A vida depois dos 50 anos pode parecer uma fase sombria, como diz a terapeuta Lucy Cavendish em sua coluna no The Guardian. Entre reavaliar a carreira, lidar com arrependimentos, cuidar de pais idosos e netos, encarar mudanças hormonais, administrar um relacionamento muitas vezes esvaziado ou ainda um divórcio, atender às demandas de filhos adultos – inclusive financeiras –, sobra muito pouco tempo e interesse para a mulher cuidar de si mesma.
A antropóloga Mirian Goldenberg reforçou a queixa de muitas mulheres entre 40 e 90 anos: a sensação de serem transparentes. “Na juventude, o corpo é o capital da mulher brasileira. Para as que têm até 60 anos, é o marido. Para as com mais de 60, não é o corpo nem o marido; o principal capital é o tempo”, diz ela em matéria do Instituto de Longevidade MAG.
Para a jornalista e escritora Heloísa Paiva. muitas mulheres chegam à maturidade com um sentimento de vazio difícil de explicar. Seja por escolhas feitas ainda muito jovens, e que as levaram a um resultado diferente do que imaginavam, seja pelos problemas que essa fase complexa impõe, como o etarismo e a sensação de invisibilidade”, analisa
Desde a exaustão de serem o pilar da família, até a luta constante pela valorização no trabalho, a insegurança financeira, o peso das pressões estéticas e o medo de não ter mais tempo”.
A boa notícia é que um estudo longitudinal de 75 anos sobre felicidade mostrou que a quantidade total de tempo gasto trabalhando não cria felicidade e que a trajetória da felicidade ao longo da vida é uma curva em forma de U. As pessoas na casa dos 20 anos tendem a ser mais felizes até que as responsabilidades cheguem aos 30, 40 e 50 anos.
Pessoas com 25 anos ou mais tendem a ser menos felizes por pensarem que a realização de suas vidas é distante comparada aos colegas ou por acharem que o que realizam em relação à idade é pouco. Mas a felicidade se repete novamente nos seus 60 e 70 anos quando as demandas diminuem.
Heloísa se aprofundou no estudo sobre a chamada “curva em U da felicidade”, tema do seu artigo de estreia no Portal Vida e Ação. A partir deste mês, passamos a publicar a coluna ‘Mulher 50+’ toda última quarta-feira do mês. Confira o primeiro artigo de Heloísa e saiba mais também sobre o seu livro, que será lançado dia 16 de novembro, em São Paulo.
‘Muitas mulheres chegam à maturidade com sentimento de vazio’
Jornalista fala sobre o impacto do etarismo, enumera as principais dores do envelhecer feminino e aponta caminhos para ressignificar o processo
De tanto ouvir sobre as demandas da mulher 50+ em rodas de conversa e perceber que as queixas se repetiam entre elas, a jornalista Heloísa Paiva resolveu mergulhar fundo – como ela diz – ao escrever um livro que trata das principais dores do processo de envelhecimento, apontando saídas para que as mulheres maduras possam ressignificar o que é sucesso e felicidade.
Em“50+ Desperte para a vida e pare de sofrer”, Heloísa compartilha informações e exemplos que inspiram mudanças reais. A ideia é que, a partir dessas sugestões práticas, mulheres 50+ “voltem a gostar de quem enxergam diante do espelho”. Heloísa procura mostrar, através desse livro, que envelhecer não é o fim da linha e que nunca é tarde para recomeçar.
Segundo ela, pode ser uma etapa ainda mais interessante — em que a mulher não precisa mais provar nada a ninguém, apenas a si mesma. A obra também traz exemplos de mulheres mundialmente conhecidas – incluindo brasileiras – que ressignificaram a vida depois dos 50 anos, redefiniram propósitos e alcançaram sucesso.
A ideia de que aos 50, 60 ou 70 anos a mulher está no fim de sua trajetória, como se fosse tarde demais para sonhos e expectativas, está bastante desatualizada”, afirma a autora. “É claro que existe, sim, um período mais sombrio, em que muitas mudanças ocorrem ao mesmo tempo, mas o livro está aqui para ajudar a partir logo para a próxima fase: a libertação”.
Entre as dicas apresentadas em detalhes no livro, a autora destaca a importância de revisitar objetivos e sonhos, investir no aprendizado contínuo, no autocuidado e no autoconhecimento, fortalecer redes de apoio fazendo novas amizades e recuperando as antigas, redefinir relacionamentos, aprender a sair sozinha e a valorizar o tempo e o lazer. 50+ Desperte para a vida e pare de sofrer também fala sobre etarismo, autonomia financeira, requalificação e empreendedorismo.
Meu objetivo com esse livro de leitura fácil e rápida é que a mulher termine a última página já com vontade de fazer várias mudanças em sua vida, sempre priorizando sua saúde física, mental e financeira”, diz Heloísa Paiva.
O livro já está em pré-venda e seu lançamento acontece no dia 16 de novembro (domingo), às 15 horas, na Livraria Martins Fontes Paulista.
