Diante do aumento de quase 1.000% nos casos de dengue em janeiro deste ano no Estado do Rio de Janeiro, a Defensoria Pública estadual enviou recomendações a 83 cidades fluminenses cobrando a adequação e a implementação dos Planos de Contingência para Enfrentamento às Arboviroses Transmitidas pelo Aedes Aegypti. O documento foi enviado na segunda-feira (29) e as secretarias municipais de Saúde têm até 15 dias para responder.

Para a coordenadora de Saúde da defensoria, Thaisa Guerreiro, o aumento significativo no número de casos em algumas cidades indica uma falha na prevenção e controle do mosquito transmissor da doença.

“Desde 2022, percebemos o aumento sensível dos casos de dengue no estado e expedimos ofício aos municípios para que focassem nas medidas de prevenção em períodos epidêmicos, elaborando uma matriz de desempenho dos municípios no tema com a parceria da UFRJ. O monitoramento apontou, de fato, que houve falhas na adoção de medidas coordenadas intersetorialmente para a prevenção, como reduzidas coberturas de visitas domiciliares, controle do vetor em áreas públicas de foco do mosquito e inadequação dos planos de contingência”, disse a coordenadora.

A defensoria pede que as secretarias municipais de Saúde intensifiquem as ações de controle à disseminação da doença, com a elaboração de relatórios estatísticos dos locais visitados para retirada de entulhos, lixos em terrenos baldios e áreas de construção e nas vias públicas dos municípios.

Outra solicitação é a organização de estrutura de atenção à saúde para o atendimento adequado de pacientes, com o monitoramento e a divulgação para a população dos casos e óbitos em nível municipal. A defensoria recomenda ainda a criação de centros de hidratação, com serviço exclusivo para tratamento de dengue, além do manejo clínico adequado e precoce para minimizar os impactos da doença.

A Prefeitura de Niterói divulgou na última quinta-feira (1/2) que se mantém estável com relação aos casos de dengue, zika e chicungunya graças às ações implementadas pela Secretaria Municipal de Saúde. Uma equipe de fiscais sanitários que atuam exclusivamente em vistorias de imóveis abandonados, que são um risco para a proliferação dos vetores.

Durante todo o ano, as equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) realizam o trabalho de rotina de prevenção e combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor dessas arboviroses. A cobertura abrange 205 mil imóveis, com planejamento de visita pelos agentes a cada dois meses.

Há cerca de 300 servidores envolvidos nas atividades de combate ao mosquito transmissor das arboviroses, e 5 mil imóveis são visitados diariamente. Além do trabalho diário, mutirões são realizados aos finais de semana, intensificando as ações de combate ao mosquito.

A equipe de Educação do CCZ também realiza atividades educativas de prevenção em toda a rede de ensino público municipal e estadual de Niterói. Profissionais do Programa Médico de Família também atuam em parceria com o CCZ nas suas áreas de cobertura.

“Esse trabalho que é feito de combate às arboviroses é fruto da dedicação dos nossos agentes. É um trabalho de prevenção que também passa pelas atividades de conscientização desenvolvidas em palestras lideradas por esses profissionais em unidades de saúde, escolas e também nas praças da cidade”, ressalta a secretária municipal de Saúde de Niterói, Anamaria Schneider.

Metodologia Wolbachia reduz casos de dengue em 70%

Ainda segundo ela, por meio do Projeto Wolbachia – que prevê a introdução de mosquitos Aedes aegypti contendo uma bactéria (Wolbachia) que tem a capacidade reduzida de transmitir dengue, zika, chikungunya – a cidade mantém um cenário positivo dos casos das doenças.

Em Niterói, o trabalho foi iniciado em 2015, em parceria com a Fiocruz, com uma ação piloto em Jurujuba e e se espalhou pelo munícipio, trazendo resultados positivos. Em 2017, começou uma expansão no município, e o método Wolbachia chegou a 33 bairros das regiões praias da Baía e Oceânica.

