Ana Furtado enfrenta câncer de mama

Um dos assuntos da semana que passou em destaque nas redes sociais e no meio das celebridades – e dos muitos fãs que estas personalidades mobilizam – foi o tratamento que a atriz e apresentadora Ana Furtado enfrenta para vencer o câncer de mama. Mas não pelo tratamento em si, mas sim ao método a que ela aderiu para evitar a perda de cabelo durante o processo de quimioterapia.

Chamada de crioterapia, a técnica consiste no uso de uma touca gelada antes e após o procedimento. Em seu Instagram, Ana Furtado postou fotos preparando os cabelos para fazer a sua segunda quimioterapia. Ela contou que passou quatro horas e meia com uma touca a temperatura de 10 graus, sendo meia hora antes da quimio e duas horas depois.

Esse resfriamento no couro cabeludo é muito doloroso, mas reduz a quantidade de quimioterápicos que chegam até os bulbos capilares, diminuindo a queda de cabelos. (..) É difícil, mas até agora eficiente”, escreveu ela, agradecendo aos médicos pelas orientações.

Ana Furtado conta sua luta contra câncer de mama

De fato, a queda de cabelo é um dos mais temidos efeitos colaterais da quimioterapia, especialmente entre as mulheres que descobrem o câncer. O assunto gera polêmica, já que há quem condene a preocupação estética de pacientes que não querem perder os cabelos. “Cabelo cresce, o mais importante é a vida”, escreveu M. em sua rede social, criticando o uso do equipamento. Muitas outras pessoas, porém, se manifestam sensíveis a mais esse drama vivido pelas vítimas de câncer.

Entre os especialistas, o tema é encarado com seriedade, já que o efeito psicológico gerado pela tensão em torno da queda de cabelos na quimioterapia pode acabar impactando no próprio tratamento da doença. “Essa aflição, muitas vezes, se sobrepõe inclusive aos resultados positivos da terapêutica e leva a um elevado risco de problemas secundários como autoestima baixa, ansiedade, estresse e depressão”, explicam especialistas do Grupo Oncoclínicas.

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Perda de cílios e sobrancelhas e também pigmentação na pele

Não é somente a perda de cabelos. A quimioterapia em geral leva à perda de cílios e sobrancelhas e também provoca pigmentação na pele. E, claro, isso diminui a qualidade de vida dos pacientes. Outro problema que costuma afetar a aparência – e a saúde – dos pacientes submetidos a tratamentos com câncer é o linfedema, uma condição que pode aparecer em pessoas com melanoma, mulheres submetidas a mastectomia e cirurgias ginecológicas e em homens que fazem a prostatectomia.

Um estudo realizado no Hospital da Universidade de Tóquio, em conjunto com o St. Luke Hospital Internacional, também em Tóquio, mostrou que esses efeitos colaterais afetam tanto a autoestima das pessoas que chegam a privá-las da vida social e das oportunidades de trabalho. Os especialistas ouviram de pacientes frases como: “Eu não gosto de ver ninguém com este meu rosto pigmentado” ou “Não posso ir nadar deste jeito”.

Os cientistas resolveram então adaptar técnicas de cobertura de maquiagem a fim de melhorar a autoestima dos pacientes. Durante três meses, eles usaram um creme especial que combinava com a cor de cada um. Resultado: quase todas as alterações visíveis na pele foram ocultadas entre 43 participantes (mama, 23; tireoide, 11; estômago, 5; leucemia, 2; outros, 2). Isso melhorou a autoestima e a qualidade de vida dos pacientes a ponto de os cientistas afirmarem que é preciso dar mais atenção ao cuidado com a aparência durante e após o tratamento. “Nossos resultados sugerem que a maquiagem é útil e importante para a vida diária dos pacientes”, apontaram.

Turbilhão emocional: como enfrentar os impactos psicológicos

De acordo com especialistas do Grupo Oncoclínicas, o impacto psicológico é maior quando se trata de câncer de mama, neoplasia maligna que mais atinge o sexo feminino, sendo responsável 28% do total de casos diagnosticados entre este grupo em 2016, um universo que representa 60 mil pessoas, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

“É preciso destacar que mulheres com câncer de mama passam por um turbilhão emocional que tem início no momento em que descobrem a condição e continua, com altos e baixos, ao longo de todo o processo de tratamento. O diagnóstico desse tipo de tumor, em especial, gera inseguranças relacionadas aos desdobramentos que a doença provocará na imagem da paciente. Por isso, é preciso garantir não apenas que seja realizado o devido acompanhamento da condição em si, como também atentar aos aspectos psicológicos”, explica Daniel Gimenes, oncologista do Centro Paulista de Oncologia – CPO.