Palavra de Especialista
Cientistas sociais questionam a curva em U da felicidade
Por Heloísa Paiva*
Cientistas sociais e especialistas em longevidade dizem que as pessoas são felizes até os 20 e poucos anos, quando têm menos obrigações e sofrem menos pressão para ter uma carreira e um casamento de sucesso. A partir dos 30 anos, a felicidade começa a declinar e a tomar a forma da letra U. O “fundo do poço” acontece entre os 45 e 50 anos. A partir daí, pesquisadores dizem que as pessoas voltam a se libertar das pressões e a serem mais felizes.
Na última década se intensificaram estudos sobre a chamada “curva em U da felicidade”. Essa curva ilustra um padrão em que a satisfação com a vida – que costuma ser alta aos vinte e poucos anos – começa a cair depois dos 30 anos, atingindo o “fundo do poço” na meia-idade, por volta dos 45–50 anos. Depois dessa fase, pesquisadores argumentam que ela volta a subir ao longo do processo de envelhecimento.
Embora a felicidade possa parecer um conceito efêmero e subjetivo, ela tem sido mensurada exaustivamente desde a década de 1990. “Basicamente, descobrimos que as pessoas são mais infelizes na meia-idade. Você é feliz quando é jovem e é feliz quando é velho — esse é o formato do U”, diz David Blanchflower, especialista que atuou como membro do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra de 2006 a 2009.
Essa regularidade foi encontrada em muitos países e conjuntos de dados, sobretudo a partir de pesquisas como Gallup. Em análises mais recentes, Blanchflower volta a defender que a relação entre idade e bem-estar é tipicamente em U. Mas afirma que tem sido observada uma tendência preocupante: o braço esquerdo do U — que representa os jovens — não está mais apontando para cima. Isto porque, em todo o mundo, os jovens têm relatado um aumento da infelicidade. Blanchflower acredita que o advento dos smartphones e das mídias sociais pode ser o grande culpado.
O consenso, porém, não é absoluto. Pesquisadores como Nancy Galambos argumentam que o bem-estar na transição para a vida adulta é caracterizado por trajetórias diversas, com alguns jovens prosperando nesse período e outros fracassando ao tentarem enfrentar desafios normativos, como terminar os estudos e encontrar trabalho, ou ainda encontrar um par romântico.
A pandemia de Covid-19 também exerceu influência sobre os jovens, com aumento de 25% na prevalência global de ansiedade e depressão, de acordo com um resumo científico divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Algumas pesquisas mostram que os sintomas depressivos – indicativos de afeto negativo – costumam diminuir entre o final da adolescência até os 20/30 anos, embora as circunstâncias e histórias de vida contribuam para a diversidade nessas trajetórias. Sendo assim, isso afeta a curva em U de bem-estar e felicidade.
Estudo contesta a curva em U também entre pessoas que exercem profissões que dependem da vitalidade corporal — limpeza, manutenção, pesca, agricultura etc. O envelhecimento, nesses casos, traz quedas de capacidade física e risco de dores crônicas, o que pressiona o bem-estar.
Evidências mostram que trabalhadores mais velhos em funções fisicamente exigentes apresentam piores desfechos de saúde e cognição, o que afeta a satisfação com a vida e a empregabilidade. Sem “amortecedores” (qualificação, redes de proteção), é mais difícil que a felicidade reaja depois da meia-idade.
O que concilia as visões? A curva em U descreve um padrão médio em ambientes com proteção social, mercados de trabalho relativamente estáveis e trajetórias de saúde previsíveis. Quando esses amortecedores falham, o formato se distorce: pode ser mais difícil sair do fundo (meia-idade vulnerável) e/ou o início da curva pode se antecipar (juventude deprimida).
Em termos de políticas, três frentes aparecem recorrentes na literatura: 1. adaptar e qualificar trabalho para envelhecentes; 2. prevenção e cuidado em saúde mental na escola e nos serviços de atenção primária; 3. redes de proteção que suavizem riscos de renda e saúde ao longo do ciclo de vida.
Em resumo, a “curva em U” continua útil como heurística, mas é sensível ao contexto. Podem-se observar dois Us simultâneos: o U clássico da felicidade média e um “U invertido” da infelicidade, mais alto justamente onde faltam proteção e oportunidade.
Heloísa Paiva é jornalista, escritora e palestrante. Autora do livro ’50+ Desperte para a vida e pare de sofrer’, atua na promoção do protagonismo feminino em diferentes fases da vida. Contatos: heloisa.paiva@presspagina.com.br.
SERVIÇO:
50+ Desperte para a vida e pare de sofrer
Autora: Heloísa H. Paiva
Número de páginas: 124
Editora: Appris, selo Artêra
Preço de capa: R$ 49,00
Preço eBook: R$ 31,00
LANÇAMENTO:
QUANDO: 16/11 (domingo), às 15h
ONDE: Livraria Martins Fontes Paulista (Av. Paulista, 509, piso mezanino).




