A descoberta do diagnóstico de endometriose relatada recentemente pela cantora Anitta abre portas para um debate importante sobre a saúde da mulher e a necessidade de um acompanhamento periódico para detecção precoce da doença, facilitando o controle dos sintomas e evitando outras complicações clínicas. Anitta revelou que as dores no ato sexual eram constantes, motivo inclusive que a levou a buscar ajuda médica.

Mas para além da questão biológica da doença, já amplamente discutida e esclarecida nas últimas semanas, existe um aspecto da psicossomática relacionada a este problema que aponta para possíveis sofrimentos emocionais desencadeantes, alerta a psicanalista Andrea Ladislau, colaboradora da seção Palavra de Especialista do Portal ViDA & AÇÃO.

“Trazendo para o campo emocional, a endometriose além de todas as complicações físicas já citadas, pode ter causas psicológicas relacionadas à insegurança, frustração, ressentimentos, desapontamentos e tristeza. Principalmente em mulheres muito ativas e independentes que direcionam sua energia para o trabalho, cujas prioridades incluem o crescimento na carreira e absorção de benefícios materiais. É uma forma do corpo sinalizar que é preciso desacelerar e valorizar sua própria essência feminina”, ressalta.

Ainda segundo Andrea, pode-se associar a esse diagnóstico a falta de confiança nos relacionamentos, a ansiedade elevada, o excesso de busca por perfeccionismo e a propensão à insatisfação constante. “Toda essa análise está relacionada à psicossomática, na qual algumas doenças do corpo humano se desenvolvem devido a um certo modo de pensar, uma certa ilusão ou emoção e que na maioria das vezes são emoções negativas, pensamentos, atitudes e bloqueios, como medo, raiva, agressão, desespero, etc”. comenta.

Apesar de todo o fundo emocional atrelado à Endometriose, o quanto antes for diagnosticada e tratada, melhor serão os resultados do tratamento. “E dentro de todo esse contexto, a psicoterapia pode ajudar e muito, no mergulho ao centro de si, para que a mulher acometida por essa doença, possa descobrir e compreender a causa psicológica de tanto sofrimento. Já que as doenças físicas nos colocam em contato com nossas pendências e fraquezas, e assim nos possibilitam uma autoanálise, que por sua vez é o primeiro passo de uma caminhada na busca da transformação pessoal e íntima das nossas atitudes e pensamentos perante a vida”.

Andrea Ladislau destaca que a  cantora Anitta aproveitou a detecção do diagnóstico de endometriose para alertar as mulheres da importância na busca pelo cuidado com seu corpo e com as questões íntimas que, muitas vezes, negligenciamos devido à urgência da vida cotidiana e das muitas funções da mulher contemporânea.

Endometriose e relação com pílulas anticoncepcionais

Doença do espectro ginecológico que atinge muitas mulheres em idade reprodutiva, a endometriose é caracterizada pela presença de tecido endometrial (aquele que reveste a cavidade uterina por dentro) fora do útero. De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a doença atinge uma a cada 10 brasileiras.

É uma condição muito dolorosa e pode causar sérias dificuldades na vida da mulher afetada, pois o tecido uterino (endométrio) ao crescer fora do local correto, afeta a estrutura fisiológica do órgão reprodutor feminino gerando muito incômodo, cólicas e sangramentos intensos, levando inclusive à necessidade de uma intervenção cirúrgica ou até mesmo, a infertilidade.

A doença é uma das patologias mais citadas pelas usuárias de contraceptivos orais, como mostrou uma pesquisa realizada com 1.005 mulheres, com média de idade de 32 anos. O levantamento encomendado pela Organon, farmacêutica global focada em saúde feminina, apresentou um raio-x das usuárias de pílulas anticoncepcionais no Brasil. Realizado pela Inception, o estudo revelou que aproximadamente três em cada 10 usuárias de anticoncepcionais possuem alguma comorbidade.

Dificuldades em diagnosticar e tratar a doença 

Dor pélvica crônica e desconforto na relação sexual são sintomas que podem ser um indício da doença, que surge na fase entre a primeira e a última menstruação. Embora seja uma doença comum, o diagnóstico ainda é um dos principais desafios médicos.  Quando a paciente tem sintomas sugestivos e a investigação com exames específicos, como a ressonância magnética da pelve, não é feita, isso pode ser um problema.

“Se a endometriose não for tratada, pode haver uma progressão da doença, levando a sintomas mais graves e também ao acometimento de outros órgãos; além de ser uma das causas de infertilidade”, afirma a ginecologista Mariane Nunes de Nadai, membro do comitê de anticoncepção da Febrasgo.

Boa parte das mulheres só descobrem a doença quando estão tentando engravidar. Para Sandra Milligan, chefe global de Pesquisa e Desenvolvimento da Organon, apesar da alta ocorrência de endometriose, as opções atuais de tratamento não estão abordando adequadamente os sintomas dolorosos e desafiadores das mulheres que vivem com esse transtorno.

Endometriose e infertilidade

Segundo o manual de endometriose publicado pela Febrasgo, entre 30 a 50% dos casos de infertilidade têm relação com a endometriose. Apesar de a infertilidade feminina ter na endometriose uma das suas principais causas, não significa dizer que toda mulher infértil tenha endometriose e nem que toda mulher com endometriose seja infértil. De acordo com Mariane de Nadai, se não houver outros fatores para dificultar a gestação, o indicado é estimular a paciente a tentar engravidar de forma espontânea por até seis meses.

“Em geral, a gente não deixa essa paciente sob tentativas por mais tempo porque a cada mês em que ela está sem tratamento da endometriose e tentando engravidar, pode haver uma progressão dos focos da doença. Por isso, depois desse período, partimos para técnicas de reprodução assistida”, explica a especialista.

A boa notícia é que, quando se fala sobre fertilização in vitro, estudos apontam que a eficácia da técnica entre as mulheres que têm a doença e as que não têm é bem parecida. “Deixando de lado o fator idade ou algum outro tipo de acometimento, atualmente, estudos mais robustos mostram que não há diferenças significativas em taxas de sucesso entre aquelas pacientes que têm endometriose e as que não têm, quando se submetem a uma técnica de fertilização in vitro”, informou Mariane.

Com Assessorias

Leia também

Anitta revela que sofre com endometriose: entenda essa doença
Março Amarelo: 5 mitos e verdades sobre a endometriose
Uma em cada 10 brasileiras tem endometriose, principal causa de infertilidade
Endometriose afeta até 15% das mulheres em idade fértil
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

3 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *