Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que cerca de 2,2 bilhões de pessoas em todo o mundo têm uma deficiência visual, e 1 bilhão têm um prejuízo visual que poderia ter sido evitado se a população tivesse acesso à saúde ocular de forma adequada com a prevenção, diagnóstico e tratamento precoce. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em seu relatório de 2023, estima que haja cerca de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil.

Dados do levantamento As Condições da Saúde Ocular do Brasil, produzido pelo CBO, apontam que cerca de 3 milhões de brasileiros acima de 65 anos sofrem com degeneração macular relacionada à idade (DMRI), principal causa de perda visual na terceira idade. Ainda assim, um estudo da farmacêutica Bayer em parceria com o Ibope mostrou que 74% dos entrevistados não conhecem a condição.

retina, uma das estruturas mais delicadas e essenciais do olho humano, é frequentemente negligenciada até que os primeiros sinais de doenças se manifestem. No entanto, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais para evitar consequências graves, como a perda da visão.

Segundo o  Relatório Mundial Sobre Visão de 2019 da OMS e o Relatório Condições de Saúde Ocular no Brasil 2023 do CBO, o mundo enfrenta desafios em termos de cuidados oftalmológicos, como desigualdades na cobertura e qualidade dos serviços de prevenção, tratamento, reabilitação especialmente para a população idosa, cada vez mais numerosa.

O diagnóstico aponta ainda para a escassez de prestadores de serviços oftalmológicos treinados e para a pouca integração dos serviços relacionados a saúde da visão nos sistemas de saúde, problemática que enfrentamos no Brasil.

A Constituição Brasileira, em seu Artigo 6º,  assegura a saúde como um direito social, sendo este um de seus princípios fundamentais. Ela também estabelece em seu Artigo 196, que a saúde é dever do Estado e direito de todos. No entanto, a saúde ocular no Brasil, a despeito dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) é negligenciada como política pública e nem faz parte do Plano Nacional de Saúde atual.

O acesso ao oftalmologista é demorado para o usuário do SUS, o que leva a termos um  grande número de crianças, jovens adultos e idosos com doenças oftalmológicas não cuidadas.

Na Semana Mundial da Retina, a Retina Brasil, uma associação formada em 2002, para dar apoio e informação às pessoas com doenças da visão, quer chamar atenção das autoridades responsáveis pela saúde sobre as necessidades e desafios das  pessoas que não conseguem acessar a assistência oftalmológica no Sistema Único de Saúde – SUS.

É fundamental que todos tenhamos acesso à saúde ocular, para garantir uma vida plena e produtiva aos brasileiros. Enfrentar os desafios atuais e implementar ações eficazes requer um compromisso contínuo e colaborativo entre governo, parlamentares, entidades de profissional da oftalmologia,  profissionais de saúde e a sociedade civil, aí incluídas as associações de pacientes. Queremos ser a voz da pessoa com problemas de visão e contribuir no processo de elaboração de uma política de saúde ocular eficaz e sustentável”, afirma a vice-presidente da Retina Brasil, Maria Antonieta Parayba Leopoldi.

Os principais desafios para quem problema de visão no SUS

Além de buscar a conscientização sobre os problemas da retina e da visão, a Retina Brasil traz propostas para melhorias na saúde ocular dos brasileiros.  A organização entende que os principais desafios na trajetória do paciente com problemas de visão no SUS são:

– Acesso limitado a serviços oftalmológicos; longas esperas para consultas e cirurgias; a dificuldade de ter diagnóstico e tratamento precoce;

– Necessidade de educação e conscientização, como campanhas educacionais.

– A falta de estrutura nos centros oftalmológicos, pois muitas unidades de saúde não possuem equipamentos necessários para realizar exames oftalmológicos básicos e avançados, limitando a capacidade de diagnóstico e tratamento adequados.

– A falta de atendimento oftalmológico adequado vai causar perdas visuais que vão impactar na qualidade de vida das pessoas; perda da autonomia nas atividades do dia a dia, causando maior dependência de familiares e cuidadores.

– A perda de visão pode comprometer também a saúde mental, levando à depressão, sentimentos como medo, frustração, tristeza, ansiedade; negação da doença, baixa estima.

