A primeira infância é o período do desenvolvimento humano que vai da gestação (ou nascimento) até os 6 anos de idade, sendo uma fase crucial onde se formam as bases do desenvolvimento cognitivo, motor, social e emocional da criança. O cérebro está em intensa atividade, formando milhões de conexões, e o ambiente, as interações e os estímulos recebidos durante essa fase têm um impacto duradouro e fundamental no desenvolvimento pleno do indivíduo.
Conforme dados do Censo do IBGE de 2022, divulgados pelo Projeto Primeira Infância Primeiro, as crianças nesta fase da vida correspondem a 8,92% da população brasileira, o equivalente a mais de 18 milhões de pessoas. Além de celebrar o Dia Nacional da Infância (24/8), Agosto Verde marca o Mês da Primeira Infância desde 2023 no Brasil, com objetivo promover a conscientização sobre a importância dos primeiros anos de vida e a efetivação dos direitos das crianças até seis anos.
Celebrar essa data é um convite à reflexão sobre a importância de garantir os direitos das crianças, assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e também saber que essa responsabilidade cabe a todos: família, Estado e sociedade, sendo, inclusive, fundamental denunciar violações e promover políticas públicas para o bem-estar e desenvolvimento infantil.
Para conscientizar sobre os cuidados com a primeira infância, o Congresso Nacional será iluminado de verde de domingo (24/8) até terça-feira (26). A celebração ganha força no momento em que a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2628/22, de autoria do Senado, que cria regras mais rígidas para proteger crianças e adolescentes no uso de aplicativos, jogos eletrônicos, redes sociais e programas de computador. A proposta prevê obrigações para os fornecedores e controle de acesso pelos pais e responsáveis.
Lei para barrar adultização não é suficiente, diz especialista
A aprovação ocorre em meio a denúncias, prisões e ameaças ligadas à exploração de menores no ambiente digital, na esteira da repercussão do vídeo ‘Adultização’, publicado pelo influenciador Felca. Mesmo que essa lei tenha um papel coletivo de responsabilizar plataformas, estabelecer limites e ajudar a colocar a infância no centro da pauta social, não é suficiente, na visão da psicopedagoga e escritora infantil Paula Furtado.
A proteção essencial vem do envolvimento dos pais e responsáveis. São eles que precisam acompanhar, orientar e estabelecer limites no uso das telas e nas cobranças do dia a dia. A lei oferece apoio, mas a presença afetuosa e a escuta ativa dentro de casa são insubstituíveis”.
Segundo Paula, talvez esse PL não fosse necessário se os pais conversassem abertamente com seus filhos sobre os riscos digitais, controlassem o uso de telas e fizessem espaço para que a criança pudesse, de fato, ser criança.
Se desde o começo houvesse mais diálogo, acompanhamento e equilíbrio nas rotinas, talvez não estivéssemos nessa situação. Os adultos poderiam ter incentivado brincadeiras, leitura e esportes às crianças, em vez de apenas compromissos e responsabilidades”.
Obstáculos e atenção
O desenvolvimento infantil é feito de afeto, cuidado e tempo de qualidade em um ambiente que valoriza as brincadeiras e favoreça a formação integral da criança. “Quando os adultos respeitam o ritmo da criança, participam das brincadeiras e validam suas emoções, ajudam a preservar sua essência, curiosidade e criatividade”, ressalta a profissional.
Atualmente, segundo a especialista, os principais desafios que as crianças enfrentam e que podem afetar o progresso de sua infância são o excesso de telas e de estímulos, a pressa, agenda cheia, a pressão por desempenho e a falta de escuta emocional.
Preservar a pureza da infância envolve evitar a (quando a criança é exposta a papéis, responsabilidades, informações ou comportamentos que não correspondem à sua idade) e a exposição a conteúdos inadequados que estimulam comparações, sexualização e padrões irreais”, destaca.
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Uma fase importante para a formação do cérebro
Segundo informações do Ministério da Saúde, a primeira infância é o período que abrange os seis anos completos de vida de uma criança. Nesta fase ocorrem o amadurecimento do cérebro, a aquisição dos movimentos, o desenvolvimento da capacidade de aprendizado e a iniciação social e afetiva.
Assim, quanto melhores as experiências da criança e quanto mais estímulos qualificados ela receber nesse período, maiores serão as chances de desenvolver plenamente seu potencial. Na primeira infância é formada toda a estrutura emocional e afetiva e desenvolvidas áreas fundamentais do cérebro – relacionadas à personalidade, ao caráter e à capacidade de aprendizado.
Por isso, problemas graves nesta fase, como violência familiar, negligência e desnutrição, podem interferir no desenvolvimento saudável do cérebro. Por outro lado, o estímulo adequado gera benefícios, como o aumento da aptidão intelectual e a formação de adultos aptos a lidar com desafios.
Campanha Agosto Verde
Paula Furtado resume o significado da data: “Lembrar da importância de proteger nossas crianças não deve ser restrito a um único dia ou mês, mas sim uma prática constante. Ao oferecermos cuidado, amor e segurança, promovemos um desenvolvimento natural e um aprendizado que perdura para sempre”.
Para a psicopedagoga e escritora infantil, ao valorizar a data, a sociedade reconhece que uma infância plena é o alicerce de uma comunidade mais empática, saudável e feliz. “Este é o momento propício para lembrar que esta não é uma fase preparatória para a vida, ela é a vida. É um território sagrado onde se formam vínculos, valores, memórias afetivas e a base emocional de cada ser humano”, explica.
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Com Assessorias