Em 2021, dados revelaram a eficácia da proteção garantida pela Wolbachia. Os números apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica. Naquele período, 75 % do território estava coberto.

Mesmo com os desafios impostos pela pandemia da Covid-19, o trabalho seguiu com o monitoramento e a triagem dos mosquitos. Em 2022, o trabalho recomeçou. Na fase de finalização, os mosquitos com a Wolbachia foram liberados em 19 bairros localizados na área da região Norte que ainda não estava coberta, na região de Pendotiba e na região Leste.

A medida é complementar e ajuda a proteger a região das doenças propagadas pelos mosquitos, uma vez que o Aedes aegypti com Wolbachia, ao serem soltos na natureza,  se reproduzem com os mosquitos de campo e geram Aedes aegypti com as mesmas características, tornando o método autossustentável.

O monitoramento da população de mosquitos se faz necessário para acompanhar a estabilização da população dos insetos com Wolbachia no território. Este monitoramento é feito por meio da coleta dos mosquitos capturados por armadilhas instaladas em locais previamente georreferenciados, obedecendo à metodologia padrão sugerida pela Fiocruz.

O diagnóstico da presença da Wolbachia nos Aedes aegypti é feito nos laboratórios do WMP Brasil/Fiocruz, por técnicas de biologia molecular. A produção de indicadores entomológicos através da contagem de ovos também é estratégia proposta pelo Ministério da Saúde aos municípios. A produção desses indicadores vetoriais será possível através da instalação das armadilhas Tipo Ovitrampas.

Cremerj apoiará capacitação de médicos sobre a dengue

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) e o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) definiram ações conjuntas para capacitar, a curto prazo, médicos das redes de assistência, alcançando as cidades do interior e da Região Metropolitana. A data de início dos treinamentos ainda será estabelecida nas próximas semanas.

“Vamos fazer um grande movimento online junto aos profissionais recém-formados, e ações junto aos diretores técnicos das unidades de saúde. Mais que um treinamento geral com apoio do Cremerj, faremos um treinamento mais direcionado aos médicos mais jovens, que ainda não vivenciaram o cenário de uma epidemia de dengue e precisam estar atentos ao manejo clínico adequado para atender os pacientes, seja na rede pública ou privada”, ressaltou Claudia Mello, secretária de estado de Saúde do Rio de Janeiro.

Além do cenário epidemiológico do estado, destacando o número de casos, foram discutidos quais os sorotipos da dengue estão em circulação no RJ e como funciona o monitoramento dos municípios que solicitam centros de hidratação. Alexandre Chieppe, diretor-presidente do Instituto Vital Brazil e conselheiro do Cremerj, também reforçou a necessidade do treinamento.

“Precisamos recapacitar a rede de saúde para melhor lidar com esses casos de dengue, evitando a confusão com outras doenças, como a leptospirose, e atentando para as mudanças no manejo clínico divulgadas pelo Ministério da Saúde”, destacou.

Ministério da Saúde abre Centro de Operações de Emergência contra a Dengue

Em Brasília, o Ministério da Saúde iniciou no sábado (3), os trabalhos do Centro de Operações de Emergência contra a dengue e outras arboviroses, coordenado com estados e municípios. A pasta apresentou a estrutura, que funciona como um ponto focal nacional para coleta e análise de dados, produção de relatórios e divulgação de informações por meio de boletins e informes epidemiológicos.

O COE Dengue foi anunciado na última quinta-feira (1º), durante a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), e é composto por membros de todas as secretarias do Ministério da Saúde, sendo 10 deles da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA). 

Cabe ao grupo, entre outras atribuições, planejar e orientar as medidas a serem empregadas para o enfrentamento da doença e encaminhar à ministra da Saúde, Nísia Trindade, relatórios técnicos sobre a situação epidemiológica e ações de resposta.

Com Agência Brasil, Cremerj e Prefeitura de Niterói

 

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