10 maneiras para promover a melhoria na saúde ocular da população

Considerando essas questões, a Retina Brasil traz propostas de ações governamentais para as melhorias necessárias na saúde ocular, como:

  1. Atualizar a legislação que trata da saúde ocular, implementar uma Política Nacional de Saúde Ocular e incluí-la no Plano Nacional de Saúde de 2024 a 2027.
  2. Expandir investimentos na formação e contratação de mais oftalmologistas e outros profissionais de saúde ocular, além de expandir a rede de clínicas e hospitais especializados em oftalmologia.
  3. Incluir oftalmologistas na atenção primária, com os primeiros atendimentos oftalmológicos já na Unidade Básica de Saúde/Atenção Primária, contando com a parceria da autoridade municipal.
  4. Promover a saúde ocular, com prevenção, tratamento e reabilitação;
  5. Reduzir as filas de espera para consultas e tratamento;
  6. Investir em campanhas educativas para promover a importância da saúde ocular;
  7. Desenvolver programas de triagem e prevenção;
  8. Modernizar a infraestrutura, equipando as unidades de saúde com os aparelhos necessários para exames oftalmológicos completos, necessários para um bom diagnóstico;
  9. Expandir a telemedicina para exames oftalmológicos em regiões distantes do país;
  10. Aumentar o número dos centros de reabilitação para pessoas com deficiência visual e surdo-cegueira, como iniciativas do município ou estado federativo. Esses centros devem oferecer serviços de reabilitação integrados a equipes multidisciplinares, com suporte psicológico e social às famílias e aos afetado por doenças oculares.

 

Principais sintomas das doenças que afetam a retina

No Dia Mundial da Retina, celebrado nesta terça, 24 de setembro, especialistas chamam atenção para a importância do cuidado com essa parte vital do sistema ocular. Algumas das principais doenças que afetam a retina incluem a DMRI, a oclusão vascular, o descolamento de retina e a retinopatia diabética.

Essas condições podem levar a complicações severas, como a cegueira, que impacta diretamente a qualidade de vida do paciente. A perda da visão compromete atividades diárias simples e pode acarretar sérios problemas psicológicos”, alerta Henrique Rocha, presidente da Sociedade Goiana de Oftalmologia (SGO).

Reconhecer os sintomas das doenças que afetam a retina é o primeiro passo para buscar ajuda médica. No caso do descolamento de retina, o principal sintoma é o escotoma, uma mancha preta que aparece na visão no ponto em que houve o descolamento.

Porém, há outros sinais que indicam maior probabilidade de um descolamento acontecer. Nesses casos, os pacientes frequentemente relatam a visualização de flashes luminosos, pontos móveis (conhecidos como moscas volantes) ou visão embaçada. Já a retinopatia diabética, comumente associada ao diabetes mal controlado, pode causar perda de visão, distorção visual e visão turva.

A DMRI pode se manifestar através de uma anomalia onde linhas retas parecem onduladas (metamorfopsia), além da visão distorcida ou embaçada. Por fim, a oclusão vascular se destaca pela perda súbita e indolor da visão, um sinal que exige atendimento médico imediato.

A prevenção é a chave. A visita regular ao oftalmologista pode identificar precocemente essas doenças, permitindo um tratamento mais eficaz. Alimentação saudável, controle do peso e prática de atividades físicas também são essenciais para a saúde ocular”, ressalta Henrique Rocha.

Perfil de risco e avanços no tratamento

Alguns grupos estão mais propensos a desenvolver problemas na retina, como pessoas acima de 50 anos, indivíduos com histórico familiar e aqueles com pele e olhos claros. A exposição excessiva ao sol também é um fator a ser considerado. Além disso, fumantes e pessoas com alta miopia também estão no grupo de risco. “É fundamental que essas pessoas fiquem ainda mais atentas e façam exames regulares”, orienta o oftalmologista.

A boa notícia é que nos últimos anos houve avanços significativos no tratamento de doenças da retina. Técnicas como o uso de laser, injeções intravítreas e cirurgias específicas têm trazido esperança para muitos pacientes. “Esses tratamentos modernos têm melhorado muito a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo a progressão das doenças e, em muitos casos, restaurando a visão”, explica Henrique Rocha.

O especialista ressalta a importância de dedicarmos a atenção à saúde da retina, uma peça fundamental para a visão. “Não espere pelos sintomas. A prevenção é sempre o melhor caminho”, conclui.

Fonte: Retina Brasil e SGO

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