Os heróis são pessoas em cadeiras de rodas. Os caras jogam basquete, estudam, trabalham, se apaixonam, vivem uma vida ativa. Vladimir viaja de ônibus para treinar em Moscou. Maxim tem que subir cinco andares de escada até o seu apartamento. Olga briga todas as noites com os vizinhos pela vaga de estacionamento reservada para deficiente. A história destes heróis é contada em ‘Um Desejo’, de Vitaly Dubinin, curta russo que é uma das atrações da oitava edição do “Assim Vivemos – Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência” que chega ao Rio de Janeiro esta semana.
Histórias protagonizadas por pessoas com diversas deficiências como síndrome de Down, autismo, paralisia cerebral, atrofia muscular espinhal (AME), deficiência física, visual, auditiva e intelectual ganharam a telona do Centro Cultural Banco do Brasil nesta quarta-feira (16), onde seguem até dia 28 de agosto, com entrada gratuita. Trinta e dois filmes de 19 países integram a programação.
Entre as produções destacam-se “Eu sou Jeeja”, sobre a indiana Jeeja Ghosh, líder ativista pelos direitos dos que têm paralisia cerebral na Índia; “ 50 X Rio”, filme italiano que conta a história de Alex Zanardi, ex-campeão de fórmula Indy que se preparou para os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro e, “Dois Mundos”, obra polonesa que mostra a família de Laura, garota de 12 anos que tem pais surdos (foto).
Veja outros destaques
Um violinista que perdeu a visão e encontrou novas maneiras de continuar a fazer sua arte. Um atleta que tem paralisia cerebral e com seu triciclo já foi bicampeão do mundo, da Europa e nove vezes campeão da Espanha. Um cego que pratica esportes, lê muito e assiste filmes e tem o sonho de ser escultor. Esses são alguns dos personagens retratados nos filmes exigidos durante o festival.
Para cada 800 recém-nascidos, há um com síndrome de Down. Todos os anos há mais de 400 “crianças ensolaradas” por nascer. De acordo com a WHO (Estatística Mundial sobre Saúde), em 90% dos casos, as mulheres interrompem a gravidez após o diagnóstico da síndrome de Down. Existem aproximadamente 15 mil pessoas com síndrome de Down na Ucrânia e mais da metade delas são crianças. Há pelo menos 300 em Odessa. Com ‘Onde está você/Eu estou aqui’, produção da Ucrânia dirigida por Max Karasyov, nós conhecemos sete delas.
Já ‘Convivência’, do espanhol Juan Carlos Guerra, mostra a relação entre um grupo de jovens com paralisia cerebral e estudantes de uma escola de Ensino Médio. Uma iniciativa enriquecedora e solidária, mas, ao mesmo tempo, desafiadora.
Em ‘Vida e Atrofia’, o diretor americano Gareth Burghes conta a história de Miles, diagnosticado com Atrofia Muscular Espinhal (AME), uma doença neuromuscular devastadora que causa perda muscular progressiva. Seus pais Nikki e Tony McIntosh procuram um tratamento experimental para salvá-lo.
‘Sobre Arif’, do turco Hasan Kalender, conta a história do rapaz que tem síndrome de Down, trabalha em um antiquário e vive em um mundo imaginário. A produção canadense
‘Amor e Sexo segundo Tim Rose’, dirigida por Leonardo Suarez, narra a vida de um homem nascido com paralisia cerebral conseguiu superar as desvantagens sexuais percebidas em uma pessoa com deficiência.
A visão e os sentidos da arte
Além das produções, debates vão discutir “A visão e os sentidos da arte” e “Corpo e movimento”. O debate desta quinta, às 18h15, sobre “A visão e os sentidos da arte” traz os artistas plásticos Virginia Vendramini e Marcos André Salles. Eles conversam com o público após a exibição do filme brasileiro “A Vida Tocando”, de Marco Antonio Saretta Poglia e Vinicius Correa, sobre um violonista que perdeu a visão e encontrou novas maneiras de prosseguir com a sua arte; e “O Olho do Minotauro”, de Borislav Kolev, da Bulgária, sobre Dennis, um jovem que é cego e tem o sonho de ser escultor.
