Recluso nos últimos 10 anos no interior do Rio Grande do Sul, Belchior morreu serenamente no domingo (30 de abril), enquanto dormia, ao som de música clássica. O cantor e compositor de 70 anos, autor de sucessos como A Palo Seco, Medo de Avião e Como Nossos Pais foi vítima do rompimento da aorta, a principal artéria do corpo humano, como indicou a necropsia. O problema que deixou órfãos milhares de fãs de um dos maiores ídolos da MPB não é tão raro. Cerca de 6,5 mil pessoas morrem anualmente no Brasil por aneurisma, uma dilatação anormal e permanente de algumas artérias, que provoca um enfraquecimento da parede arterial e que, sem tratamento, pode ocasionar a ruptura da artéria.
“O aneurisma da aorta abdominal é uma doença silenciosa e que tem alto índice de mortalidade. É caracterizado pela dilatação da artéria aorta, o maior vaso do corpo humano. O tratamento é cirúrgico, mas é muito importante o diagnóstico precoce”, explica o angiologista e cirurgião vascular Ricardo Brizzi, membro da Sociedade de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro. “Quando a artéria é atingida e se dilata, essa dilatação aumenta progressivamente e caso não seja tratada pode ocasionar a ruptura da artéria. Isso ocorre principalmente em aneurismas a maiores de 5 cm de diâmetro, por isso todo o aneurisma da aorta abdominal deve ser tratado a fim de evitar uma complicação maior que é a ruptura da artéria e até o óbito do paciente”, ressalta.
Como essa doença não tem sintomas específicos, na maioria dos casos, quando o paciente começa a sentir alguma dor é porque o volume, a dilatação está comprimindo órgãos vizinhos na cavidade abdominal, ou até, em casos mais graves, ocorrer uma hemorragia interna. Brizzi não tem condições de avaliar se um suposto quadro depressivo que teria levado Belchior à reclusão nos últimos anos pode ter contribuído para o agravamento da doença. Mas destacou que é importante é que a pessoa sempre tenha um acompanhamento médico e que faça exames de rotina para evitar o problema.
“Esse problema ocorre em quem tem um componente genético (familiares possuem a doença), e tem o agravante se for hipertenso. Os riscos são em pessoas maiores de 60 anos. Se a pessoa já tem um acompanhamento médico e está em um grupo de risco, o médico vai pedir exames para análise e prevenção do problema”, explica.
Aterosclerose é a principal causa do aneurisma
A aterosclerose, que tem elevada incidência na população, é a causa mais frequente de aneurisma, mas a doença pode ser também provocada por certas enfermidades como inflamações, infecções ou traumatismos, ocasionando um aneurisma intracraniano ou secundário. “Qualquer artéria do corpo pode ser acometida por um aneurisma, mas a aorta abdominal, especificamente abaixo das artérias renais é a mais atingida. Quando a artéria é atingida e se dilata, essa dilatação aumenta progressivamente e caso não seja tratada pode ocasionar a ruptura da artéria”, esclarece.
Isso ocorre principalmente em aneurismas maiores que 5 cm de diâmetro, por isso todo o aneurisma da aorta abdominal deve ser tratado a fim de evitar uma complicação maior que é a ruptura da artéria e até o óbito do paciente. Como essa doença não tem sintomas específicos, na maioria dos casos, quando o paciente começa a sentir alguma dor é porque o volume, a dilatação está comprimindo órgãos vizinhos na cavidade abdominal, ou até, em casos mais graves, ocorrer uma hemorragia interna.
“Por isso é necessário que o médico seja consultado caso ocorra alguma dor na região abdominal. O diagnóstico é feito por exame físico, com a palpação do trajeto arterial a fim de verificar sua dilatação e expansibilidade e é complementado com ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética ou arteriografia, para um diagnóstico preciso. O procedimento é sempre a cirurgia, mas para que ela seja bem sucedida é necessário um diagnóstico precoce, antes da ruptura da artéria”, ressalta Brizi, que é responsável pelo setor de cirurgia vascular e endovascular dos Hospitais Badim, Israelita e Norte D’Or.
Sintoma confundido com infarto
Em depoimento à Polícia Civil, a companheira de Belchior, Edna Prometeu, contou que na noite de sábado, ele teria se queixado de frio e dor nas costas. Apesar disso, ele ficou no sofá com um cobertor ouvindo música clássica. Na manhã seguinte, foi encontrado pela mulher já sem vida, por volta das 7h. De início, ela chegou a suspeitar que fosse um infarto. Há relatos de que, nos casos de dissecção da aorta, em geral as pessoas relatam uma dor aguda iniciada no tórax e que se irradia em direção à coluna, de cima para baixo. Apesar de não haver informações sobre a saúde do cantor, a hipertensão arterial é o fator mais comum nos casos de dissecção.