Cerca de 4% da população, nada menos que 8 milhões de brasileiros, sofrem com o transtorno de bipolaridade, uma doença mental que representa um desafio significativo para portadores, profissionais de saúde, familiares e comunidades. A maioria (60% dos casos) têm sua primeira manifestação antes dos 20 anos de idade, segundo dados da ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar).
De acordo com a Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos), o objetivo do Dia Mundial do Transtorno Bipolar é chamar a consciência mundial para transtornos bipolares e eliminar o estigma social .
O dia 30 de março se tornou o Dia Mundial do Transtorno Bipolar em homenagem à data de aniversário do pintor Vincent Van Gogh, que foi diagnosticado como portador da doença. De acordo com Mario Louzã, médico psiquiatra, o transtorno bipolar se caracteriza pela presença de episódios de mania ou hipomania, e episódios depressivos.
No episódio de mania, o portador apresenta euforia, uma alegria intensa, de felicidade fora do normal. Também ideias de grandiosidade, riqueza ou elevada autoestima e autoconfiança, com perda do bom senso, que pode atingir um grau fora da realidade (delírio). A pessoa pode apresentar também irritabilidade e impulsividade de forma exacerbada.
Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e membro do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, o professor explica:
O pensamento fica acelerado, muitas ideias fluem simultaneamente ou numa sequência tão rápida que não se consegue expressar verbalmente. Há diminuição da necessidade de sono, comportamento sexual excessivo, descontrole nos gastos e atitudes sem a percepção de sua inadequação. Fica agitado, eventualmente agressivo, distraído e totalmente desconcentrado.
Segundo o psiquiatra, o episódio de hipomania tem características similares ao de mania, mas os sintomas são mais brandos. Já o episódio de depressão se caracteriza por tristeza profunda, perda de interesse por tudo, pensamentos negativos (ideias de ruína, culpa, inutilidade, baixa autoestima) que podem ser intensos a ponto de configurar um delírio.
Há modificações no sono: enquanto algumas pessoas têm insônia, outras apresentam hipersonia (dormem mais do que o habitual). Em relação ao apetite, pode haver aumento no consumo de alimentos como forma de aliviar a ansiedade. No entanto, a perda de apetite é mais comum neste quadro”, explica.
Há também diminuição da libido, apatia, fadiga excessiva e desinteresse por tudo. “A pessoa mal tem vontade de levantar da cama pela manhã”, reforça Louzã. Nos casos graves de depressão, pode haver ideias de suicídio, e até tentativas. O transtorno bipolar é a doença mental que mais causa mortes por suicídio: cerca de 15% dos pacientes tiram a própria vida.
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Tipos de transtorno bipolar
Segundo o Dr. Mario Louzã, há dois tipos de transtorno bipolar: o tipo I, que apresenta quadros de mania e depressão, e o tipo II, com episódios de hipomania e depressão. A sequência de manifestação dos episódios maníacos/hipomaníacos e depressivos é variada, ou seja, não acontece, necessariamente, de forma alternada. Os eventos, tanto de mania/hipomania quanto os de depressão, têm duração, em geral, de semanas.
Apesar de a doença se manifestar mais comumente no adulto jovem, ela pode acometer pessoas mais velhas, inclusive na terceira idade. Atinge ambos os sexos numa proporção semelhante e perdura a vida toda. As causas podem envolver genética, hereditariedade e fatores ambientais/externos como uso de drogas, álcool em demasia, estresse constante, entre outros.
O tratamento depende da fase da doença. De acordo com Louzã, os quadros maníacos/hipomaníacos são tratados com estabilizadores do humor, como o lítio (para evitar ou reduzir as chances de um episódio agudo), podendo associar o uso de antipsicóticos. Os quadros depressivos podem ser tratados com antipsicóticos ou anticonvulsivantes. Também é possível introduzir antidepressivos, porém, estes podem desencadear um quadro maníaco/hipomaníaco.
Na dúvida quanto à possibilidade de ser portador de transtorno bipolar, o ideal é consultar um médico psiquiatra, que poderá fazer a avaliação dos sintomas, o diagnóstico e indicar os tratamentos adequados”, finaliza o Dr. Mario Louzã.
Da Redação, com Assessorias