Nesta sexta, às 18h15, o tema do debate é “Corpo e movimento” com a coreógrafa Teresa Taquechel, do Grupo Pulsar, e a escritora, psicóloga e bailarina Ruth Torralba, que acaba de lançar o livro “Sensorial do corpo”. Elas conversam após exibição de dois filmes americanos: “Woody’s Order, de Seth Kramer, Daniel A. Miller & Jeremy Newberger, sobre a a primeira vez em que a atriz Ann Talman apresenta seu show solo para seu inspirador: o irmão com paralisia cerebral; e “Como Se Eu Estivesse Voando”, de Babu J. Aryankalayil, documentário que explora o incrível poder da dança e do movimento.
Mais sobre o festival
Os curadores Lara Pozzobon e Gustavo Acioli acreditam que o festival cumpre duas funções: “Ao mesmo tempo em que nos leva a refletir sobre aspectos fundamentais da vida em sociedade e do autoconhecimento, também nos faz refletir sobre o nosso país, por meio da comparação com as mais diversas culturas e sociedades representadas na nossa seleção. Tal comparação é sempre reveladora, principalmente quando descobrimos que somos mais avançados no que pensávamos que éramos atrasados, e mais atrasados no que pensávamos que éramos avançados”.
Além de produções brasileiras, foram selecionados trabalhos de outros 18 países: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Suíça, Itália, Espanha, Polônia, Bulgária, Finlândia, Espanha, Turquia, Ucrânia, Tailândia, Alemanha, Rússia, Índia, Myanmar e Letônia. Também serão realizados quatro debates com os seguintes temas: A visão e os sentidos da arte; Corpo e movimento; Tecnologia assistiva de ponta e Amor e relacionamento.
Mais sobre o festival
Realizado a cada dois anos, o festival se mantém como o principal evento que celebra a inclusão cultural no Brasil. Ao primeiro, realizado em 2003 no Rio de Janeiro e em Brasília, seguiram-se edições inéditas em 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 e 2015.
Em 2003, quando o CCBB exibiu a primeira edição do Assim Vivemos, as discussões sobre o tema eram muito reduzidas. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas acreditamos que o cinema, seja pelo filme de ficção ou pelo documentário, tem sido uma grande ferramenta de conscientização e o festival tem contribuído bastante ao transportar o público para as mais diversas realidades e situações que envolvem a questão da deficiência”, reflete Fabio Cunha, gerente geral do CCBB Rio.
Desde 2009, São Paulo também abriga o festival. Em 2010 e 2012, foram feitas itinerâncias em outras cidades, como Belo Horizonte, Porto Alegre, Pelotas e Santa Cruz do Sul, ampliando seu alcance e possibilitando que mais pessoas conhecessem o projeto e, através dos filmes, histórias de vida inspiradoras e altamente transformadoras.
Comprometido com a promoção de acessibilidade para todos os públicos, o festival oferece audiodescrição em todas as sessões e catálogos em Braille para pessoas com deficiência visual; e legendas LSE nos filmes e interpretação em LIBRAS nos debates para as pessoas com deficiência auditiva.
Pessoas com deficiência física também contam com garantia de acessibilidade, uma vez que o CCBB tem sua arquitetura concebida para o acesso de pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes.
O evento tem patrocínio do Banco do Brasil e do Ministério da Cultura e produção da Lavoro Produções e será levado a Brasília (5 a 17 de setembro) e São Paulo (20 de setembro a 1º de outubro). A lista dos filmes participantes e a programação completa estão no site: www.assimvivemos.com.br
Fonte: Agência Febre, com redação