível. Em São Paulo, partimos de 12% de hipertensos que estavam medicados e controlados (níveis de pressão arterial dentro do recomendado) e, em 15 meses, chegamos a 31%”, explica o especialista.

Com isso, por meio de modelagem, houve redução de hospitalizações devidas à AVCs. O resultado positivo foi constatado também nas outras duas cidades que participaram do projeto – Dakar, no Senegal, e Ulaanbaatar, na Mongólia.

Entre o último trimestre de 2018 e o final de 2019, o CARDIO4Cities analisou dados de 18.997 pacientes com hipertensão, em unidades básicas de saúde dos três municípios participantes.

Em cada um deles, foram implementadas práticas de medicina baseadas em evidências e adaptações às prioridades locais, cocriação de soluções junto com a comunidade, coalizão estratégica entre parceiros envolvidos e tecnologia digital eficiente.

A cidade de São Paulo foi escolhida para o estudo, justamente, por suas características e complexidades — por ter população estimada em 12 milhões de habitantes; prevalência de hipertensão arterial em 45% das pessoas (um em cada dois indivíduos); e mortalidade por doença cardiovascular de 30 a 40%.

“Falando em impacto econômico para o sistema público de saúde, o custo de vida ajustado por qualidade foi de apenas US$784 por ano; portanto, a intervenção pode ser considerada custo-efetiva e encontra-se pronta para ser aplicada em outras regiões do país”, afirma o médico.

Segundo ele, a iniciativa mostrou que a implementação de uma coalizão público-privada multissetorial de saúde e em parceria com a comunidade local, apoiada por dados e tecnologias digitais no controle efetivo da hipertensão arterial, traz resultados importantes no que diz respeito as taxas de controle da pressão arterial e melhora nas taxas de hospitalização de AVC.

O CARDIO4Cities é uma parceria entre Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Fundação Novartis, Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, American Heart Association e Instituto Tellus.

Fonte: Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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