Para o coordenador de Oncologia Mamária do Grupo Oncologia D’Or, Dr. Gilberto Amorim, a possibilidade de prevenir ou minimizar a perda dos cabelos, um dos efeitos do tratamento quimioterápico, traz uma mudança impactante para o paciente e a maneira como enfrentará a doença. “Com resultados positivos, dependendo do esquema e medicamentos utilizados, 2 em cada 3 pacientes não precisam raspar a cabeça ou usar perucas. Os protocolos mais longos, e com uso de antraciclinas, as chances giram em torno de 30% da preservação capilar”, ressalta o oncologista.

Ainda segundo ele, antes desta tecnologia, a queda dos cabelos era uma realidade em quase 100% dos casos e chegavam a ocorrer em cerca de 15 dias. “Com o uso da touca gelada, que permite o resfriamento do couro cabeludo, as esperanças dos pacientes, majoritariamente mulheres, se associa à autoestima”, ressalta.

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Touca térmica é aliada para evitar queda de cabelo

Os avanços e inovações no tratamento oncológico já transformam a realidade de muitos pacientes que lutam contra o câncer. Dentre as novidades está um método de resfriamento do couro cabeludo, antes, durante e depois da quimioterapia, que tem como intenção reduzir a queda de cabelo. O procedimento que aumenta as chances de preservação dos fios nos processos de quimioterapia tem sido considerado um importante aliado para a melhora do equilíbrio emocional em mulheres em tratamento contra o câncer de mama.

A técnica, chamada de Crioterapia ou Scalp Cooling (em inglês), consiste no uso de uma touca gelada, que resfria o couro cabeludo, levando à contração dos vasos sanguíneos e, desta forma, cria uma espécie de capa protetora que preserva os folículos capilares. Esse resfriamento do couro cabeludo diminui o fluxo sanguíneo para a raiz de cada fio, fazendo com o que folículo capilar fique menos suscetível à agressão dos quimioterápicos e, portanto, menos propenso ao risco de queda.

Não há números apurados sobre a eficácia do uso desta técnica no Brasil, considerando que ela foi aprovada pela Anvisa no início de 2015. Contudo, pesquisas realizadas em vários países da Europa, onde sua aplicação já vinha sendo feita ao longo dos últimos anos,  mostram que  a redução da taxa de alopecia variou de 49% até 100% em mais de 2 mil pacientes avaliadas. Isso significa que a queda de cabelos foi nula ou praticamente imperceptível em boa parte dos casos”, diz o Dr. Daniel.

Já Amorim afirma que tratamentos quimioterápicos com esquemas mais curtos e não baseados em medicamentos da classe das antraciclinas, associados ao uso da touca térmica podem ter chance de 60% a 70% de sucesso contra a queda capilar. Sdgundo ele, o serviço está disponível na Oncologia D’Or, nas clínicas da Barra da Tijuca e de Botafogo. Os pacientes podem utilizar a touca em todas as sessões de quimioterapia.

Para a oncologista Daniele Ferreira, da Oncoclínica Centro de Tratamento Oncológico, unidade do Grupo Oncoclínicas no Rio, um dos benefícios da técnica é sua funcionalidade além do período de aplicação.

Já usamos a touca térmica desde 2016 e temos tido muitos bons resultados com boas taxas de satisfação do paciente. Mesmo acontecendo o resfriamento do couro cabeludo apenas um pouco antes da quimioterapia, durante e um pouco depois, o efeito de proteção dos folículos se mantem ao longo de semanas de intervalos entre uma aplicação eu outra de quimioterapia. É um método seguro e bem tolerado”, avalia a médica.

Touca térmica é arma para vencer queda de cabelo na quimioterapia

Entenda como funciona a Crioterapia

Um capacete revestido por um gel em temperatura de 4º C é conectado por meio de um tubo a uma máquina que se assemelha a um circulador de ar. Colocado sobre a cabeça do paciente 60 minutos antes da infusão de quimioterapia, a touca permanece sendo usada durante toda a aplicação do quimioterápico e só é retirada cerca de uma hora após a aplicação completa do medicamento. Todo o processo dura em torno de três a quatro horas.

Esse dispositivo gelado causa uma sensação térmica de aproximadamente 15º C e, em geral, é bem tolerada. Em alguns casos pode haver queixa de dor de cabeça, tontura e sensação de frio, mas tais sintomas não são considerados como fatores que levem à desistência do procedimento pelos pacientes, graças ao bons resultados alcançados”, ressalta o oncologista do CPO.

