Segundo o estudo Drinking games participation among university students: a systematic review, publicado na revista Journal of Substance Use em 2023, a prática de jogos de bebida é altamente prevalente entre estudantes universitários, com taxas de participação entre 65% e 92%.
Esse comportamento pode estar entre os fatores que impulsionam o consumo abusivo de álcool, cujo aumento foi registrado pelo levantamento do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), passando de 18,1% em 2010 para 20,8% em 2023.
No mês que marca o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo (20/2), o psiquiatra Arthur Guerra, do Núcleo de Álcool e Drogas (NAD) do Hospital Sírio-Libanês alerta para os riscos dessas práticas, que incentivam o consumo acelerado e exagerado de bebidas alcoólicas, aumentando as chances de intoxicação, danos físicos, comprometimento mental e, em casos mais graves, o alcoolismo.
Os jogos de bebida, por exemplo, promovem um consumo excessivo muitas vezes tratado como uma conquista entre os participantes. Esse abuso pode resultar em impactos para o fígado, coração e sistema nervoso central, bem como levar a situações de depedência química, que podem causar mudanças drásticas no comportamento, como agressividade, apatia ou dificuldades para manter relacionamentos saudáveis”.
Pesquisas apontam que os homens são os principais participantes e fatores como morar em alojamentos universitários ou participar de fraternidades aumentam a probabilidade de envolvimento nesses jogos. A principal motivação para aderir a essas práticas é social, seja para facilitar interações ou reduzir a pressão do grupo. “A busca por sensações e impulsividade são traços de personalidade frequentemente associados a uma maior participação em jogos de bebida e à aceitação de consequências negativas, como náuseas, vômitos e lapsos de memória”, acrescenta o especialista.
Em casos de dependência química, a equipe do NAD explica que é necessário mais de uma frente de atuação. “É importante unir o suporte psicológico e médico, como terapia cognitivo-comportamental e grupos de apoio, além de acompanhamento médico para controle da abstinência. Assim é possível auxiliar na recuperação e na prevenção de recaídas”, conlui Arthur Guerra.
Como identificar os sintomas da dependência
A psicóloga Ana Café, amiga dos Alcoólicos Anônimos do Rio de Janeiro há 24 anos, afirma que o alcoolismo traz prejuízos para a vida pessoal e social do indivíduo, como problemas de relacionamento, acidentes de trânsito e dificuldades profissionais são comuns entre aqueles que enfrentam a dependência.
Embora não haja comprovação científica de uma predisposição genética para o alcoolismo, é comum observar casos familiares da doença. Ela explica que o alcoolismo frequentemente surge como uma tentativa de preencher um vazio interno, evoluindo de uma fonte de prazer para uma condição de sofrimento. A psicóloga enfatizou a importância de reconhecer os sinais precoces da dependência alcoólica.
Um dos principais indicadores é o desenvolvimento de tolerância, onde o indivíduo necessita de doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito. Além disso, Ana Café alerta que o alcoolismo não se manifesta apenas em consumo diário; episódios de abuso esporádico também podem indicar um problema subjacente.
Impacto na vida pessoal e social
A psicóloga ressalta que, muitas vezes, o dependente não reconhece o impacto negativo do álcool em sua vida, reforçando a necessidade de conscientização e apoio. Ana Café destacou a eficácia dos Alcoólicos Anônimos (AA) como uma ferramenta poderosa na recuperação.
Mundialmente, o AA tem se mostrado uma das abordagens mais bem-sucedidas no tratamento do alcoolismo, oferecendo suporte contínuo e uma comunidade de apoio para os indivíduos em recuperação”, disse a especialista.
Ana Café reforça a importância de buscar ajuda ao reconhecer os sinais de dependência, procurando os recursos disponíveis, como os Alcoólicos Anônimos. Ela enfatiza que a recuperação é possível com o suporte adequado e o compromisso pessoal.
De acordo com um estudo da Fiocruz, os custos diretos e indiretos do consumo de álcool no país chegaram a R$ 18,8 bilhões em 2019, e são registradas 12 mortes por hora associadas ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Com Assessorias