O especialista frisa que o nível de preservação do cabelo está relacionado ao tipo de quimiterápico empregado. Considerando as drogas mais fortes, que levariam à queda total dos fios, é possível reduzir o indíce de perda para 20% a 30%. “Isso significa que o uso de peruca ou lenços se torna desnecessário na maioria das situações, contribuindo amplamente para a autoestima das mulheres em tratamento”, pontua o Dr. Daniel Gimenes.

crioterapia pode ser aplicada em pacientes diagnosticados com outros tipos de câncer, tendo o mesmo potencial de eficácia, mas há restrições. A contraindicação acontece para quem tem câncer hematológico (que afeta o sangue), como leucemia e linfoma. Pessoas que apresentam alergia no couro cabeludo também não devem fazer o tratamento.

Centros especializados em estética de pacientes oncológicos

Pacientes  com câncer podem fazer maquiagem, cuidar dos cabelos, das unhas, da pele em qualquer lugar? Quem responde é o oncologista Augusto Pereira, do Hospital AC Camargo: “Quem se submete a esses tratamentos sofrem uma queda de imunidade importante e correm risco de infecção. Precisam estar nas mãos de pessoas preparadas e não podem ir a locais que não tenham assepsia correta”, afirma.

Diante dessas necessidades, surgem centros de estética especialmente pensados para atender esses pacientes. Um deles é a Neolife Bem-Estar, em São Paulo, que se apresenta como a primeira clínica do Brasil voltada a dar conforto para pacientes com câncer. O lugar conta com uma equipe multidisciplinar treinada por especialistas certificados da Oncology Training International (OTI), do Canadá. Além da maquiagem sugerida pelos cientistas japoneses, existem tratamentos que podem ser realizados para melhorar a autoestima desses pacientes. A médica Carolina Isolani, sócia da Neolife, fala sobre eles:

Pele ressecada: Alguns tratamentos para o câncer podem deixar a pele ressecada. Nesses casos, é possível fazer hidratação e massagem facial para amenizar o ressecamento. Mas é importante uma seleção criteriosa dos produtos. Existem no mercado opções desenvolvidas especialmente para este tipo de pele.

Queda do cabelo: Aluguel da touca gelada e cuidados na lavagem do cabelo remanescente são alternativas para evitar a queda. Para aqueles casos que ocorre queda completa, é possível o uso de próteses.

Queda dos cílios: Para os cílios, existe a opção de fazer a sua colocação. Mas alguns cuidados são necessários. A cola utilizada nesses procedimentos, por exemplo, se não for escolhida adequadamente, podem causar irritação local e até infecções nas pálpebras conhecidas como blefarite.

Falha nas aréolas e cicatrizes: A micropigmentação é uma opção para esses casos. O resultado não é permanente como a tatuagem, mas tem tempo de duração longo, que varia de 8 a 18 meses.  O melhor momento para a sua realização é antes do início do tratamento quimioterápico, pois a imunidade ainda está preservada.

Massagem corporal: A massagem corporal é uma ótima alternativa para diminuir a ansiedade, aliviar a dor relacionada à doença e amenizar a fadiga.

Técnicas integrativas: Recentemente foram publicadas recomendações de terapias complementares em associação ao tratamento convencional baseado em evidências científicas. Tratamentos como  massoterapia oncológica, acupuntura, reiki, reflexologia, aromaterapia, meditação e yoga são técnicas utilizadas para ajudar nesse processo.

Drenagem ajuda a combater o linfedema

Estudos internacionais apontam que de 30 a 50% dos pacientes sofrem com o linfedema, resultante da retirada de lifonodos, o que faz com que o fluido corporal não seja drenado adequadamente. A análise de 18 estudos publicada na revista científica Healthy Sience Report em outubro de 2017 mostrou que em 939 pacientes, houve reduções significativas do linfedema quando submetidos a cirurgia e intervenções complementares, como drenagem e laser. Segundo o artigo, o alívio dos sintomas foi encontrado em 50 a 100% dos pacientes, assim como a redução do número de episódios de celulite em todos os casos investigados.

É um problema crônico e as consequências são inchaço excessivo, dor, déficit funcional, infecções de repetição, alterações estéticas e psicológicas. O tratamento deve ser multidisciplinar”, diz a fisioterapeuta oncológica e linfoterapeuta Fernanda Teixeira.

O cirurgião plástico da Neolife, João Pedro Biló, da Unifesp, afirma que os resultados dessa abordagem multidisciplinar associando as cirurgias de transplante de linfonodos ou linfovenoanastomoses são muito bons. No Brasil, são poucos os especialistas aptos a tratar este problema.

Fonte: Oncoclínicas, Oncologia D´Or e Neolife, com Redação

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